Alerta: UTIs para pacientes da Covid-19 no DF estão perto da lotação máxima
Restam poucas vagas no Hran, regional de Santa Maria e Hospital Universitário de Brasília
atualizado
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É dramática a situação de algumas unidades de saúde do Distrito Federal que estão atendendo pacientes graves contaminados pelo novo coronavírus. Enquanto a Secretaria de Saúde apresenta um total de 60,75% dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTIs) em uso por infectados pela Covid-19, hospitais como o de Santa Maria (HRSM) e da Asa Norte (Hran) tem taxas de ocupação de 80% e 90%, respectivamente. O sinal de alerta está aceso.
Os dados, atualizados às 16h25 dessa sexta-feira (12/06), são da própria Secretaria de Saúde e foram extraídos da Sala de Situação do DF, que monitora as 372 vagas disponíveis em hospitais públicos e particulares. No período analisado, dos 90 leitos de UTIs do HRSM, 72 estavam ocupados. No Hran, unidade de referência no tratamento dos pacientes com o novo coronavírus no DF, são 20 leitos, estando 18 ocupados.
Mas não são apenas os dois que tem um alto índice de pacientes com Covid-19 nas UTIs. Com 12 leitos, o Hospital Universitário de Brasília (HUB) só tinha uma vaga ainda disponível. As outras 11 estavam ocupadas por pacientes infectados em estado grave.
Na outra ponta, há, por exemplo, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Núcleo Bandeirante. Dos 42 leitos de terapia intensiva reservados para pacientes com coronavírus, 21 estavam ocupados nessa sexta. A melhor situação era a do Hospital de Campanha do Mané Garrincha. Desde sua inauguração, segundo dados da Secretaria de Saúde, nenhum dos 20 leitos de UTI foi usado. A taxa de ocupação de toda a unidade é de 40%.
Já no Hospital de Ceilândia (HRC), cidade onde há o maior número de infectados e de mortes pela Covid-19 em todo o Distrito Federal, são apenas 10 leitos, estando quatro ocupados.
Confira os dados:
Cadê os leitos?
O presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico), Gutemberg Fialho, critica a postura da Secretaria de Saúde, que, para ele, não tem agido com transparência em relação aos números de leitos durante a pandemia de Covid-19.
“O governo sempre diz que tem tantos leitos. Daí, fomos ao Hran, onde deveriam ter 20 leitos, como eles anunciaram, e só tinham 10 em funcionamento. Os outros ainda estavam em montagem. Como a responsável não quis fazer da forma errada, mandaram ela embora”, afirma o presidente do SindMédico. “Entrou outro no lugar e só conseguiu colocar seis para funcionar. É a gente apontando e o governo correndo para consertar”, completou.
Para resolver a situação das unidades com capacidade em UTIs quase esgotada, Fialho defende um melhor uso do Hospital de Campanha do Mané Garrincha e a abertura de outra unidade, em Ceilândia, como planeja o governo. “Se estão nessa situação [as unidades no limite], onde estão os mais de 300 leitos que existem? Por que não construir um hospital de campanha também em Ceilândia, que realmente será necessário, com leitos que não estão sendo usados?”, questiona.
Explicação
De acordo com o diretor-geral do Complexo Regulador da Secretaria de Saúde do DF, major-bombeiro Petrus Sanchez, o motivo para que algumas unidades estejam mais cheias do que outras é o tipo de tratamento oferecido em cada uma delas.
“Mesmo os leitos sendo destinados a pacientes com Covid-19, cada caso tem um perfil diferente. Por esse motivo não conseguimos equalizar todas as unidades com a mesma distribuição e volume de pacientes. Há casos em que o paciente precisa de um suporte de hemodiálise, mas não é feito naquela unidade. Em outro, a situação é grave, por isso não é possível transferir, pois o quadro do paciente pode ficar instável”, explica o diretor.
Para o major, a situação do Hran é justificada por ter sido a primeira unidade a ter o tratamento contra a doença no DF, além de ser a unidade com suporte para os casos mais graves. Já em Santa Maria, uma das razões apontadas por ele é a proximidade com a região do Entorno, mas Petrus Sanchez não determinou o número de pessoas das cidades goianas atendidas ali.
Situação de guerra
Na tarde desta sexta-feira, servidores do Hospital de Base informaram ao Metrópoles que houve orientação da chefia para evitar colapso e ocupação de todos os leitos para pacientes da Covid-19. Segundo comunicado interno, a área responsável pelo tratamento de casos de coronavírus, com 45 leitos, está cheia. A situação é classificada como “de guerra” contra a Covid-19 na unidade.
Mesmo com altas, há previsão de fila de 24 horas. A recomendação é para liberar leitos tão logo seja possível. Serão separadas duas enfermarias com quatro leitos isolados: uma com respiradores e outra sem. A medida não será feita no 7º andar, atualmente reservado para os pacientes com o novo coronavírus, pois juntar as máquinas poderia resultar em pane ou queda de energia, segundo laudo técnico, uma vez que a engenharia do hospital não teria feito a troca dos cabos e quadros.
Ainda conforme o aviso, as cirurgias eletivas serão suspensas a partir deste sábado (12/06). A recomendação é esvaziar o hospital. Por isso, a ordem é dar alta para os casos possíveis. A ideia é manter no máximo 50% da ocupação. O comunicado determinou, ainda, o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados, sob pena de punição para quem descumprir.
Rede privada
Apesar de não estar com lotação alarmante, como algumas unidades públicas, os dados de ocupação geral da rede particular também chama a atenção. Do total de leitos de UTIs “comuns”, estão ocupados 72,99%; dos reservados para tratamento da Covid-19, o índice é de 79,07%.
Segundo o diretor-geral do Complexo Regulador da Secretaria de Saúde, o total de leitos ocupados é alto porque o sistema privado tem autonomia para dar continuidade às cirurgias eletivas. Major Petrus Sanchez afirma que, quando os números de procedimentos forem reduzidos, as vagas disponíveis devem aumentar.
O mesmo ocorre, segundo ele, nos hospitais públicos: se os leitos de Covid-19 ultrapassam 60% da ocupação, os gerais ficam com 85,96% de emprego efetivo de pacientes.