Adriana: “A vida me deu um tropeção e meus pais foram assassinados”
As primeiras palavras da acusada de ser a mandante do crime da 113 Sul foram para descrever a relação entre elas e os pais
atualizado
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Adriana Villela, denunciada pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) como sendo a mandante do triplo homicídio da 113 Sul, começou seu depoimento no Tribunal do Júri de Brasília nesta terça-feira (01/10/2019). No nono dia deste julgamento, que já é o mais longo com um só réu na história da Justiça brasiliense, as primeiras palavras de Adriana foram sobre o relacionamento que mantinha com os pais e como eles a viam.
“O meu pai e minha mãe sempre foram pessoas com as quais eu sempre pude contar e, ainda hoje, aqui, eu conto com eles. Até pelos meus advogados”, afirmou Adriana Villela. “Certa vez, eu disse a eles que meu desejo e minha maior ambição é que meu trabalho criativo ajudasse muitos a melhorar de vida. E eu fiz isso um pouco. Até que, de repente, a vida me deu um tropeção e meus pais foram assassinados.”
De acordo com Adriana, apesar de ser “uma filha bastante rebelde”, o pai, José Guilherme, admirava isso nela. “Sem dúvida, eu devo ter desrespeitado eles algumas vezes na minha vida. Mas, especialmente quando esse crime aconteceu, a minha família vivia um momento de muita felicidade. Eu havia acabado de terminar o meu mestrado e meu pai dizia que finalmente eu estava no meu lugar.”
Finanças
Adriana também detalhou a relação financeira existente entre os familiares. “Eles sempre me apoiaram. Meus pais faziam uma poupança e nela eles não mexiam. Eles me ajudavam quando entrava outros recursos, mas nunca me inteirei disso. Porque, quanto eles ganhavam, não era assunto dos outros, somente deles. Foi muito vexaminoso para mim ter que responder quanto eu ganhava de mesada.”
Para ela, a acusação do crime de parricídio é muito mais grave do que o de homicídio. “Porque ele mancha a imagem dos meus pais e isso não aconteceu. Ninguém da minha família poderia fazer isso.”
A acusada falou sobre a pressão sofrida, à época do crime, com Mabel de Faria. A delegada era a então chefe de uma divisão da Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida). “Imaginei que a doutora Mabel me levaria para a delegacia. Não foi isso que ela fez: me levou para a Colmeia, onde passei alguns dias, sem ter feito nada para isso”, contou Adriana.
“Mas não reclamo. Lá, eu fui muito melhor tratada do que na Corvida. Toda acusação que a doutora Mabel fazia naquela época era por causa de uma carta que ela achou da minha mãe para mim, em que a minha mãe era dura comigo. Ela foi a base usada pela delegada Mabel para construir toda uma acusação falsa.”
Sem respostas à acusação
A defesa de Adriana Villela informou que ela não vai responder nem MPDFT nem assistentes de acusação. Foi um pedido de ordem assim que iniciou a sessão. Ela só falará com juiz, defesa e jurados. O procurador Maurício Miranda registrou protesto de que o contraditório fica prejudicado com a decisão.
Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, advogada da acusada, explicou. “Nós entendemos que a prova está pronta e ela vai responder quem tem que responder. Pra as outras partes, ela não vai responder. Pode haver tumulto e isso é ruim para o processo. Isso é uma orientação técnica”, disse
Kakay confirmou a importância desta terça-feira, uma vez que Adriana vai falar. “Ela foi massacrada durante todo esse tempo de uma forma cruel e injusta, sem nenhum fiapo de provas contra ela. Com versões desencontradas e polícias divididas além de prisão de delegada. Com uma farsa que foi o tom dessa investigação. É extremamente importante que a ré faça a autodefesa.”
Emocional
Sobre o emocional da ré para o interrogatório, Kakay disse que “Adriana está preparada para isso há 10 anos”. “Costumo dizer que ela morreu duas vezes: no dia que os pais foram mortos com a Francisca e a segunda quando a acusaram sem nenhum tipo de prova”, discursou o advogado.
“Ela tem uma espiritualidade e fé muito grandes e enfrentou tudo com muita dignidade. Tenho muita tranquilidade que hoje ela vai contar a história verdadeira com o coração.” De acordo com o rito do julgamento, o juiz pergunta primeiro, seguido dos promotores e advogados. Os sete jurados, se quiserem, podem fazer questionamentos por meio do magistrado, no final.
Imagens
Na tarde de segunda-feira (30/09/2019) o MPDFT fez questão de apresentar aos jurados que decidirão o futuro da ré imagens dos assassinos condenados pelo crime, as quais reforçariam a tese de que ela foi a mandante do homicídio dos pais e da empregada da família, em 28 de agosto de 2009.
Um dos vídeos, gravado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), mostra Leonardo Campos Alves fazendo a reconstituição do caso. “Ela disse que era para eliminar os pais e questionou se eles [os outros condenados] não iriam recuar”, declarou a policiais. Leonardo é ex-porteiro do prédio onde moravam o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela e a advogada Maria Villela, pais de Adriana. A empregada do casal, Francisca Nascimento Silva, também foi executada em 28 de agosto de 2009.
No momento da exibição do conteúdo, Adriana deixou o plenário. Segundo a assessoria, a ré evita ouvir detalhes sobre as mortes dos pais e da empregada da família, em 2009. É também uma estratégia da defesa a fim de preservá-la para o interrogatório, adiado para esta terça-feira (01/10/2019), a partir das 9h.
Dinheiro
Segundo a acusação, Adriana contratou Leonardo Campos Alves, porteiro do edifício onde moravam os pais, para matar os advogados e a empregada do casal, por R$ 60 mil. Ele, por sua vez, teria prometido dar R$ 10 mil a Francisco Mairlon Barros Aguiar para executar o crime. Sobrinho de Leonardo, Paulo Cardoso também foi acusado pelo esfaqueamento do trio. Os três foram condenados e estão presos.
O advogado de Adriana, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou à imprensa que os depoimentos selecionados pela acusação são “quase um ato desesperado do Ministério Público”. “Entendo que é desleal, porque deveria ter explicado minuciosamente que são depoimentos posteriores à confissão”, afirmou.
Os advogados também reproduziram algumas mídias e documentos, como um depoimento no qual o irmão de Adriana, Augusto Villela, fala à PCDF. “A Adriana tem conflitos normais com a mãe. A tônica dos conflitos não era dinheiro”, frisou. A arquiteta e jornalista é acusada de ser a mandante do triplo homicídio de José Guilherme, Maria Villela e da empregada do casal, Francisca Nascimento Silva. Eles foram mortos a facadas – 73 no total –, em 28 de agosto de 2009.