Ameaças a profissionais de saúde aumentam 1.120% em 5 anos no DF
Em 2022, já foram registrados, pelo menos, 42 casos de agressões contra a categoria. Maior parte das ocorrências é classificada como ameaça
atualizado
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Nos últimos seis anos, as ocorrências de ameaças a profissionais de saúde durante o horário de trabalho aumentaram 1.120% no Distrito Federal. Em 2017, foram computados cinco registros ao longo do ano. Em 2021, esse número chegou a 61.
Os dados são da Polícia Civil do DF (PCDF) e foram obtidos pelo Metrópoles, via Lei de Acesso à Informação. São investigados desacato, denúncias de injúria, difamação, contravenções — infrações penais consideradas de menor gravidade —, calúnia, lesão corporal e importunação sexual. Levando em conta todos os tipos de violência, o ano de 2021 foi o que mais teve casos. Em 2022, pelo menos 42 agressões contra a categoria foram registradas. De todas as modalidades, as ameaças estão no topo da lista.
O episódio mais recente teve como vítima um técnico de enfermagem do Hospital Regional de Planaltina (HRPL). Fúlvio Fernando da Silva Lavareda, 36 anos, foi agredido durante o plantão da madrugada de 15 de maio.
Técnico de enfermagem é agredido durante plantão em hospital do DF
Segundo relatos recebidos pelo Metrópoles, o homem que acompanhava uma paciente chegou à unidade de saúde por volta das 5h, carregando-a nos braços. Ao solicitar atendimento, o acompanhante disse que a mulher estava morrendo. O agressor, então, impediu que o profissional realizasse a triagem da paciente e, logo depois, xingou o técnico de enfermagem e o agrediu com um soco no olho.
A ocorrência foi registrada na 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina), como lesão corporal e injúria. O profissional de saúde passou por exame de corpo de delito, que apontou contusão e luxação no braço esquerdo.
Outros casos
Segundo o Conselho Regional de Enfermagem do DF (Coren-DF), em 6 de maio, um paciente agrediu fisicamente uma técnica em enfermagem e dois agentes comunitários na Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 de São Sebastião. Irritado com a suposta demora no atendimento, o homem partiu atacou os profissionais e, em seguida, saiu do local.
Em março, a enfermeira Maria do Livramento, da UBS 5 de Taguatinga, foi alvo de um paciente que entrou na unidade e exigiu receita de um psicotrópico. Após a funcionária informá-lo de que, para obter o pedido médico, ele deveria passar por uma consulta, o homem se revoltou. A companheira do paciente chegou ao local e começou a agredir a profissional, que precisou ser encaminhada ao IML, para fazer exame de corpo de delito. Esse caso é investigado pela 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro).
“Nunca imaginei que fosse passar por uma situação dessas. Sempre tive minha vida correta e nunca me envolvi em nada desse tipo. Acordei às 3h da madrugada tremendo e com minhas mãos geladas. Tive de passar por atendimento médico e tomar medicação. Tenho medo de que eles voltem e façam coisas piores comigo”, lamentou a funcionária da UBS 5 na época do ocorrido.
“Estou em pânico”, diz enfermeira do DF agredida com tapa no rosto
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Recanto das Emas, em 4 de janeiro, outra enfermeira levou um soco da acompanhante de uma paciente, enquanto atuava na classificação de risco. A mulher ficou irritada com a falta de um médico. Na época, a profissional de saúde falou sobre a situação.
“Estou me sentido muito vulnerável. Eu vou ter de voltar para o meu ambiente de trabalho, para a classificação de risco. A gente escuta xingamento, ameaça, mas, desta vez, aconteceu isso. Como eu vou voltar? É muito difícil”, pontuou a vítima, que preferiu não se identificar.
“Enquanto não houver segurança nas unidades de saúde, esses casos vão continuar se repetindo. Portanto, apelamos às autoridades para que apresentem um plano de segurança para proteger os profissionais de saúde do DF”, assinala o presidente do Coren-DF, Elissandro Noronha.
Análise
Para o especialista em administração pública Roberto Piscitelli, o aumento das ocorrências é visível em outras áreas da sociedade. Ele afirma que a pandemia de Covid-19 intensificou as tensões entre os cidadãos.
“As pessoas ficaram confinadas por um longo período, relacionaram-se menos entre si, e isso fez com que esse lado individualista aflorasse mais. Vale destacar que a pandemia contribuiu para o aumento de violência do tipo, mas não justifica. [A pandemia] piorou os relacionamentos”, salienta.
Segundo Piscitelli, para reverter a situação, é preciso iniciar um processo de punição e prevenção. “Temos que mudar os padrões e ter um sistema de repressão mais efetivo para os responsáveis. Puni-los de forma efetiva. Mas não é uma situação que pode se resolver a curto prazo. É necessário um esforço muito grande das autoridades e das próprias pessoas”, completa.
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