Alerta: a cada sete horas, uma pessoa é picada por escorpião no DF
Até o dia 22 de junho, 618 casos foram registrados pela Secretaria de Saúde, 25% a mais do que as 495 ocorrências no mesmo período de 2018
atualizado
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Uma preocupação que cresce a cada dia: o número de pessoas socorridas após levar uma picada de escorpião aumentou cerca de 25% no Distrito Federal em 2019, comparado ao primeiro semestre de 2018. Até o último dia 22 de junho, a Secretaria de Saúde do DF havia computado 618 casos, ou seja, um brasiliense é vítima do peçonhento a cada sete horas. No ano passado, no período equivalente, o registro foi menor: 495 incidentes.
O Ministério da Saúde registrou, em 2018, 156.702 ocorrências em todo o país. Em 2017, foram 125.229; e em 2016, 91.722. Segundo a pasta, não se pode atribuir o aumento a um único fator. Deve-se considerar que a espécie Tityus serrulatus, que mais causa acidentes no Brasil, se expandiu para um número maior de cidades. Além disso, destacou outros pontos, como o aumento da ocupação irregular nas grandes cidades.
A Vigilância Ambiental é responsável por promover ações de controle e prevenção no Distrito Federal. Caso seja constatada presença de escorpião dentro de residência, o serviço pode ser acionado pela população por meio dos seguintes números: (61) 2017-1343 ou 160.
Israel Martins, biólogo da pasta, afirma que o trabalho não se limita apenas à captura dos escorpiões. “É preciso identificar as condições que favoreceram o aparecimento de animais peçonhentos na casa da pessoa. No geral, também indicamos algumas medidas, como instalação de telas”, acrescenta.
Baratas são a principal alimentação de escorpiões. No entanto, conforme destacado por Martins, o uso de insecticidas pulverizantes é contraindicado: o produto provoca irritação nos aracnídeos, que se dispersam pela casa. “O melhor seria um inseticida sólido, mas isso é apenas uma medida adicional, que deve ser usada em último lugar. A prevenção é a principal solução”.
Morte
De acordo com a Secretaria de Saúde, não houve óbito no ano passado. No entanto, na última sexta-feira (28/06/2019), a morte de Christian Souza de Jesus, 4 anos, gerou grande repercussão sobre a situação no Distrito Federal.
Picado enquanto dormia em sua casa, na QNF 20 de Taguatinga, o menino foi levado ao Hospital Regional da cidade (HRT). Apesar de ter sido prontamente medicado, ele não resistiu e faleceu por volta de 16h50 do mesmo dia.
“A quantidade de veneno que ele recebeu foi muito grande. Inchou as mãos e as pernas, teve hipotermia. Às vezes, ele ficava se debatendo e delirando. Era horrível”, relembrou a mãe da vítima, Lorraine Silva de Jesus, 32. Segundo a família, o garoto sofreu 15 paradas cardíacas.
Casos recentes
O caso de um aluno da rede pública do DF picado por escorpião dentro da sala, em março, chamou atenção para a instituição. Com um corredor reservado especificamente para guardar entulho, a Escola Classe da 106 Norte não recebia, desde 2014, uma visita da Secretaria de Educação para recolhimento dos equipamentos quebrados.
A vítima, um estudante do 5º ano, guardava o material dentro do estojo quando sofreu a ferroada. “Ele ficou paralisado na hora. Foi na ponta do dedo dele”, contou Erika de Paula, mãe da criança.
Erika foi chamada e levou o filho para ser atendido no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), sem saber qual foi a espécie de escorpião que picou o menino. “Demorou muito para sair o resultado dos exames, porque me disseram que a única máquina que faz a análise do sangue estava com vários problemas”, reclamou a mãe. O menino ficou em observação por um dia e foi liberado.
Em junho, Luiz Paulo Rodrigues, 31, foi atacado enquanto assistia a um filme exibido no Multicine Cinemas do Santa Maria Shopping. Ele relatou ter sentido muita dor em decorrência da picada. Disse ainda que chegou, inclusive, a “gritar de dor no meio da exibição”.
“Tirei um momento do meu dia para relaxar e decidi ir assistir ao filme. Inicialmente, levaria meu sobrinho, mas, de última hora, ele não pôde me acompanhar. Procurei um lugar na sala, me sentei e, pouco tempo depois, comecei a sentir uma dor muito forte e não sabia de onde vinha e o que tinha provocado essa dor”, contou o administrador. “Eu gritava de dor e cheguei a assustar as pessoas que estavam na sala.”
Chocados com os gritos de Luiz Paulo, os demais presentes procuraram ajudá-lo. Quando acenderam as lanternas do celulares, as pessoas descobriram que o homem havia sido picado por um escorpião. “Assim que percebi do que se tratava, pedi socorro aos funcionários do cinema, mas eles demoraram para me ajudar”, reclamou.
O que fazer?
Segundo o professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília (UnB) Paulo César Motta, crianças e idosos são mais vulneráveis ao se tratar do efeito do veneno. Embora a maioria dos acidentes com o animal peçonhento seja leve, é recomendado pela Secretaria de Saúde do DF que a vítima procure hospitais de emergência ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
O Centro de Informações Toxicológicas está disponível para dar as primeiras orientações, por meio do telefone 0800 644-6774.
“É um animal muito resistente. Quase não tem predadores naturais e vive apenas em áreas urbanas: bueiro, caixas de esgoto e entulho”, detalhou Motta. “Venenos químicos tampouco costumam ser eficazes. Nesse ponto, métodos mecânicos são melhores, como chineladas.”
Por se tratar de um animal que se adapta facilmente, os acidentes, segundo o docente, podem ocorrer ao longo de todo o ano. A época mais propícia, porém, é a chuvosa.
O escorpião-amarelo (Tityus serrulatus) é a espécie no DF que causa grande parte dos casos severos, diz Motta. Como as fêmeas se reproduzem sem necessidade de acasalamento, de 3 a 20 filhotes a cada geração, a proliferação do aracnídeo é intensificada.
Prevenção
Na área externa do domicílio:
- Manter limpos quintais e jardins, não acumular folhas secas e lixo domiciliar;
- Acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes apropriados e fechados e entregá-los para o serviço de coleta;
- Eliminar baratas, aranhas, grilos e outros pequenos animais invertebrados, fonte de alimento;
- Evitar entulhos de obras de construção civil e terraplanagens, superfícies sem revestimento, umidade, etc;
- Preservar os inimigos naturais, aves, pequenos macacos, quatis, lagartos, sapos e gansos (as galinhas não são agentes controladores eficazes dos escorpiões, pois possuem hábitos diurnos enquanto os escorpiões, noturnos);
- Evitar queimadas em terrenos baldios, para evitar o desalojamento;
- Remover folhagens, arbustos e trepadeiras junto às paredes externas e muros;
- Manter fossas sépticas bem vedadas, para evitar a passagem de baratas e escorpiões;
- Rebocar todas as paredes e muros, eliminando vãos ou frestas.
Na área interna do domicílio:
- Vedar soleiras de portas com rolos de areia ou rodos de borracha;
- Reparar rodapés soltos e colocar telas nas janelas;
- Telar as aberturas dos ralos, pias ou tanques;
- Telar aberturas de ventilação de porões e manter assoalhos calafetados;
- Manter berços e camas afastados, no mínimo 10 cm, das paredes e evitar que mosquiteiros e roupa de cama permaneçam em contato com o chão;
- Manter todos os pontos de energia e telefone devidamente vedados;
- Em local muito arborizado, fechar portas e janelas da residência ao entardecer;
- Manter fechado armários e gavetas;
- Examinar roupas e calçados antes de usá-los, principalmente quando tenham ficado expostos ou espalhados pelo chão.
Locais do DF com soro antiescorpiônico disponível:
- Hospital Regional de Brazlândia;
- Hospital Regional de Sobradinho;
- Hospital Regional da asa Norte;
- Hospital Regional de Taguatinga;
- Hospital Regional de Santa Maria;
- Hospital Regional do Paranoá;
- Hospital Regional de Samambaia;
- Hospital Regional do Guará;
- Gerência Regional de Saúde Sul;
- Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais de Ceilândia.