Ao menos uma criança é sequestrada por mês no Distrito Federal
Histórias como a de Larissa de Almeida Ribeiro, 21 anos, não são pontuais. Autoridades policiais criticam falta de segurança
atualizado
Compartilhar notícia
A história mostra que casos envolvendo raptos de recém-nascidos no Distrito Federal não são pontuais. Além de Larissa de Almeida Ribeiro (foto em destaque), 21 anos, em 2019, outras 14 mães também passaram pela angústia de ter o filho levado de seus braços. Na prática, significa que pelo menos uma criança é sequestrada por mês na capital. Os dados computados até esta quinta-feira (28/11/2019) reforçam o temor dos pais com a segurança das crianças.
Segundo o levantamento da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF), a capital já igualou o número de casos registrados em 2018. Os números contabilizam as subtrações de incapazes em todo o Distrito Federal.
Entre os episódios mais recentes está o de Larissa. Internada no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) para dar à luz o filho, a jovem teve o bebê raptado por Dayane dos Santos, 23, que fingiu ser uma profissional de saúde da unidade para ganhar a confiança dela. O crime logo foi descoberto e, por sorte, o pequeno Miguel Pietro voltou aos braços da mãe.
Nem todas as vítimas tiveram a mesma sorte que Larissa. Algumas precisaram esperar anos para reencontrar os filhos. É o caso do sequestro de Pedro Júnior Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho – ocorrido em 1986. Levado da Maternidade Santa Lúcia, em Brasília, o então recém-nascido só reencontrou os pais biológicos 16 anos após o rapto. A suspeita de cometer o crime é Vilma Martins Costa, que criou o rapaz em Goiânia (GO).
38 anos de espera
O maior tempo de espera pelo reencontro após sequestro é de Luís Miguel, tomado da mãe em 11 de fevereiro de 1981. Naquele dia, o recém-nascido foi roubado dos braços da mulher logo após ela sair do Hospital Regional do Gama (HRG). Trinta e oito anos depois, a angústia chegou ao fim. Após seis anos de investigação policial, o filho de Sueli Silva, 56, foi encontrado. A confirmação veio de um exame de DNA.
Na época do desaparecimento, Sueli morava com um casal, que a encontrou na porta do HRG. Pediram que ela fosse ao orelhão ligar para a dona do orfanato para oferecer seu filho para a doação. “Ela disse que eu devia entregar meu filho para adoção. Caso contrário, ia mandar os meus irmãos para um abrigo de menores infratores”, conta.
“Implorei, supliquei, mas não me deixava falar, bateu o telefone e, quando voltei em direção ao carro, em prantos, meu filho já não estava lá”, lembra Sueli.
Fragilizada, ela permaneceu trabalhando e morando no mesmo local por mais de 20 anos. Nesse período, Sueli casou, teve outro filho, perdeu a filha mais velha após um choque anafilático e só conseguiu independência financeira em 2004, quando foi aprovada em um concurso público no Governo do DF.
Ela só se sentiu livre para procurar o filho em 2012. De lá para cá, após inúmeras visitas à Polícia Civil do DF, o reencontro finalmente ocorreu, 38 anos depois, em João Pessoa (PB), onde o rapaz estava vivendo desde então.
Sequestro no Hran
Em junho de 2017, a estudante de enfermagem Gesianna de Oliveira Alencar, 25, foi acusada de ter sequestrado o pequeno Jhony dos Santos Júnior da maternidade do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde o bebê estava com a mãe. A polícia encontrou a suspeita e conseguiu devolver a criança aos pais quase 24 horas depois.
Segundo policiais da Divisão de Repressão a Sequestro (DRS), Gesianna planejou o sequestro. Simulando uma gravidez, ela enganou a família e chegou a ir à unidade de saúde dias antes da ação. Voltou no dia 6 de junho de 2017, entrou às 7h com o nome falso de Juliana e carregou a criança de apenas 13 dias de vida, por volta das 11h, em uma bolsa.
Conic
Há dois anos, outro episódio de rapto de criança ganhou repercussão no DF. Em uma clínica do Conic, no Plano Piloto, Cevilha dos Santos, 44, abordou a mãe da criança três dias antes do sequestro e ofereceu um emprego. As duas então seguiram ao centro da cidade para fazer um exame admissional necessário para a suposta vaga. Enquanto a mãe fazia o teste, a suspeita desapareceu com o bebê de apenas 3 meses.
Cevilha foi encontrada cerca de sete horas depois, em Planaltina de Goiás, enquanto estava em um táxi com destino a Planaltina (DF). Ao ser abordada pelos policiais, a mulher tentou fugir e ameaçou matar a pequena Valentina. A criança, no entanto, foi devolvida aos pais sem ferimentos.
A sequestradora foi morta dois anos depois, em Sobradinho. O feminicídio ocorreu na residência onde ela vivia com o companheiro, Macsuel dos Santos Silva, 35. O homem não tem antecedentes criminais e é suspeito pelo assassinato, segundo informações da Polícia Civil do DF. Ele está foragido.
Medidas
Em resposta a mais um caso de subtração de incapaz ocorrendo em hospital do DF, a Secretaria de Saúde informou ter colocado em andamento um projeto a fim de implantar uma central para monitoramento dos hospitais da rede pública. Ao Metrópoles, a pasta afirmou que o HRT goza de “rigorosa vigilância”. Após o episódio dessa quinta (28/11/2019), o local terá protocolos de segurança revistos para aprimorar o trabalho e garantir que situações como essa não se repitam.
“Serão cobrados o uso obrigatório de crachá por servidores, estudantes e professores, além da identificação dos prestadores de serviços, dos visitantes e acompanhantes. Também será restrito o trânsito dos mesmos apenas àquela área, não sendo permitida a entrada de ninguém sem a identificação adequada”, finalizou em nota enviada à reportagem.
Nesta sexta-feira (29/11/2019), novamente acionada pelo Metrópoles, a própria Secretaria de Saúde informou que nenhum hospital regional da cidade conta com câmeras de segurança.