Aluno autista que teve braço quebrado por PM está em choque, diz mãe
Caso aconteceu na 3ª, em escola especial do Guará. Após o episódio, estudante teve de passar por cirurgia para colocação de pinos de titânio
atualizado
Compartilhar notícia
Mãe do estudante autista que teve o braço quebrado por um professor temporário que também é policial militar, a universitária Angélica Rego Soriano, 35 anos, contou ao Metrópoles que o filho está em “choque emocional” desde o ocorrido e que, no hospital, gritava quando “qualquer homem se aproximava dele”.
O adolescente de 15 anos estuda no Centro de Ensino Especial 1 do Guará. Ele teve o braço fraturado pelo terceiro-sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Renato Caldas Paranã, 41. O caso ocorreu na última terça-feira (7/11), durante uma crise do jovem, que tem transtorno do espectro autista (TEA) de nível 3 e de desenvolvimento global (TGD) não verbal.
Após a situação, a vítima foi levada para o Hospital de Base, onde passou por cirurgia para colocação de pinos de titânio. O paciente recebeu alta na sexta-feira (10/11).
Angélica relatou que o militar teria imobilizado o adolescente, em vez de tentar acalmá-lo. “A vice-diretora disse que pediu várias vezes para [Renato] parar, mas ele não soltava meu filho. E ele não prestou socorro. Mesmo com meu menino no chão, com o braço quebrado, o professor continuava brigando. Então, outros educadores ajudaram e acionaram os bombeiros”, contou a mãe do estudante.
Ao Metrópoles Angélica detalhou que, após o episódio, um grupo de mães disse a ela que Renato “era muito ríspido com crianças especiais”. “Meu filho não é uma pessoa agressiva, mas, ultimamente, estava resistente. Cheguei a ir à escola dele para saber o motivo disso, porque ele estava diferente. Toda terça-feira não queria ir para o colégio, justamente nos dias em que tinha aula com esse professor”, completou Angélica.
Depois do caso, a mãe recebeu apoio da escola e que a vice-diretora passou mal, porque havia pedido ao professor que soltasse o adolescente, mas Renato não atendeu ao pedido da chefe. “Ela ficou muito nervosa. Agora, está todo mundo abalado e triste com o que aconteceu”, disse Angélica.
“Além disso, a gente estava em um momento de dificuldade, no Hospital de Base, quando uma mulher se apresentou como Patrícia e disse ser conhecida do Renato. Ela disse para compreendermos o que ele fez e que quem sofria, na verdade, não era meu filho, mas o professor. Ela começou a nos oferecer dinheiro, mas não queremos isso. Queremos justiça. Esse policial é completamente despreparado para agir com uma criança”, desabafou a universitária.
Professor temporário desde agosto
O Metrópoles apurou Renato começou a dar aulas na escola em agosto último, segundo o Portal da Transparência do Governo do Distrito Federal, pois recebeu proventos como professor em setembro. O terceiro-sargento da Polícia Militar (PMDF) estava na função para substituir uma professora de informática, que está afastada.
Na data do ocorrido, o estudante estaria agitado; por esse motivo, alguns funcionários da escola tentaram acalmá-lo. Apesar de ordens em contrário da vice-diretora da escola, Renato teria se aproximado do adolescente e o segurado “com muita força pelos braços”, segundo o boletim de ocorrência do caso, registrado pela mãe do estudante.
A vice-diretora também contou à polícia que pediu para o PM interromper a ação, mas ele não teria acatado as ordens da gestora. Ao sair para pedir ajuda a uma psicóloga, a educadora ouviu um “grito muito alto”, que a fez voltar. Nesse momento, encontrou o adolescente caído ao chão, com o braço quebrado.
Ainda em depoimento, a vice-diretora acrescentou que “o jovem não é um menino agressivo, mas é muito agitado, pois uma das características do autismo dele é não deixar que o toquem”. Mesmo assim, “que o adolescente nunca teve problema algum no colégio, sendo essa a primeira vez que ocorreu algo tão grave”, segundo ela.
Afastamento da escola
Em nota, a SEEDF informou que o professor foi afastado. “Por meio da Coordenação Regional de Ensino do Guará, a direção realizou o primeiro acolhimento [do aluno] e, imediatamente, o Corpo de Bombeiros foi acionado, o qual prestou os primeiros atendimentos ao estudante. Em seguida, ele foi encaminhado para o hospital, acompanhado pela diretora, por uma professora e pela avó”, comunicou a secretaria.
“A pasta informa que o professor foi imediatamente afastado, e o caso é sendo apurado pela Polícia Civil e pela Corregedoria da SEEDF, que tomará todas as medidas cabíveis […]. A SEEDF reforçou que repudia qualquer ato de violência e que prestará todo o auxílio necessário ao estudante”, completou o órgão.
“Acidente”
Em nota, a PMDF considerou o caso um “acidente” e informou que a situação “ocorreu após o professor, concursado da Secretaria de Educação do Distrito Federal, ter sido chamado para ajudar na contenção de um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nível 3 não verbal”.
“[O estudante] estava em crise nervosa, agredindo outros alunos e funcionários. Durante o atendimento, ele teve uma segunda crise nervosa, desequilibrou-se e caiu. Antes da queda, o professor tentava acalmá-lo e, por isso, segurava o braço dele, visando impedir que se machucasse ou ferisse outro aluno. A lesão teria ocorrido nesse contexto. O professor, de imediato, realizou os primeiros-socorros e solicitou apoio do Corpo de Bombeiros Militar”, comunicou a PMDF.
A corporação mencionou, ainda, que a Emenda Constitucional (EC) nº 101/2019 autoriza acumulação de cargos públicos por militares. “A PMDF esclarece que tomou ciência da situação por meio desta demanda [do Metrópoles]. No entanto, frisa-se que o ocorrido não se deu em atividade policial militar”, enfatizou.
A defesa de Renato Caldas Paranã não havia sido localizada até a mais recente atualização desta reportagem. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.