Apesar do apelo de mães, faltam monitores para alunos com deficiência
Familiares denunciaram o risco da falta de profissionais antes do começo do ano letivo, mas foram ignorados
atualizado
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“Nossa, é difícil”, desabafou o estudante com deficiência Felipe Souza de Oliveira (foto em destaque) , de 17 anos, quando percebeu a falta de uma monitora para ajudá-lo na volta às aulas, neste ano letivo de 2023.
Apesar dos alertas e pedidos das famílias, novamente faltam monitores, educadores sociais voluntários e professores das salas de recursos para os alunos com necessidade específica nas escolas públicas do DF.
Felipe é diagnosticado com deficiência intelectual. Está matriculado Centro Educacional 6, de Ceilândia. Sem o apoio de um monitor, o estudante ficou bem nervoso e ansioso.
Os monitores ajudam os alunos com deficiência durante todo o período na escola, indo do aprendizado até o cuidado durante os recreios. Por lei, os estudantes com necessidade específica têm direito ao acompanhamento profissional.
Segundo a mãe de Felipe, a dona de casa Iris Souza de Araújo, 43, a presença do monitor é crucial para o aprendizado dos estudantes com deficiência.
“Fico triste. É um direito que eles têm e isso não pode ser negado. Não tem como meu filho ficar na escola sem o monitor. Ele me perguntou: ‘mãe, cadê a moça?’ Eu disse que não sabia”, contou.
Insegurança
Outros estudantes da rede pública vivem a mesma insegurança. É o caso de Filipe dos Santos Porto, 16, diagnosticado com paralisia cerebral estática.
A mãe do rapaz faleceu há aproximadamente 2 anos, vítima de Covid-19. Filipe é criado pela avó Josefa Araújo Gomes, 57 anos, costureira.
“Ele tem dificuldade para fazer atividades e ir para o banheiro. Filipe fica inseguro sem o monitor. A inclusão é só no papel. Na vida real, existe exclusão. É muito descaso”, desabafou dona Josefa.
Veja o relato das famílias:
O Metrópoles conversou e teve acesso a mensagens de outras mães aflitas pela falta de monitores. Por medo de perseguição, elas pediram para terem os nomes preservados.
Uma das mães não conseguiu deixar o filho na escola. “Não teve o acolhimento necessário. Alguns questionam o diagnóstico das crianças”, denunciou uma mãe.
Desmonte
Segundo as mães, o desmonte da educação, inclusive, começou em 2016, quando o professor da sala de recursos deixou de ser fixo e passou a ser volante, chegando a atender diversas escolas.
O problema ficou gritante na volta às aulas após a fase de isolamento social durante a pandemia de Covid-19. Diversas escolas fazem solicitação dos profissionais, mas os pedidos não são atendidos.
De acordo o diretor do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF), Samuel Fernandes, o Governo do Distrito Federal (GDF) deveria ter convocado monitores concursados. “Falta boa vontade e planejamento”, assinalou. Segundo Fernandes, o GDF busca a estratégia paliativa de contratação temporária de educadores sociais voluntários. E, mesmo assim, em número insuficiente.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Educação. Segundo a pasta, afirmou que está tomando medidas para resolver o problema, a exemplo da nomeação de 1800 novos monitores e selecionou 4,5 mil educadores sociais voluntários.
Leia a nota completa:
Atualmente, a rede pública de ensino do DF tem 13.799 estudantes com necessidades especiais que são auxiliados pelos monitores e Educadores Sociais Voluntários (ESVs). A Pasta conta com 533 monitores ativos, 485 salas de recursos, 88 salas de Apoio à Aprendizagem, 447 salas de equipes especializadas de apoio à aprendizagem e mais de 3,3 mil professores aptos a atuar nelas.
A Pasta ressalta que já selecionou 4.500 ESVs e que a distribuição deles é feita pela Coordenação Regional de Ensino de acordo com as necessidades das unidades escolares. Há ainda a previsão de ampliação do número de ESVs. Cabe ressaltar que, como é uma atividade voluntária, a atuação dos ESVs não depende só da convocação, mas do interesse do voluntário.
A SEEDF também ressalta que já foi encaminhado um pedido de autorização para a nomeação de 1.800 novos monitores, os profissionais efetivos que atuam no apoio escolar no ensino especial. O processo está em andamento na SEPLAD.
A Pasta esclarece que em alguns casos o atendimento não é individualizado e reforça que as necessidades da Educação Especial na rede pública de ensino do DF são frequentemente monitoradas para que todos os alunos sejam atendidos em sua totalidade. Todo estudante que tem direito de acordo com a legislação vigente será atendido pelo monitor ou pelo educador social voluntário. É importante destacar que atendimento do estudante da Educação Especial é contínuo, por isso pode surgir uma demanda para atendimento de novos alunos ao longo do ano que será avaliada individualmente.
A Pasta ressalta que desenvolve um trabalho colaborativo entre as diversas áreas da Pasta para construir de maneira conjunta quais serão as orientações para o atendimento dos estudantes com necessidades especiais.