Advogado que atropelou servidora no Lago Sul é condenado a 11 anos de prisão
Julgamento durou aproximadamente 15 horas e terminou por volta de 1h desta quarta-feira (26/7)
atualizado
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O advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem, de 39 anos, que em 2021 atropelou a servidora pública Tatiana Thelecildes Fernandes Matsunagana na porta da casa dela, no Lago Sul, após uma briga de trânsito, foi condenado a 11 anos de prisão na madrugada desta quarta-feira (26/7).
O homem já estava preso no 19º Batalhão de Polícia Militar, no Complexo Penitenciário da Papuda, aguardando o julgamento. Desde a prisão de Paulo Ricardo, a defesa do advogado entrou com diversos pedidos para tirá-lo da cadeia, mas a Justiça negou todos, em diferentes instâncias.
O júri popular votou pela condenação por tentativa de homicídio qualificado — por motivo fútil e uso de recurso que dificultou a defesa da vítima.
Após o atropelamento, Tatiana teve múltiplas lesões no quadril e no tornozelo, além de traumatismo craniano, o que a levou à UTI. Ela precisou de mais de um ano para recuperar parte da capacidade física, motora e mental, mas ainda depende de medicamentos e de fisioterapia por tempo indeterminado. O filho dela, de 8 anos, estava no carro em meio à confusão e viu tudo.
Versões
A principal tese da acusação para reforçar a ideia de que Paulo Ricardo assumiu o risco de matar veio de dois fatores principais. Primeiro, os promotores mostraram vídeos que mostram o carro do advogado perseguindo o veículo de Tatiana após a briga e entrando na rua onde ela mora, mesmo ele residindo em um endereço que seguia por outra rota.
“Qual o limite da estupidez humana? Porque eu sei que o senhor pergunta: ‘Como eu fui estúpido de seguir aquela mulher, de deixar minha família?'”, disse o promotor de Justiça Marcelo Leite Borges.
O segundo ponto forte da acusação foi a aceleração do carro de Paulo Ricardo mesmo após atingir a vítima. Um laudo oficial da Polícia Civil do Distrito Federal aponta que “seria possível iniciar o processo de desaceleração do veículo antes do instante definido como o início da transposição”. Ou seja, o motorista podia parar o carro antes de passar por cima da servidora pública.
A defesa do acusado argumentou que Tatiana colocou o carro bloqueando a via e impedindo o réu de sair. Já a acusação alegou que o veículo estava posicionado para entrar na garagem de casa. Outro ponto rebatido foi o medo citado pelo homem. Segundo ele, o motivo de sair acelerando no local após a briga foi um temor do que pudesse acontecer com ele, principalmente pela chance de a mulher ou de o marido dela estarem armados.
A acusação rebateu dizendo que ele “não estava na Rocinha” nem em uma “boca de fumo”, mas no Lago Sul. “Ele não se sentiu ameaçado. Ele teve um ataque de macheza”, opinou Borges. Os promotores também mostraram o vídeo do atropelamento repetidas vezes, ressaltando ainda que havia momentos em que o acusado poderia ter saído da via sem colidir com Tatiana.
Eles ainda chamaram de mentira a alegação de que ele não a viu, pois, no momento do atropelamento, o advogado ainda virou o carro para não atingir o portão da casa dela. O depoimento da vítima e do marido dela não foram abertos para a imprensa.
Assista ao vídeo do atropelamento:
A defesa do advogado levantou a tese de que houve culpa de ambos pela discussão com xingamentos e levantou fatores da vida pessoal de Paulo Ricardo para justificar que a índole dele não condizia com a ação de tentar matar uma pessoa. Testemunhas próximas a ele o descreveram como uma “boa pessoa”, que cuida da filha pequena com problemas de saúde e ajuda instituições de caridade.
Paulo Ricardo deu a versão dele narrando o começo da briga, na altura da QI 15 do Lago Sul. O advogado argumentou que Tatiana estava em alta velocidade, aproximou o carro na traseira do veículo dele, deu luz alta, buzinou e, quando os dois ficaram lado a lado, passou a proferir xingamentos e ameaças.
“Então, começou a me fechar, jogar o carro dela contra o meu. Eu também respondi com xingamentos e isso gerou uma discussão de trânsito. Em um momento, ela fez um sinal com a mão, como quem quisesse que eu fosse atrás. Eu entendi que seria para segui-la”, disse. Ainda segundo Paulo Ricardo, ele teria sido instigado a acompanhar o veículo de Tatiana, por conta dos xingamentos e dos sinais.
“Chegamos a uma rua residencial. Posteriormente, fiquei sabendo que era a rua onde ela reside. Eu parei e questionei, disse que ela era uma irresponsável, falei que ela estava colocando nossas vidas em risco, inclusive do filho dela. Nesse momento lembrei da minha filha. […] Quando fiz esse comentário, vi que ela tirou o cinto e tentou abrir a porta. Eu saí em direção ao final da rua, não sabia que era sem saída. Para mim, aquilo ali já tinha acabado.”
Atropelamento
Quando retornou, o advogado disse ter visto o carro de Tatiana obstruindo a via. “Ela desceu do veículo e veio na direção do meu. Eu peço para ela tirar o carro da frente, para eu ir embora. Mas ela volta a me xingar, me ameaçar, falar palavras de baixo calão. Eu falo que vou pegar o celular para filmar o que estava acontecendo. Mas eu estava muito nervoso e não consegui filmar.”
De acordo com a versão do advogado, Tatiana chegou a fazer um sinal de arma com a mão e perguntou se ele não teria “medo de morrer”. Após a troca de xingamentos, o marido da vítima saiu de casa. “Ele colocou a mão na cintura. Pensei que pudesse estar armado, então eu tinha que sair de lá de qualquer jeito. Fiquei apavorado, achei que estivesse correndo risco de vida.”
Paulo Ricardo ainda admitiu que respondeu aos xingamentos e contou que acelerou enquanto estava com o celular na mão, e achou que teria passado por cima de uma calçada. “Vi o caminho livre acima da calçada e acelerei. O celular caiu no chão quando eu acelerei. Eu desviei a atenção para ver onde ele caiu e, nesse momento, senti um impacto. Não imaginava que seria a Tatiana. Depois que passei por cima da calçada, vi que ela estava no chão, caída.”
Sobre não ter prestado socorro, o advogado alegou que saiu do local porque teria visto o marido da mulher correndo atrás do veículo. “Pensei em parar para socorrê-la, mas achei que, se eu parasse, a situação ia sair ainda mais do controle. Depois que olho pelo retrovisor, vejo ele retornar para socorrer a vítima.”