Antes de crime na Asa Sul, idoso viu homem apertar pescoço da mulher
Servidor aposentado disse que presenciou Jonas Zandoná agredindo Carla Grazielle dois dias antes de ela ser jogada do 3º andar de prédio
atualizado
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O depoimento do servidor aposentado do Senado Salmon Lustosa Elvas, 75 anos, confirmou a rotina de agressões e ameaças no apartamento 308 do Bloco T da 415 Sul. Na noite de segunda-feira (6/8), Jonas Zandoná, 44 anos, foi acusado de jogar a esposa Carla Grazielle Rodrigues Zandoná, 37, do terceiro andar do imóvel. A mulher morreu e ele está preso. Dois dias antes, segundo o idoso, o homem teria tentado esganar a vítima. “O vi apertando o pescoço dela”, disse, em depoimento.
À Polícia, Jonas confidenciou que tinha uma relação amorosa com Salmon “em segredo”, uma vez que ele era casado com Carla. O idoso nega. Ele é o único que possuía renda entre os três. Pais de um jovem de 19 anos, Jonas e Carla não trabalhavam. Quem convivia com eles diz que o casal bebia todos os dias.
Em 2017, uma denúncia anônima chegou até a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), de que ambos estariam explorando financeiramente o idoso. Mas Salmon prestou depoimento na ocasião, disse que apenas os ajudava. O suposto “caso” entre os dois homens era de conhecimento da vizinhança.
No dia do crime, Salmon estava em casa. Mas disse que dormia no momento e não viu quando Jonas teria jogado a mulher da janela. Preso em flagrante, o acusado pelo crime teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça nessa terça-feira (7). O juiz Aragonê Nunes, porém, mandou ele ficar separado dos demais detentos supostamente por apresentar problemas psiquiátricos.
Em coletiva à imprensa nesta quarta (8), o delegado-chefe da 1ª DP (Asa Sul), João de Ataliba Neto, disse que a cena do crime foi alterada pela Polícia Militar. “A PM revirou o apartamento onde ocorreu o crime. Não é o procedimento correto. As gavetas e as roupas ficaram reviradas. A perícia vai constatar se essa ação, de fato, atrapalhou na coleta de provas”, destacou.
Constantemente agredida, em 2017, Carla registrou uma ocorrência contra Jonas por injúria, ameaça e lesão corporal. Ele teria tentado enforca-lá e a xingou de “rapariga”. O homem responde a mais duas denúncias, feitas em 2015 e 2016, pelos mesmos crimes.
O filho do casal disse informalmente à polícia que eles sempre brigavam e que a mãe era constantemente agredida. “Ele (Jonas) se esconde atrás da bebida. Diz que estava bêbado e não se lembra de nada. Esse discurso foi usado por ele sempre que foi questionado sobre as agressões”, assinalou o delegado. Preso na 1ª DP, o homem chegou a confessar a outro detento que estava detido porque matou a esposa.
No dia em que Carla foi jogada da janela, ele estaria embriagado. Não prestou socorro à vítima. Pelo contrário. Continuou em casa como se nada tivesse acontecido enquanto a mulher agonizava debaixo do bloco. Ele já tinha quebrado o maxilar dela em uma outra agressão.
Em um intervalo de 48 horas, o Distrito Federal registou três casos de feminicídio. O brutal assassinato de Adriana Castro Rosa Santos, 40, morta com dois tiros na cabeça pelo o ex-companheiro, o policial militar Epaminondas Silva Santos, 51, foi o mais recente, ocorrido nessa terça-feira (7), dia em que a Lei Maria da Penha completou 12 anos.
Os números chocam: até agora, em 2018, o DF registrou 19 feminicídios, mesmo número de 2017 inteiro. O registro de ocorrências de agressões contra mulheres que não acabaram em morte também aumentou. Nos seis primeiros meses de 2018, houve 7.169, contra 7.029 no mesmo período de 2017. Cerca de 79% dos casos ocorrem na casa da vítima.