Amigos de jovem que morreu após sair de rave dão versões conflitantes
Quatro colegas de Ana Carolina Lessa foram ouvidos nessa terça pela polícia e apresentaram narrações diferentes sobre o estado da moça
atualizado
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A morte da universitária Ana Carolina Lessa ainda é cercada de mistério. Nessa terça-feira (26/6), amigos da jovem de 19 anos foram ouvidos na 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro), onde o caso é apurado. Alguns relatos de quem esteve com ela na festa rave são conflitantes e indicam que os investigadores terão trabalho para esclarecer a tragédia.
A universitária morreu por volta das 15h dessa segunda-feira (25), no Hospital São Matheus, no Cruzeiro. Na noite de sábado (23), ela esteve em uma festa rave chamada Arraiá Psicodélico, na zona rural do Recanto das Emas. O evento tinha autorização para ser realizado. A jovem chegou a ser dada como desaparecida, mas foi localizada na tarde de domingo, na casa de um colega, em Ceilândia.
O estudante Lucas Brito, 21, foi o responsável por levar a moça da festa para uma casa no Pôr do Sol, em Ceilândia. Ele conta ter chegado ao evento aproximadamente às 22h de sábado e só encontrado Carolzinha – como ela era chamada pelos mais próximos – no domingo, por volta das 14h.
Segundo o rapaz, em função do estado de Ana Carolina, ele teria ligado para a melhor amiga da estudante, Jaissa Barbosa da Silva, 19, para perguntar o que deveria fazer. Em seu relato, Lucas disse ter pensado em levá-la para sua casa, mas, como não havia ninguém no local, seguiu para a residência de um outro colega, no Pôr do Sol. Lá, a garota teria recebido roupas novas, tomado banho e almoçado.“Ela estava deitada numa canga, com os olhos arregalados e a boca inchada. Comprei água e dei minhas sandálias para ela calçar, porque estava descalça. Como a Carol estava de calça leg, não consegui ver na hora os ferimentos na perna. Vi somente um arranhão no braço”, contou Lucas.
Ainda conforme a narração de Lucas, Ana Carolina teria contado a ele ter ingerido LSD e ecstasy ainda no início da festa. “Algumas pessoas a viram bastante alterada por volta de meia-noite, quando a festa mal tinha começado”, afirmou.
Apesar de Lucas ter dito que localizou Ana Carolina desacordada na tarde de domingo, um outro colega da jovem deu outra versão. De acordo com Isaac Barbosa da Silva, 20, nesse horário a universitária aparentava estar bem. “Até me assustei, porque nas condições nas quais a vi à noite, no sábado, achei que ela já estivesse em casa. Estava um pouco machucada, mas parecia bem melhor. Inclusive até dançando um pouco”, disse.
Segundo Isaac, Ana Carolina só parecia descontrolada na madrugada. “Ela derrubou várias mesas do bar. Chegava a correr e se jogar com tudo na grade e depois começou a rastejar no chão feito cobra“, detalhou.
Comoção no velório
No velório da estudante, realizado na noite dessa terça (26) no cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, o clima era de comoção e incredulidade. Amigos e familiares ainda tentam entender o que aconteceu com a jovem e cobram uma apuração rigorosa.
O pai, Marcelo Coelho, chegou a Brasília pela manhã, vindo da cidade de Capim Grosso (BA). Para ele, a história “está muito mal contada”. Coelho exige saber se a filha realmente usou drogas ou foi forçada a consumir.
A gente conversava muito por celular. Eu falava muito de drogas e ela dizia ser uma coisa abominável. Esses meninos que a levaram para casa precisam explicar melhor. Se você vê uma pessoa passando mal, o que você faz? Eles deviam ter chamado o Samu, os bombeiros ou levado minha filha para o hospital
Marcelo Coelho, pai de Ana Carolina
Uma amiga de Ana Carolina, que esteve no endereço onde a jovem foi encontrada, duvida da participação dos rapazes em qualquer suposto crime. “Quando a gente chegou, ela veio andando da casa até o carro, estava bem. Um deles, inclusive, o que entrou em contato, mandou a localização e falou pra gente buscá-la”, disse a moça, após pedir para não ter o nome revelado.
Duas vezes atendida
A rave chamada Arraiá Psicodélico contava com autorização da Administração Regional do Recanto das Emas. Mesmo assim, os organizadores não estão livres da possibilidade de responderem por omissão. Segundo frequentadores, Ana Carolina chegou a ser levada duas vezes para um posto médico montado no local, mas, mesmo aparentando estar fora de si, foi liberada e voltou para a festa.
O Metrópoles tentou falar com os promotores do evento, mas eles não atenderam nem retornaram os contatos.
A estudante de enfermagem teve duas paradas cardíacas e falência renal no hospital. No laudo médico, constam hematomas e escoriações nas pernas e braços, além de ferimentos na região genital e no ânus. Os médicos suspeitam que ela tenha sido estuprada.
O Instituto Médico Legal (IML) coletou material e enviou para análise. O exame vai apontar se havia traços de substâncias ilícitas e álcool no organismo da estudante. Segundo a família, Ana Carolina nunca utilizou drogas. Assim, os parentes suspeitam que, caso seja confirmada a ingestão de substâncias psicotrópicas, a menina tenha sido forçada a usá-las.
“Minha filha nunca usou nada. Ela ingeria bebida alcoólica como muitos jovens da idade dela, mas droga, nunca”, disse a mãe, Valda Lessa, em depoimento na 3ª DP.
O corpo de Ana Carolina Lessa será sepultado às 11h, no Campo da Esperança de Brasília.
Confira, abaixo, vídeos com depoimentos da mãe da universitária e da amiga Gláucia Silva ao Metrópoles: