Advogado do DF pediu mesada de R$ 50 mil para comprar procurador
Em delação, Joesley contou que Willer Tomaz cobrou R$ 8 milhões de honorários e “ajuda de custo” a Ângelo Goulart em troca de informações
atualizado
Compartilhar notícia
O advogado de Brasília Willer Tomaz cobrou R$ 8 milhões em honorários para defender os interesses do dono da JBS, Joesley Batista. Para fisgar o cliente, Willer jogou uma isca: disse que tinha proximidade com o juiz substituto da 10ª Vara Federal Criminal de Brasília Ricardo Soares Leite e que conhecia também um procurador da República, do Rio de Janeiro, que poderia ajudá-lo com informações sigilosas no âmbito da Greenfield. Essa operação apura fraudes nos fundos de pensão e tem como um de seus alvos a empresa de Joesley.
Em troca dessas informações privilegiadas, o advogado teria dito que pagaria uma “ajuda de custo” no valor de R$ 50 mil mensais ao procurador Ângelo Goulart Villela (foto de destaque). As informações constam em um dos anexos do Inquérito 4.489 do Ministério Público Federal, que tem como relator o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Diante da gravidades das informações, a Procuradoria-Geral (PGR) pediu a condenação deles por corrupção, organização criminosa e obstrução à Justiça.
Desde que surgiram os primeiros rumores sobre a citação a Juliano no inquérito, o presidente da OAB-DF foi a público explicar o episódio. Ele admitiu que fez a recomendação de Willer, disse que a iniciativa é muito comum entre os advogados, mas negou qualquer participação em irregularidades ou tráfico de influência. Antecipou-se e, na tarde desta quinta-feira (18/5), pediu ao Conselho Federal da Ordem que o investigue.
Nesse episódio, que faz parte das delações de Joesley à força-tarefa da Lava Jato, há ainda outro personagem citado, o advogado Francisco de Assis e Silva. Ele já trabalhava para o empresário e foi quem seguiu nas negociações com Willer.
“Francisco encontrou três vezes com esse procurador no escritório de Willer Tomaz”, afirmou Joesley aos procuradores. O escritório fica na QI 1, conjunto 1, do Lago Sul, casa que já foi também usada pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, hoje preso em Curitiba.
Francisco também fez delação premiada. Segundo ele, Willer Tomaz disse que do total de honorários que receberia, R$ 8 milhões, um terço foi para Juliano Costa Couto e a mesma quantia para André Gustavo.
Envio de áudio
Em um desses encontros, o procurador Ângelo informou que tinha participado da primeira reunião do grupo de trabalho da Greenfield e o assunto teria sido, justamente, o depoimento de Mário Celso, ex-funcionário do grupo JBS. O procurador, segundo a delação, enviou para Willer a gravação de toda audiência realizada na sede do Ministério Público. O que seria uma confirmação cabal de tráfico de influência.
“O advogado mostrou para Francisco o próprio celular e o depoente pôde visualizar enorme quantidade de mensagens trocadas entre eles, tendo ainda constatado que, de fato, o áudio havia sido enviado pelo procurador”, diz trecho da delação.
Confira os vídeos da delação de Joesley:
Munido dessa gravação, Joesley foi até os procuradores da Lava Jato oferecer sua colaboração em troca de penas mais brandas pelos crimes que confessaria. No inquérito, o empresário conta que Ângelo ficou sabendo da ida dele à PGR. E que Willer teria ligado, bastante nervoso, para o advogado Francisco relatando que estava com medo “que os amigos dele fossem prejudicados”.
Joesley conta ainda que a história de um suposto acerto de delação entre ele e a PGR “correu Brasília” e que várias pessoas ligadas ao PMDB teriam se afastado dele. O empresário cita nominalmente os senadores Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR).
O procurador Ângelo Goulart Villela foi preso nesta quinta (18) pela Polícia Federal e está detido no Núcleo de Custódia da Polícia Militar do DF. O local, que fica no Complexo Penitenciário da Papuda, é destinado a policiais e detentos considerados vulneráveis.
Membro da Greenfield, Villela é lotado na Procuradoria-Geral Eleitoral e também era, até ser detido, diretor de Assuntos Legislativos da Associação Nacional dos Procuradores da República, entidade que organiza a eleição da lista tríplice para procurador-geral da República.
Em sua conversa com Joesley, Willer deixa claro que a relação com o juiz Ricardo Soares Leite, da Justiça Federal, seria “apenas de amizade e proximidade. Não havia propina”. O magistrado é o mesmo que determinar o fechamento do Instituto Lula, reformada em segunda instância.