Amigo de médico morto em abordagem nega ter apontado arma para PM
Segundo advogado do policial reformado, seu cliente admite, porém, que encostou arma contra o peito após ver “carro em atitude suspeita”
atualizado
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Um dia depois de o médico endocrinologista Luiz Augusto Rodrigues (foto em destaque), 45 anos, levar um tiro na cabeça e morrer durante abordagem da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) na 315 Sul, ainda há dúvidas sobre o crime.
O advogado do policial reformado que estava com o endocrinologista na hora do crime disse que seu cliente garante não ter apontado arma para a PM. Já a corporação alega que um soldado fez os disparos diante de “risco iminente” e após ver os dois em atitude suspeita.
“Ele nega terminantemente isso. Porque um policial, sargento reformado, com mais de 30 anos de experiência, apontaria a arma para os próprios colegas de farda? Não tem motivo. Ele não estava ali praticando nenhum crime, não tinha o porquê fazer isso”, afirma Pedro Júlio Melo Coelho.
Ainda segundo o advogado, o PM reformado entrou na ocorrência na condição de testemunha. “Ele não consta como suspeito ou envolvido. No dia do fato, foi conduzido até a DP e ouvido. A arma dele foi apreendida para a perícia a fim de constatar que ele não efetuou qualquer disparo“, informou.
Pedro disse que, agora, o inquérito vai apurar as circunstâncias do crime para ser apreciado pelo Ministério Público. “Tudo está sendo investigado pela delegacia, por enquanto. Será instaurado um inquérito policial militar também para acompanhar o caso”, ressaltou.
Oito anos de amizade
O sargento e o médico eram amigos havia oito anos, de acordo com informações do advogado. Antes da abordagem militar, o PM aposentado comentou, em seu testemunho, que havia ido ao bar com a esposa dele e Luiz, para assistir ao jogo do Flamengo contra o Ceará, na noite de quarta-feira (27/11/2019). Ao término da partida, a esposa do policial se afastou para comprar um lanche e o sargento acompanhou Luiz até o o carro, que estava estacionado ao lado do estabelecimento.
“Ele comentou que estavam conversando com a porta do carro do médico aberta e um veículo escuro passou em atitude suspeita. Naquele momento, ele retirou a arma da cintura e empunhou na posição de segurança, com ela encostada no peito, pronto para uma eventualidade como um assalto, ou algo parecido”, disse o advogado.
Logo depois, uma viatura caracterizada da Polícia Militar apareceu na quadra comercial e certamente os policiais devem ter visto ele com a arma na mão. “Meu cliente conta que os PMs pararam o carro imediatamente gritando: ‘Polícia, polícia’. E o sargento levantou os dois braços na mesma hora, soltou a arma no chão e respondeu: ‘Também sou polícia’. Ele já deitou no chão com os braços abertos, sem reação”, acrescentou.
O PM reformado narrou que, após se deitar no chão, ao levantar a cabeça, ele viu o Luiz caído. “Ele diz que, com a adrenalina e gritaria, não ouviu nenhum tiro por causa da confusão. Apenas pediu aos policias: ‘Olha o meu amigo, eu sou policial’. E foi levado algemado do local.”
O tiro que atingiu Luiz Augusto saiu de uma carabina, da Imbel, calibre 5.56. O Corpo de Bombeiros foi acionado e constatou a morte no local.
O soldado que disparou o tiro que acertou o médico foi afastado das ruas. Ele se apresentou na 1ª DP (Asa Sul) e, por isso, não foi preso em flagrante.
Por meio de nota, a Polícia Militar afirmou que o tiro foi dado “diante do risco iminente”. Afirmou ainda que “os policiais não tiveram alternativa e efetuaram dois disparos, que atingiram um dos homens”. A Secretaria de Segurança Pública diz que apura o caso. “Só após as conclusões, o GDF irá se manifestar”, destacou a pasta.