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Agonia sem fim: saiba quem são as 10 pessoas há mais tempo desaparecidas no DF

PCDF trabalha com técnica de progressão de idade para projetar a aparência atual de alguém anos após seu desaparecimento. Confira

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Gustavo Moreno/Especial Metrópoles
Pai de desaparecida
1 de 1 Pai de desaparecida - Foto: Gustavo Moreno/Especial Metrópoles

Até maio o Distrito Federal havia somado, neste ano, 740 ocorrências policiais de pessoas desaparecidas. Conforme aponta o levantamento da Polícia Civil do DF (PCDF), a grande maioria dos casos registrados na capital é solucionada. Porém, para as 10 famílias dos mais antigos desaparecidos que constam no banco de dados do Laboratório de Representação Facial Humana do Instituto de Identificação da PCDF, a dor causada pelo sumiço do parente parece não ter fim.

Desde o ano 2000, já são 55.071 boletins de ocorrência de pessoas desaparecidas registrados no DF. Desse total, 45.796 indivíduos foram encontrados, o que representa 84%. Contudo, outros 8.743 (16%) casos seguem sem solução.

Veja os dados:

Gráfico com números de desaparecidos no DF

Progressão de idade

Um serviço importante para ajudar a localizar desaparecidos na capital é disponibilizado pela PCDF. O Laboratório de Representação Facial Humana do Instituto de Identificação da corporação desenvolve o trabalho de progressão de idade, uma técnica de arte forense cujo resultado tem a intenção de demonstrar como seria a aparência atual de uma pessoa anos após ela ter desaparecido.

No banco de dados do Laboratório de Representação Facial Humana, há 10 pessoas sumidas há, pelo menos, 15 anos.

Veja, abaixo, a lista com os 10 casos de pessoas desaparecidas há mais tempo no DF que são acompanhados pelo laboratório:

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Maria Doraci da Silva, chefe do laboratório, ressalta que acompanhar a progressão de idade é fundamental para obter uma hipótese de como seria a fisionomia atual de desaparecidos. “A gente faz a manutenção das progressões. Então, todo ano, buscamos no sistema, olhamos as ocorrências dessas pessoas, para saber se já mudou de status ou não”, diz.

Ela explica que o trabalho é produzido após passados, no mínimo, cinco anos entre o desaparecimento e a atualidade, e renovado após cinco anos se a ocorrência permanecer. Quando se trata de crianças, o lapso temporal é de dois anos entre o sumiço e o presente.

“Por exemplo, no ano 2000, a pessoa fez a ocorrência do desaparecimento e, em 2002, 2003, a criança ainda estava desaparecida. Aí foi quando encaminharam aqui para a gente e foi feita a progressão de idade […] Passados dois, três anos, a criança muda muito. Então, com mais três anos é feita outra progressão, vão sendo feitas as atualizações. Se ela chegou aos 18, 20 anos, já não se justifica mais fazer em tão curto tempo, porque não muda tanto assim. Quando se completa o crescimento craniofacial, não se justifica mais estar fazendo progressão de dois em dois anos e é quando aumenta o prazo. Quando a pessoa torna-se jovem adulta, a gente passa a fazer de cinco em cinco anos, porque aí sim tem modificação facial”, detalha.

Porém, de acordo com a papiloscopista policial, há casos em que a família não informa ter localizado a pessoa desaparecida. Ela, então, enfatiza a importância da comunicação dos parentes às autoridades.

“Às vezes, o desaparecido retorna para casa, ou os familiares têm notícias por onde anda a pessoa […] e, após terem notícias dos desaparecidos, não dão baixa no sistema da polícia. Então, a gente tem essa dificuldade, porque às vezes você está fazendo uma progressão de alguém que nem desaparecido está mais. A gente tenta de tudo para conseguir um contato da família, mas às vezes não consegue. Mesmo assim fazemos [a progressão], porque no sistema consta como desaparecido”, pontua.

Maria Doraci ainda destaca que, além das imagens do desaparecido, fotos dos parentes da pessoa também podem ajudar nos trabalhos do laboratório.

“Ultimamente, quando a gente consegue falar com a família, solicitamos mais fotografias do pai, da mãe, dos irmãos, para a gente fazer um estudo do padrão daquela família, da fisionomia, observando com quem aquela criança – com aquela foto da época que foi fornecida – se parece mais. Se é com o pai, com a mãe, se é um misto; a gente observa como é que esse irmão se parece na idade atual. Muitas vezes tem a foto de uma pessoa que é parecida na idade atual do desaparecido e isso ajuda muito”, assinala.

DNA de desaparecidos

Para ajudar nas buscas, a Polícia Civil do DF também trabalha com a coleta de material genético, no Instituto de Pesquisa de DNA Forense (IPDNA), no Complexo da PCDF. O agendamento pode ser feito pelos telefones (61) 98253-8016 (WhatsApp), (61) 3207-4369; ou e-mail ipdna-desaparecidos@pcdf.df.gov.br.

Segundo Samuel Ferreira, diretor do instituto, “é importante esse contato prévio, pois o IPDNA vai orientar sobre quais familiares e seus vínculos de parentesco com o desaparecido são os mais importantes para a coleta do material genético”. “É preciso que a família registre previamente uma ocorrência de desaparecimento na delegacia mais próxima, ou por meio da Delegacia Eletrônica da PCDF”, ressalta o perito médico-legista e geneticista forense.

Após o material genético dos familiares de pessoas desaparecidas ser coletado, este é submetido a exames de DNA, e os perfis genéticos obtidos são inseridos no Banco de Perfis Genéticos do IPDNA. Para a identificação por exames de DNA de pessoas desaparecidas, existem os seguintes cenários:

  • Por comparação direta: quando a delegacia envia familiares para que seu material genético seja comparado ou com o de um corpo não identificado ou com o material genético de uma pessoa viva que não esteja identificada.
  • Pelo Banco de Perfis Genéticos: esse caso ocorre quando os familiares são encaminhados pelas delegacias para a coleta de material genético no IPDNA, mas não existe um corpo não identificado específico ou uma pessoa viva não identificada específica para a comparação genética.

Nessa última situação, os perfis genéticos dos familiares são inseridos no banco e comparados com os de corpos não identificados e de pessoas vivas não identificadas que estejam cadastradas. “Essa tecnologia é muito importante e poderosa, pois possibilita a comparação e o cruzamento de perfis genéticos tanto no Distrito Federal como em todo o Brasil, por meio da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), da qual fazem parte o DF, todos os estados e a Polícia Federal”, informou Samuel.

Espera de 15 anos

Uma das pessoas que sumiu ainda na infância e está na lista dos mais antigos desaparecimentos acompanhados pelo Laboratório de Representação Facial Humana é Michele de Jesus da Conceição. Ela estava com 10 anos, em 2006. Atualmente, Michele teria 25 anos.

Para o pai dela, Gercino Bernardo da Conceição, 68 anos, a dor ainda permanece. “Eu trabalhava como vigilante na época e era um trabalho de virar noite, 24 horas. Tinha saído de casa no dia 6 de setembro de 2006 e voltei só no dia seguinte, no final da tarde. Quando cheguei, tive a notícia de que ela tinha sumido. Aí, foi um desastre na minha vida. Até hoje não tenho notícias dela”, narra.

De acordo com o aposentado, ele teve um primeiro casamento, com a mãe de Michele, durante 20 anos. Com ela, ele teve o filho mais velho, que hoje tem 33 anos, e Michele. Em 2002, a esposa morreu após sofrer um infarto.

“Após a morte dela, eu fiquei cuidando dos meninos. Depois, apareceu outra pessoa na minha vida, com quem eu tive meus outros dois filhos (de 16 e 12 anos). Mas, não deu certo e hoje eles moram com a mãe, em Águas Lindas, e eu moro sozinho em Ceilândia”, conta.

Gercino Bernardo é pai de Michele, que está desaparecida desde 2006

Gercino relata que, no dia do desaparecimento de Michele, a companheira dele também não estava em casa, pois havia saído para trabalhar, em Águas Lindas de Goiás. “A Michele tinha ficado em casa com a filha dela [da companheira de Gercino], que era adolescente. Aqui, tem uma casa na frente e um barraco nos fundos. A menina morava nos fundos e foi esquentar a comida da Michele, mas quando voltou só viu o rádio ligado e não a viu mais”, relata.

“O baque é grande demais. A gente ainda mantém uma esperança porque é pai, mas não é mais como no começo. No início, eu ainda tinha esperança de que alguém ligasse dizendo que a encontrou em algum lugar. Mas agora já são 15 anos de sofrimento”, lamenta.

Michele foi adotada por Gercino e a esposa dele ainda bebê. Até hoje, ele vive na mesma casa, na expansão do Setor O. “Ela nasceu da irmã da minha ex-esposa. Lá na Bahia era muita pobreza e ela não tinha condições de criar, então a gente criou”, revela. “Ela era minha filha, era o meu xodó. Ainda fica aquela esperança distante, mas é difícil”, desabafa o pai.

Veja como Michele pode estar atualmente, segundo projeções da PCDF:

Ajude

Caso alguém tenha informações sobre um desaparecido, entre em contato com a polícia pelo 197. A PCDF também pode ser contatada pelo:

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