Alunos de escola no DF dizem em dever que Bolsonaro “vai matar viados”
Em colégio no Guará, estudantes do 3º ano do ensino fundamental desenharam em cartazes o político portando armas de fogo
atualizado
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Uma atividade feita por alunos de um colégio da rede pública no Guará I chamou atenção de quem foi às urnas no local nesse domingo (28/10). No mural de uma das salas usadas como seção eleitoral, havia cartazes feitos por estudantes do 3º ano do ensino fundamental com a afirmação de que votariam em Jair Bolsonaro (PSL). O motivo? O presidente eleito “vai dar armas para as crianças, adultos e velhos” e “matar os viados [sic]”, segundo os alunos, que têm em média 8 anos de idade.
Na tarefa, intitulada “se eu pudesse votar”, eles demonstraram apoio tanto ao político vitorioso quanto ao candidato derrotado, Fernando Haddad (PT). Porém, foram as declarações e desenhos sobre Bolsonaro que despertaram a atenção dos eleitores, porque neles o deputado federal aparecia portando armas de fogo, como pistolas e metralhadoras.
Num dos cartazes, um estudante disse que votaria no político porque “ele parece que vai ser um bom presidente, mesmo que ele tenha preconceito”.
“Tenho o costume de reparar nos murais das escolas. Quando vi, achei inacreditável. Não entendi a intenção, se era uma forma de protesto ou um descuido”, contou uma eleitora que votou na Escola Classe 2. Ela não quis se identificar.
O Metrópoles esteve nesta segunda-feira (29/10) no centro de ensino, onde estudam crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental. Os cartazes foram removidos logo após a chegada da reportagem. A diretora do colégio, Cindia Carpina Cury, disse que a tarefa ocorreu na última sexta-feira (26), em uma turma do turno vespertino.
“Fui pega de surpresa hoje. Não vi na sexta. A maioria dos cartazes é sobre o Bolsonaro e alguns têm informações sobre homofobia, mas não sei se as crianças têm esse comportamento nem conheço o contexto em que elas vivem”, afirma. A diretora acrescentou que o trabalho da escola tem objetivo de estimular os estudantes ao respeito mútuo. “Não fazemos qualquer tipo de apologia. Inclusive, questões de gênero não discutimos, pois é a família que decide”, contou.
De acordo com Cindia, a professora responsável pela atividade quis saber as opiniões dos estudantes sobre a eleição e não verificou as respostas delas antes de fixá-las no mural. A diretora disse também que vai reunir os alunos autores das declarações e desenhos sobre Bolsonaro, os pais deles e outros docentes para debater o teor da tarefa.
Essas crianças me falaram que têm pensamento radical. É preciso respeitar opinião, mas o que denigre o ser humano não é considerável. Por isso, faço questão de levar esse assunto à sala de aula, intervir pedagogicamente
Cindia Carpina Cury, diretora da Escola Classe 2 do Guará
A educadora Andréia Santos, 40 anos, é mãe de um aluno de 7 anos do 1º ano na Escola Classe 2 e demonstra preocupação sobre as respostas. “Os professores devem analisar o tipo de ambiente em que os estudantes vivem, eles são o futuro. Quero meu filho aprendendo coisas boas. Procuro ensinar o contrário, não coisas sobre armas e homofobia. Acho que isso influencia muito na formação das crianças”, afirmou.
A corretora de imóveis Valdenice Moura, 40, engrossa o coro. Duas filhas dela, de 8 anos, estudam no centro de ensino. “Elas já me perguntaram o que são gays. Cabe aos pais e professores explicar. Não existe criança boba. Acho que os cartazes não deveriam ter ficado no mural, mas não acredito que os professores passaram a eles essas informações”, disse.
Debate
A psicopedagoga Luciane Oliveira salientou a importância de se analisar o contexto social e familiar no qual os estudantes estão inseridos. “Não podemos simplesmente criticá-las. Crianças reproduzem o que ouvem sem nem saber o que realmente significa. Elas podem associar a figura do Bolsonaro a arma, mas não quer dizer que tenham essa posição crítica em relação a ele”, explicou.
A especialista reforçou a necessidade de discussão entre professores, alunos e familiares. “A escola é um espaço aberto, temos de ouvir e discutir para entender o nível de pensamento das crianças e desconstruir algumas ideias, o que estão trazendo de casa”, destacou.
Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE-DF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), não houve denúncia referente aos cartazes fixados em seção eleitoral.