Alagamentos destroem carros e motoristas cobrarão prejuízos na Justiça
No entendimento de moradores de áreas mais afetadas, como a Asa Norte, GDF teria sido negligente ao não adotar medidas preventivas
atualizado
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Os danos provocados pelas fortes chuvas do fim de semana no Plano Piloto continuam a aparecer nesta segunda-feira (22/04/19). Moradores da 402 Norte denunciam estragos a veículos e a prédios da quadra e reivindicam ações do Governo do Distrito Federal.
O servidor público Felipe de Angelis, 43, viu o carro ser invadido pela água na garagem de casa, no Bloco G, por volta das 16h desse domingo (21/04/19), e não culpou a chuva. Para ele, a enxurrada foi reflexo da negligência do poder público.
“Sempre que chove tem alagamento e, desta vez, foi pior. Não é coisa isolada, mas o governo nunca fez obras estruturantes por aqui, só paliativas”, queixa-se Felipe, que, nesta segunda (22/04/2019) ainda não havia conseguido guinchar o veículo da garagem, pois havia lama no local.
Sem saber se o seguro do carro lhe garantirá o reparo total, ele aguarda a decisão do condomínio e da prefeitura da 402 Norte para saber se entrará com ação individual pelos prejuízos. “O dano não foi só aos veículos, foi à parte elétrica e estrutural do edifício. Como morador, serei signatário da ação coletiva que o condomínio deve entrar contra o GDF”, indica.
Drenagem arrastada
A prefeita da 402, Lysa Lobo, contudo, é cautelosa ao endereçar as medidas judicias a serem tomadas. “Vamos discutir entrar com uma ação: cada condomínio deve ingressar com uma também, mas, primeiro, temos de convocar assembleia”, explica.
Ela também é síndica de quatro prédios na quadra e detalha que, além dos danos à garagem do Bloco G, houve rachaduras em uma parede de saída de carros no Bloco I, além de elevadores submersos no Bloco T. “Temos ofícios que datam de 2013 aos órgãos competentes, bem como pedidos pessoais. Entra governo, sai governo e os projetos [de melhorar a drenagem da região] não saem do papel”, reclama.
Uma das propostas existentes que poderiam resolver ou mitigar os problemas da região é o Drenar DF, antigamente conhecido como Águas do DF. Desde meados do governo de Agnelo Queiroz (PT) ele é discutido como solução para os recorrentes alagamentos no Plano Piloto e em Taguatinga, ao custo de R$ 173 milhões.
No entanto, a licitação foi questionada pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-DF) e pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) por suspeita de uso de certidões de capacidade técnica falsas pelas construtoras vencedoras do certame. Diante da gravidade das denúncias, o Tribunal de Contas do DF (TCDF) estabeleceu condições para a assinatura dos contratos e ainda não deu o sinal verde.
Estragos variados
No começo da tarde desta segunda o GDF interditou as tesourinhas do Plano Piloto com risco de alagamento. A medida surgiu após a tempestade do dia anterior e atingiu as passagens da 202, 203, 209, 210 e 711 Norte.
Além disso, o governo reativará as equipes de plantão da Novacap para atender as ocorrências de emergência. A médio e longo prazos, o GDF decidiu revisar a licitação de atualização do sistema de drenagem das chuvas. As medidas foram anunciadas durante coletiva de imprensa, nesta segunda (22/04/2019), pelo governador em exercício, Paco Britto (Avante), ao lado de secretários e presidentes de empresas públicas.
Segundo o Executivo, as tesourinhas mais problemáticas são as da 402 Norte, 110 Norte, 109 Norte e 406 Norte. Paco explicou que a interrupção será feita conforme o clima. Em caso de chuva forte, equipes do Departamento de Trânsito (Detran-DF) serão deslocadas para os pontos. Os agentes irão bloquear o acesso às vias.
Versão oficial
O Governo do DF afirmou, por meio da Subsecretaria de Relações com a Imprensa, que as redes fluviais de toda a capital estão “em constante manutenção” e atribuiu os incidentes registrados ao excesso de chuvas que “sobrecarregou o sistema”. O GDF ainda reconheceu que as redes da cidade estão subdimensionadas “especialmente nas quadras de finais 2, 10 e 11 da Asa Norte.”
O governo assegurou ainda que antes dos períodos chuvosos a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) “intensifica a limpeza do sistema de drenagem de águas pluviais em áreas mapeadas como possíveis pontos de alagamentos, como na Asa Norte”. Por ano, a empresa gasta cerca de R$ 5 milhões com esse serviço e todo cidadão pode solicitar atendimento por meio da ouvidoria.
Sobre o Drenar DF, o GDF alegou que o projeto não saiu do papel por problemas na aprovação de órgãos ambientais e urbanísticos e questionamentos do TCDF. “Outro impeditivo para o início imediato das obras é a necessidade de ajuste de projetos e a ausência de recursos”, conclui.