Ana Priscila ficou em solitária para “resguardar integridade física”
Penitenciária esclareceu o motivo de ter colocado Ana Priscila em solitária. Ela reclamou de direitos humanos na cadeia
atualizado
Compartilhar notícia
Ana Priscila Azevedo, presa por participação em atos golpistas, levantou denúncias na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre as condições do encarceramento. Ela reclamou dos direitos humanos na cadeia por ter ficado oito meses em uma solitária. Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape-DF), a medida foi necessária para “resguardar a integridade física” da detenta.
“Até alguns dias atrás, eu fiquei reclusa em uma solitária, sem direito ao banho de sol. Fiquei doente, comi mal e minha imunidade foi reduzida, como era de se esperar. Nunca tive registro de mau comportamento. Não fosse meu advogado, provavelmente estaria até hoje isolada, mesmo sabendo que nossa lei não prevê tal punição”, disse, aos deputados da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF).
Os distritais se comprometeram a pedir informações para a Seape sobre a prisão da golpista e a Comissão de Direitos Humanos, presidida por Fábio Felix (PSol), prometeu investigar as denúncias levadas pela depoente. Ao Metrópoles, a Secretaria detalhou que Ana Priscila deu entrada na Penitenciária Feminina do DF (PFDF) em 11 de janeiro e “foi mantida separada da massa carcerária para resguardar a sua integridade física e psicológica, observadas as regras de segurança da unidade”.
“Além disso, todos os direitos de matriz constitucional inerentes aos custodiados do sistema prisional foram preservados, bem como a participação em atividades disponibilizadas pela administração a todos os reeducandos.”
Convocada pela ala bolsonarista, Ana Priscila chegou para depor em meio a boatos de que seria uma infiltrada da esquerda nos protestos violentos. Como ela não foi presa logo após o 8 de Janeiro, a própria direita se virou contra a líder, a acusando de ser uma “infiltrada” que teria agido para imputar crimes aos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Isso gerou revolta e ameaças.
A tese, no entanto, foi rebatida por Ana Priscila, que admitiu já ter criticado Bolsonaro, mas contextualizou.
Assista:
“Esse vídeo está sendo veiculado como se fosse atual, mas é importante deixar claro que essas falas são de 2018, 2019. Na ocasião, veiculou-se uma matéria em que o Bolsonaro tinha dito que ele não era anticomunista e que o Hugo Chaves era uma esperança para a América Latina. Eu pensei que ele seria o infiltrado, estaria usando as Forças Armadas ali, o Exército Brasileiro.”
Ana Priscila continuou a fala defendendo o ex-presidente. “Os anos se passaram e eu entendi aquela fala do Bolsonaro, que era uma coisa do passado, que ele estava mesmo ali alinhado com o conservadorismo. E passei, inclusive, a amá-lo e a respeitá-lo como chefe de Estado, presidente da República”, afirmou.
Outros trechos da fala de Ana Priscila
Atualmente presa, a depoente ainda avaliou que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi “inerte” no 8 de Janeiro. Segundo ela, a corporação “não fez absolutamente nada”.
“O que eu vi foi uma polícia inerte, que não fez absolutamente nada. Sou nascida e criada em Brasília e nunca vi a Praça dos Três Poderes desguarnecida. Não tinha contingente policial nenhum. Eu nunca vi isso na história, isso nunca aconteceu. A polícia não fez nada, estava inerte. As viaturas e os policiais estavam parados. O que eu vi foi um contingente ínfimo. Fui revistada em uma única barreira, simples, pouquíssimos policiais.”
A golpista também jogou no Exército a culpa pela manutenção das manifestações golpistas em frente aos Quartéis-Generais.
“Os acampamentos ficaram montados há tanto tempo sem ninguém falar nada em sentido contrário. Por isso, ousamos pensar que éramos bem-vindos. Bastaria um soldado raso nos avisar que deveríamos sair e teríamos ido embora. Ao contrário, vários foram os chamados para que fosse mantida a mobilização popular”, disse, em depoimento inicial.
Ana Priscila mantinha canais no Telegram com mais de 50 mil participantes, incentivando invasões. Mensagens obtidas pelo Metrópoles mostram a movimentação violenta pelo golpe de Estado em grupos administrados pela mulher.
Os grupos mudavam constantemente de nome, eram excluídos por determinação judicial e retornavam à ativa, “do zero”. Neles, Ana instigava, e manifestantes de direita mandavam fotos de armas, ameaças e planejamentos para o 8 de Janeiro.
As mensagens mostravam claramente a intenção de invadir os prédios públicos, como acabou acontecendo naquela data, e a liderança da depoente desta quinta, que nega esse posto. Bolsonaristas escreveram: “Ana, mantenha-se escondida, você é peça-chave” e “Você é nossa heroína, luz, abriu nossos olhos e pintou nosso coração de verde-oliva”. Em outro momento, bradaram: “Já passou da hora de invadir os Três Poderes”, “Invade com caminhões, quebra tudo”.