Água gasta no Mané abasteceria Candangolândia por mais de um mês
Terracap acredita que falha no medidor aumentou consumo de 1.421m³ para 94.295m³ em junho. Caesb vai apontar as causas nesta quarta (19)
atualizado
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Os 94.295m³ (ou 94,2 milhões de litros de água) gastos pelo estádio Mané Garrincha no mês de junho seriam suficientes para abastecer cerca de 20 mil pessoas durante um mês. Em plena crise hídrica, a quantidade garantiria água nas torneiras por 35 dias para moradores de uma cidade do porte da Candangolândia, que tem 16.848 habitantes, de acordo a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio (PDAD), da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).
Como mostrou o Metrópoles com exclusividade nesta terça-feira (18/7), a conta de água e esgoto do estádio, com vencimento no último dia 20 de junho, foi de impressionantes R$ 2.266.757. O valor é 67 vezes maior que a média de consumo da arena nos outros meses, de 1.421m³, ou 1,421 milhão de litros. Neste patamar, a conta não ultrapassa R$ 37 mil.
Para se ter ideia, um morador do DF gasta, também em média, 4.590 litros a cada mês. Somente essa fatura cobrada pela Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb) supera em três vezes o gasto mensal de manutenção do estádio: R$ 700 mil.
Sem uma justificativa para o gasto exorbitante, a Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) trabalha com a hipótese de que houve uma falha no medidor que fez a leitura do gasto de água e esgoto. Essa teoria foi repassada pelo presidente da empresa, Júlio César de Azevedo Reis, à reportagem. Funcionários da companhia estiveram no Mané Garrincha, junto com a Caesb, durante a tarde desta terça-feira (18). No entanto, ninguém deu informações sobre o resultado da inspeção.
Questionada pela reportagem, a Caesb disse que não iria se posicionar sobre o assunto e afirmou que há a previsão de entrega de um relatório à Terracap nesta quarta-feira (19). O documento deve apontar as causas do alto consumo em junho.Até lá, a arena esportiva segue parada. O último jogo no Mané foi em 6 de maio, há mais de dois meses. Neste ano, o estádio recebeu apenas 22 jogos de futebol.
A tarifa de R$ 2,2 milhões é um golpe ainda mais duro no bolso do contribuinte e nas contas da Terracap. A estatal tenta se reerguer de uma crise sem precedentes. Recentemente, a empresa anunciou o corte de funcionários e outras medidas para tentar equilibrar as contas. Além de passar a tesoura em três das sete diretorias, a estatal quer acelerar o Plano de Demissão Incentivada (PDI), em curso desde novembro de 2016.
Até dezembro, a agência espera que mais 100 funcionários concursados sejam desligados, totalizando 199 demissões. O enxugamento no quadro de pessoal, segundo cálculos da própria empresa, pode implicar em uma economia de R$ 25 milhões na folha salarial de 2017. Nos demais anos, esse valor pode subir para R$ 57 milhões a cada 12 meses.
O plano, contudo, pode naufragar. Tudo por conta das dificuldades que a Terracap tem encontrado para arcar com seus compromissos financeiros. “Eles não têm recursos e, por isso, adiaram o PDI”, conta um servidor, que prefere não se identificar.
A estatal prometeu pagar um salário para cada ano trabalhado mais o plano de saúde por cinco anos aos funcionários demitidos pelo PDI. De acordo com o Sindicato dos Servidores e Empregados da Administração Direta (Sindser), 21 profissionais teriam sido barrados após o pedido de adesão. “Quem entrou, entrou. Quem não entrou, não entra mais. Eles não estão autorizando novos pedidos”, resume outro empregado.
Balanço negativo
A ideia é reduzir custos e aumentar a receita por meio de ações como descontos de 25% para pagamento à vista de imóveis, renegociação de dívidas e vendas de lotes em áreas como o Setor Noroeste.
A empresa amargou, no fim de 2016, prejuízo de R$ 255 milhões e tem um rombo de R$ 1,5 bilhão deixado por irregularidades nas obras do Mané Garrincha. De outro lado, as despesas da estatal seguiram na direção contrária: saltaram de R$ 623,3 milhões, em 2015, para R$ 637 milhões, no ano seguinte.
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