Alunos de escola do DF se mobilizam contra professor por comentário racista
Colégio público do Recanto das Emas emitiu nota e repudiou atitude do docente. Estudantes fizeram abaixo-assinado
atualizado
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Comentários com teor preconceituoso de um professor do Centro de Ensino Médio 804, no Recanto da Emas, mobilizaram estudantes e ex-alunos da instituição na noite dessa quarta-feira (19/8). A publicação considerada racista ocorreu no perfil pessoal do docente no Facebook.
Em umas das postagens, que ganhou enorme alcance graças ao repúdio do alunos, o professor de espanhol Murilo Vargas faz “piada” com o penteado estilo black-power de uma mulher negra. “Cosplay de microfone”, disse.
Veja a publicação:
Diante da repercussão, a escola onde o docente trabalha se pronunciou em nota, repudiando os comentários.
“Essas declarações não refletem o pensamento da escola, que sempre prezou pela diversidade e pluralidade de ideias e procurou sempre se pautar pelos princípios da liberdade, como escola formadora do pensamento crítico-reflexivo, independente de partidarismo político, ideologia, raça ou credo”, diz trecho da nota divulgada.
Confira a íntegra:
“O CEM 804 do Recanto das Emas vem a público, por meio de suas redes sociais, manifestar o seu repúdio à declaração com teor que pode ser considerado como racista, proferida por um de seus professores no Facebook particular.
Essas declarações não refletem o pensamento da escola, que sempre prezou pela diversidade e pluralidade de ideias e procurou sempre se pautar pelos princípios da liberdade, como escola formadora do pensamento crítico-reflexivo, independente de partidarismo político, ideologia, raça ou credo.
O CEM 804 se orgulha também de ser formado por uma comunidade com imensa pluralidade racial, tendo se destacado inclusive com projetos de valorização da cultura afrodescendente, como o projeto Consciência Negra, que é realizado anualmente e abraçado por toda a comunidade.
A nossa escola ostenta, com imenso orgulho, o título de escola inclusiva, pelo trabalho que vem desenvolvendo no intuito de reduzir as diferenças, as limitações, proporcionando a todos os alunos um convívio amigável, respeitoso e harmonioso.
Mais uma vez reiteramos que a escola não compactua com tais postagens e que, durante o exercício da função deste professor, nunca houve denúncia de atitude semelhante que tivesse chegado formalmente até à direção da escola. Tal fato nos entristece e o CEM 804 se solidariza com aqueles que se sentiram ofendidos de alguma forma.”
Abaixo-assinado
Poucas horas após a postagem, um abaixo-assinado cobrando o afastamento do professor foi criado por iniciativa de estudantes e já contava com mais de mil assinaturas. Por volta das 17h30 desta quinta-feira (20/8), o documento somava 1.800 assinaturas.
Roberta Beijo, formada em 2018 na escola e uma das signatárias do abaixo-assinado, diz não ter sido a primeira vez que o docente expressa pensamentos preconceituosos. “Não me surpreendeu, o que surpreendeu foi ter sido algo público”, diz.
“Não só comigo, ele já teve problemas com outros alunos. Depois ele sempre vinha com ‘Era só uma brincadeira’. Vários alunos já o questionaram sobre comentários de duplo sentido, com teor homofóbico, com teor preconceituoso”, pontua a jovem.
Pedindo para ter a identidade preserva, um dos atuais alunos de Murilo Vargas diz já ter visto o educador fazendo comentários preconceituosos. “É extremamente intolerante em relação à opinião política. Fora essa postura nas rede sociais, que realmente são ofensivas. Ele leva sim as opiniões discriminatórias para a sala de aula. Eu já ouvi alguns comentários intolerantes”, destaca o estudante.
O Metrópoles apurou que mais alunos se uniram e estão colhendo outras provas para que o caso seja levado até a Polícia Civil do DF.
Até a última atualização desta matéria, o professor Murilo Vargas não tinha retornado os contatos da reportagem. O espaço segue aberto a manifestações.
OAB quer afastar docente
A Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Distrito Federal (OAB/DF), tomou conhecimento do caso e pretende adotar providencias contra o docente.
Em contato com o Metrópoles, o secretário-geral da comissão de igualdade racial da OAB-DF, Beethoven Andrade, informou que irá entrar em contato com a Secretaria de Educação para defender o afastamento imediato do servidor.
“Não condiz com a função [ensinar] que ele desempenha ter tais pesamentos e atitudes”, dispara Andrade.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação informa que investigará o caso.
“A Secretaria de Educação do Distrito Federal informa que irá apurar o assunto. A escola já se posicionou em relação ao ocorrido. A Secretaria de Educação reafirma a sua missão educacional de assegurar o respeito à diversidade e à pluralidade na rede pública de ensino e, com isto, contribuir para que se propague em toda a sociedade”, disse a pasta.