Ao STF, Ibaneis diz que Torres quebrou confiança ao viajar antes do 8/1
No depoimento, o governador ainda disse que o então secretário de Segurança Pública do DF (SSP-DF) não tinha avisado sobre a data da viagem
atualizado
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O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), disse que caso a viagem de Anderson Torres para os Estados Unidos (EUA) não tivesse acontecido, as coisas poderiam ser diferentes no 8 de Janeiro. Ibaneis prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) como testemunha, nesta segunda-feira (13/5), no processo em que sete membros da alta cúpula da Polícia Militar do DF (PMDF) são réus.
Na avaliação do governador, haveria chance de impedir as invasões se Torres estivesse à frente do comando da segurança na Esplanada dos Ministérios. “Foi uma quebra de confiança”, avaliou Ibaneis. No depoimento, ele ainda disse que o então secretário de Segurança Pública do DF (SSP-DF) não tinha avisado sobre a data da viagem.
“Só soube que [Anderson Torres] estava lá nos EUA quando liguei”, afirmou. Em outros trechos do depoimento, o governador do DF também citou não ter conversado diretamente com ninguém da PMDF, e que o ex-secretário executivo da SSP Fernando de Souza não tinha experiência suficiente para a operação.
Questionado sobre a reunião em que a Polícia Federal alertou Fernando sobre a gravidade dos atos, na véspera dos ataques, Ibaneis respondeu que não soube desse encontro. As oitivas começaram às 14h e o governador foi o primeiro a falar. Em seguida, começou o depoimento de Ricardo Cappelli, interventor Federal do Distrito Federal entre 8 e 31 de janeiro de 2023.
Cappelli ressaltou, por exemplo, que “tudo aquilo que aconteceu começou com a montagem dos acampamentos”, lembrando que “eles são inéditos na história do Brasil”.
As audiências
Começou nesta segunda uma fase crucial do julgamento dos policiais militares réus em processo que apura omissão no 8 de Janeiro. Sete PMs foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por possibilitarem a execução dos atentados contra a democracia, no ataque às sedes dos prédios dos Três Poderes, em Brasília, e STF aceitou a denúncia.
A semana que começa com oitivas de testemunhas termina com os depoimentos dos oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Todos os sete réus serão ouvidos na sexta-feira (17/5), por videoconferência.
Veja o cronograma:
- Dia 13 – Audiência de instrução com testemunhas arroladas na denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Estão previstos depoimentos de Saulo Moura da Cunha, ex-diretor de Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin); Ricardo Cappelli, interventor Federal do Distrito Federal entre 8 e 31 de janeiro de 2023; Paul Pierre, diretor da Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados; Marcelo Canizares, secretário de Segurança Institucional do STF; e Ibaneis Rocha, governador do DF;
- Dia 14, às 10h – Oitiva das testemunhas arroladas pela defesa de Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF);
- Dia 15, às 10h – Oitivas das testemunhas de Klepter Rosa Gonçalves, também ex-comandante, e de Jorge Eduardo Naime, ex-comandante de operações;
- Dia 16, às 10h – Oitivas de testemunhas de Paulo José Ferreira, chefe interino do Departamento de Operações (DOP) no 8 de Janeiro, e de Marcelo Casimiro, então titular do 1º Comando de Policiamento Regional (CPR);
- Dia 16, às 14h – Oitiva das testemunhas de Rafael Pereira Martins, chefe de um dos destacamentos do Batalhão de Polícia de Choque da PMDF na data, e Flávio Silvestre de Alencar, major que chegou a ser preso duas vezes pela Polícia Federal (PF) no âmbito das investigações sobre supostas omissões;
- Dia 17, às 13h – Interrogatório dos réus.
Acusações
Os sete PMs foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República em 16 de agosto de 2023. Em fevereiro de 2024, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia por unanimidade.
A PGR acusa os oficiais de omissão no 8 de Janeiro. No entendimento da Procuradoria-Geral, os sete policiais que integravam a cúpula da PMDF poderiam ter agido para evitar a invasão às sedes dos Três Poderes, e a maior parte foi contaminada ideologicamente pelo contexto político extremista que levou ao episódio trágico. Provas inseridas na denúncia mostraram que vários militares se tornaram adeptos de teorias conspiratórias sobre fraudes eleitorais e de teorias golpistas, por exemplo.