“Ainda há pendências”, diz promotor sobre chacina de 10 pessoas no DF
Daniel Bernoulli, um dos promotores do caso da chacina, afirmou que é possível acrescentar detalhes ao processo mesmo após denúncia
atualizado
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Embora o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) tenha apresentado denúncia contra os cinco presos por participação na chacina de 10 pessoas da mesma família, um dos promotores destacou que ainda há pendências no caso.
Segundo Daniel Bernoulli, que é um dos quatro promotores de Justiça que atuarão no caso, ao longo dos próximos dias, o MP deve receber resultados e laudos importantes para a elucidação do caso.
“O fato de oferecer a denúncia não significa que a gente não vá trazer novos elementos ao processo. Esses elementos podem ser trazidos, inclusive, até poucos dias antes do julgamento. Ainda há pendências em relação aos laudos que serão muito importantes para robustecermos as provas que já existem”, disse após coletiva realizada nesta quinta-feira (2/2).
Ele reforçou que há provas suficientes contra os cinco acusados, mas “ainda há muito material”. “Muita notícia ainda está por vir”, declarou.
Veja a fala do promotor:
A expectativa é que a denúncia seja recebida pela Justiça nesta sexta-feira (3/2). Segundo Daniel, cabe à Justiça aceitá-la ou não.
“Vamos aguardar o juiz receber essa denúncia. Ele deve marcar uma data — ou datas, porque dificilmente ouviremos as testemunhas em um dia só — e, a partir daí, o juiz decide se o caso vai ao tribunal do júri ou não”, completou.
Crimes
Ainda segundo Daniel, caso a denúncia seja recebida pela Justiça, Gideon Batista de Menezes, Horácio Carlos Ferreira Barbosa, Carlomam dos Santos Nogueira, Fabrício Silva Canhedo e Carlos Henrique Alves da Silva responderão pelo assassinato das 10 vítimas e pelos crimes relacionados.
Juntos, eles devem responder por, pelo menos, 102 crimes. Somadas, as penas podem chegar a 380 anos de prisão. Contudo, no Brasil, o prazo máximo para permanência na cadeia é de até 40.
Os crimes pelos quais foram denunciados, de acordo com a participação de cada um, são:
- Gideon Batista de Menezes: homicídio triplamente qualificado, homicídio duplamente qualificado, ocultação e destruição de cadáver, corrupção de menores, sequestro e cárcere privado, extorsão mediante sequestro, constrangimento ilegal com uso de arma, associação criminosa e roubo.
- Horácio Carlos Ferreira Barbosa: homicídio quadruplamente qualificado homicídio triplamente qualificado, homicídio duplamente qualificado, ocultação e destruição de cadáver, corrupção de menores, extorsão mediante sequestro, sequestro e cárcere privado, constrangimento ilegal com uso de arma, associação criminosa, roubo e fraude processual.
- Carlomam dos Santos Nogueira: homicídio quadruplamente qualificado, homicídio triplamente qualificado, extorsão mediante sequestro, corrupção de menor, ocultação e destruição de cadáver, sequestro e cárcere privado, ameaça com constrangimento ilegal e uso de arma, roubo e associação criminosa.
- Carlos Henrique Alves da Silva: homicídio duplamente qualificado e sequestro e cárcere privado.
- Fabrício Silva Canhedo: extorsão mediante sequestro, associação criminosa, roubo e fraude processual.
Um adolescente de 17 anos foi apreendido por suspeita de participação no crime. No entanto, ele não é alvo da denúncia do MPDFT.
Cronologia do crime
O plano começou na chácara, quando Marcos Antônio; a esposa dele, Renata Juliene Belchior, 52; e a filha do casal, Gabriela Belchior de Oliveira, 25, foram rendidos. O primeiro a ser morto foi Marcos Antônio, em 28 de dezembro.
Na data, o plano dos criminosos — Gideon; Fabrício Silva Canhedo, 34; Carlomam dos Santos Nogueira, 26; e um adolescente de 17 anos — era render Marcos Antônio, Renata Juliene e Gabriela na chácara.
Gideon permitiu a entrada de Carlomam e do adolescente, para simular um roubo à chácara. Horácio Carlos estava no local e fingiu ser vítima. No entanto, Marcos Antônio teria reagido ao suposto assalto e foi baleado na nuca por Carlomam.
Depois disso, o grupo criminoso enrolou Marcos Antônio em um tapete. A vítima estava ofegante e foi levada, com Renata Juliene e Gabriela, para a casa usada como cativeiro, em Planaltina (DF).
Na mesma noite, Marcos Antônio foi esquartejado, ainda vivo, por Gideon e Horácio Carlos. A dupla enterrou a vítima em uma cova improvisada no terreno.
“Colocaram as pessoas no chão, e o Horácio Carlos junto [delas], como se fosse vítima. Nesse momento, houve uma reação do Marcos Antônio, e o Carlomam o atingiu com um tiro na nuca. A vítima ficou no local, agonizando. Eles colocaram a Renata Juliene e a Gabriela dentro da casa. Lá, vendaram as duas, amordaçaram-nas e seguiram para o cativeiro, em Planaltina (DF). Levaram o Marcos enrolado em um tapete, no carro do Gideon”, detalhou Ricardo Viana.
Durante a madrugada, no cativeiro, o adolescente entrou em pânico ao ver a brutalidade da ação, pulou o muro e fugiu do local.
4 de janeiro
Os criminosos levaram Cláudia Regina e a filha dela, Ana Beatriz Marques de Oliveira, 19, para o local do cárcere.
O grupo conseguiu render a vítima ao simular — com o celular de Marcos Antônio — que Gideon e Horácio Carlos ajudariam na mudança para a nova casa de Cláudia Regina, pois ela havia vendido o imóvel anterior.
Quando Cláudia Regina e a filha Ana Beatriz entraram na casa nova, acabaram rendidas por Carlomam, enquanto os demais também fingiam ser vítimas.
As duas foram levadas para cativeiro: Renata Juliene e Gabriela ficaram em um cômodo; Cláudia Regina e Ana Beatriz, em outro.
12 de janeiro
Thiago Gabriel recebeu um bilhete que chamava ele, a esposa Elizamar da Silva, 39, e os filhos do casal para irem até a chácara no Itapoã. Os criminosos escreveram um termo usado por Marcos Antônio para tornar a mensagem convincente.
Lá, Thiago acabou rendido. A cabeleireira Elizamar foi para o endereço só após sair do trabalho, à noite. Ao chegar, também foi feita refém.
Sem apoio do adolescente, que não quis mais participar do crime, o grupo precisou de um novo ajudante: Carlos Henrique Alves da Silva, 27, conhecido como “Galego”.
De lá, os criminosos levaram Elizamar e os três filhos dela para Cristalina (GO), onde asfixiaram as vítimas e queimaram o carro da cabeleireira. Thiago Gabriel ficou no cativeiro.
“Sempre nas ações de queimar corpos e levá-los para fora do DF, estavam presentes Carlomam, Horácio e Gideon. O Fabrício ficava cuidando do cativeiro”, acrescentou o delegado do caso.
14 de janeiro
De madrugada, Carlomam, Horário Carlos e Gideon dirigiram com Renata Juliene e Gabriela, no carro de Marcos Antônio, até Unaí (MG). Lá, eles as asfixiaram e incendiaram o veículo com os corpos das vítimas dentro.
Devido às queimaduras, Gideon não participou dos outros assassinatos.
15 de janeiro
Thiago Gabriel, Cláudia Regina e Ana Beatriz deixaram o cativeiro, no Vale do Sol, em Planaltina (DF) ainda com vida. No entanto, os criminosos os levaram para um terreno no Núcleo Rural Santos Dumont, a cerca de 5 km de onde estavam, e as vítimas foram esfaqueadas perto de uma cisterna. Em seguida, os assassinos jogaram os cadáveres dentro do poço.
“Os criminosos sabiam exatamente o local onde esses corpos ficariam. A vítimas saíram da chácara com vida e, quando chegaram ao local dos assassinatos, foram mortas por objeto cortante”, afirmou o delegado Ricardo Viana.
“[Os corpos de] Ana Beatriz, Cláudia Regina e Thiago Gabriel foram jogados no interior da cisterna e, depois, cobertos com pedras”, concluiu Viana.