Aluno que estava em acidente com ônibus escolar: “Saímos desesperados”
Duas mulheres que estavam em carro de passeio morreram na hora e 16 estudantes ficaram feridos. Eles saíram pela janela do coletivo
atualizado
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Entre os feridos no acidente na BR-251, na manhã desta terça-feira (12/3), nove foram transportados para o Hospital Regional do Paranoá. Levado à unidade de saúde e acompanhado da mãe, Ysak Ramos, 16 anos, disse acreditar que o ônibus escolar estava na velocidade normal da pista – 60 km/h – e contou que o carro de passeio trafegava em zigue-zague.
“O motorista tentou jogar o ônibus para o lado, mas acabou batendo de frente. Começou a sair muita fumaça. Quebramos a janela de emergência e todo mundo saiu desesperado. Vi muita gente machucada, mas a segurança do ônibus é boa, e a maioria estava de cinto”, afirmou o estudante, que deu entrevista autorizado pela mãe.
O acidente ocorreu no Km 7,8, na região do Capão Seco, no Paranoá, por volta das 7h. O ônibus escolar que levava 41 estudantes, entre 14 e 17 anos, para o Centro Educacional do PADF, que fica em área rural, bateu de frente com um Corolla. Duas mulheres estavam no carro de passeio. Elas morreram na hora.
São elas: Carla Machado da Silva Lemos, 39 anos, e Rosimeire Rodrigues da Silva, 32. Elas ficaram presas às ferragens. As duas trabalhavam no Complexo Penitenciário da Papuda, em São Sebastião, como técnicas em higiene dental e iam dar expediente. Por volta das 13h, os corpos foram retirados e encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML). A pista foi liberada no mesmo horário.
Dezesseis estudantes ficaram feridos — a Polícia Rodoviária Federal diz que foram 18 vítimas. Desesperados, muitos pais compareceram ao Hospital Regional do Paranoá para acompanhar os filhos. Enquanto alguns alunos chegaram imobilizados em macas, outros conseguiam caminhar. De acordo com os bombeiros presentes no HRP, nenhum deles em estado grave.
Um professor foi ao local para recolher informações e passar para os pais. Ele disse estar muito abalado com o acidente. De acordo com o profissional, a escola atende estudantes do ensino médio, de manhã, e fundamental, à tarde. Por conta do acidente, não houve aula nos períodos matutino e vespertino.
O zelador Veronildo Joaquim Pires, 48, teve a sobrinha e a filha envolvidas no acidente. As meninas estudam no CED PADF há cinco anos. A esposa dele foi avisada pela escola do acidente. Assim que souberam, foram ao local da colisão, onde ficaram cerca de 20 minutos.
“Cheguei lá e as duas estavam deitadas no chão, chorando. Fiquei pensando no pior”. Ele conta que ficou mais aliviado ao vê-las bem. Uma delas machucou a boca.
“Fiquei assustado. Quero conversar com elas depois para saber se houve algum erro”, diz o zelador. Segundo ele, as meninas já fizeram reclamações sobre o motorista do ônibus escolar, José Eduardo de Almeida, 60, que não se feriu. Ele passou por teste do bafômetro.
Alonso José de Barros, 30, levou o filho de 17 anos para o Hospital Regional do Paranoá. “Ficamos preocupados. Achamos que está tudo seguro, mas não”, ressaltou. O adolescente quebrou o nariz e terá que passar por cirurgia. No entanto, conforme conta o pai, está bem emocionalmente. “Ele me disse que se fosse ontem [segunda] teria sido muito pior, pois vários alunos estavam em pé no ônibus”, completou.
Com autorização da mãe, Paloma Rania, 15, também deu entrevista ao Metrópoles. Ela afirmou que a maioria dos estudantes usava cinto de segurança no ônibus. A jovem não se queixou de problemas com o veículo. “A gente só ouviu o baque e todo mundo correndo, vidros quebrados. Não vi direito como aconteceu tudo. Ficamos muito assustados”, garantiu.
Outra aluna, de 16 anos, confirma a versão. Segundo ela, a monitora que estava no veículo sempre obriga os alunos a usarem cinto. “Bati minha boca no banco da frente e machucou”, relatou, após sair da emergência do Hospital Regional do Paranoá.
Veja vídeos do resgate:
Como foi o acidente
De acordo com os bombeiros, o carro de passeio vinha no sentido Brasília quando colidiu frontalmente com o ônibus, que seguia na faixa contrária. A pista é dupla. As circunstâncias da colisão ainda não foram esclarecidas. A capacidade do ônibus é de 45 passageiros, e havia 41 pessoas no momento do acidente. Há marcas de frenagem no asfalto.
A vice-diretora da escola, Uilda da Silva, contou que a colisão ocorreu a cerca de três quilômetros da instituição de ensino: “Parei ao ver o acidente. Vi que eram os meus alunos e eles foram todos transportados com vida a diversos hospitais. Vamos continuar acompanhando o estado de saúde deles e dar o suporte necessário”.
Ônibus regular
Geraldo Pereira, 64, é o responsável pela Pollo Turismo, que presta serviço ao GDF: “Temos contrato com a Regional do Paranoá desde 2018 e está em vigor até 2020. Sou responsável por uma frota de 30 coletivos que fazem esse trajeto todos os dias, e nunca registramos qualquer acidente.”
De acordo com ele, o motorista do ônibus está na empresa há quatro anos. “Todos os nossos condutores passaram por exames recentemente e estão aptos a fazer o serviço”. A última vistoria do coletivo, segundo ele, foi realizada pelo Detran no início deste ano.
O motorista teria dito a ele que a condutora do veículo vinha em zigue-zague e teria invadido a pista contrária ao tentar ultrapassar um caminhão. Mas apenas após a perícia a causa do acidente será esclarecida.
O Metrópoles confirmou que o ônibus está em situação regular, possui autorização para fazer transporte escolar e não tem infração de trânsito.
Segundo a Secretaria de Educação, entre as vítimas, 16 sofreram escoriações leves, e todos passam bem. A pasta confirmou ainda que ônibus pertence à empresa Pollo Viagens e Transporte, prestadora de serviço contratada pelo GDF.
“O contrato é válido por 30 meses e foi renovado no final de 2018. O veículo passou por todas as vistorias exigidas pela legislação, está com a documentação em dia e regular. Tem autorização para rodar dentro do DF e fazer o transporte escolar”, informou a secretaria.
Já a pasta de Saúde informou que 16 pacientes envolvidos no acidente na manhã desta segunda (12), na BR-251, deram entrada em três hospitais do DF: um foi levado para o Hospital Regional de Planaltina com pequenas escoriações; nove foram encaminhados para o Hospital da Região Leste (antigo Hospital Paranoá) com lesões leves; e os outros seis pacientes foram transportados para o Hospital de Base.