“Ainda me sinto culpada”, diz mulher sequestrada na Rodoviária do DF
“Fico muito mal, me sinto culpada até hoje porque eu poderia ter evitado”, comenta mulher sequestrada por lotação pirata
atualizado
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A jovem que foi sequestrada na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, por um motorista e um cobrador de lotação pirata disse se sentir culpada pelo ocorrido. A vítima foi mantida em cativeiro em Campos Lindos, município de Cristalina (GO), durante dois dias.
“Fico muito mal, me sinto culpada até hoje porque eu poderia ter evitado tudo. Era a minha vida em risco. Sentia medo também porque achei que nunca mais iria ver minha família, meu namorado”, afirmou a jovem, cuja identidade será preservada.
Segundo a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o crime ocorreu em 21 de junho deste ano, mas só foi divulgado nesta semana porque os policiais ainda não haviam identificado todos os criminosos. Apontado como um dos suspeitos, Rubens Brayner Moraes Cardozo, de 33 anos, se entregou nesta quinta-feira (24/8).
O homem fazia transporte pirata junto ao segundo suspeito do sequestro, Marcos Rogério Junqueira, 50 anos, que segue foragido. Ambos tiveram a prisão preventiva decretada.
A mulher embarcou em lotação pirata após o término do expediente noturno e, ao chegar à Rodoviária do Plano Piloto, foi impedida de desembarcar, momento em que o sequestro foi anunciado pelos motorista e cobrador. As portas traseiras do veículo estavam sem as maçanetas internas, o que impediu a fuga.
No ano passado, a vítima se mudou para Brasília buscando realizar seus sonhos e ter uma vida melhor. Na noite do crime, ela acabou perdendo o ônibus de volta para casa. “Logo em seguida, eles [criminosos] passaram me oferecendo para ir para a rodoviária. Eu já tinha pegado lotação outras vezes. Achei que seria tranquilo, mas, infelizmente, não saí daquele carro naquele dia”, conta.
Veja o cativeiro onde a vítima ficou escondida:
Segundo a funcionária, os homens usavam facas grandes, daquelas que normalmente são usadas em churrascos. Armados, eles a ameaçavam constantemente, afirmando que iriam matá-la. “Eu tive muitas chances de fugir, porém eu travei na hora. Não conseguia pensar em nada. Eles falavam que se colaborasse com eles, iriam me soltar”, relembra.
Cárcere privado
De acordo com a PCDF, a vítima foi levada ao cativeiro, em Goiás, onde passou a primeira noite em companhia dos autores. Na manhã do dia seguinte, a família recebeu pedido de resgate.
No decorrer do dia, o resgate foi pago, em desacordo com as orientações da Divisão de Repressão ao Sequestro (DRS), e a vítima não foi libertada. “Minha família pagou o resgate, mesmo a polícia dizendo que não, mas foi porque eles estavam me ameaçando. Eles saíram para sacar o dinheiro e falavam que iam me liberar. Fiquei no porta malas, mas não me soltaram”, relatou a mulher.
A vítima contou ao Metrópoles que, no dia seguinte, a mãe de um deles bateu na porta, dizendo que escutou alguém chorando e iria chamar a polícia. Com isso, os homens se assustaram e resolveram liberar a jovem.
“Quando estavam me levando, eu estava no porta mala, mas consegui ver um pouco do local, me deram um dinheiro para pegar o ônibus e ir embora. Ele me pedia desculpa, falava que estava devendo grana e que iriam matar a família dele”, conta.
Após a identificação do motorista do veículo utilizado no crime, iniciou-se uma operação, à noite, no Distrito de Campos Lindos, o que obrigou os autores a libertarem a vítima na manhã seguinte, em Sobradinho: “Assim que saí da posse deles me senti aliviada. Vi que um deles se entregou e espero que a justiça seja feita”.
Segundo os investigadores, o objetivo dos autores era permanecer em poder da vítima e efetuar retiradas diárias do valor do resgate depositado em sua conta, o que foi frustrado pela ação da polícia. Os criminosos foram identificados, e a polícia localizou o cativeiro e o veículo utilizado no crime.
Áudios da mãe de suspeito
Áudios obtidos pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) mostram o desabafo da mãe de Rubens Brayner Moraes Cardozo. Nas gravações, a mulher relata “que não pode fazer nada” porque “a qualquer momento a polícia poderia aparecer”.
Nos áudios, ela afirma que não sabe se o filho escondeu algo no lote, mas que se os investigadores aparecessem iria informá-los que o filho estava envolvido no crime.
Ouça o áudio da mãe do suspeito: