Acusado de encomendar morte de advogados em Goiânia depõe: “Sou inocente, doutor”
Três pessoas respondem por homicídio praticado em 28 de outubro de 2020, em Goiânia, enquanto as vítimas trabalhavam em escritório
atualizado
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Acusado de mandar matar os advogados Marcus Aprígio Chaves e Frank Alessandro, o fazendeiro Nei Catelli (foto em destaque), 61 anos, declarou-se inocente perante o tribunal do júri nesta quarta-feira (31/5), segundo dia de seu julgamento. O crime aconteceu em 28 de outubro de 2020, dentro do próprio escritório das vítimas, em Goiânia.
Além de Catelli, Hélica Ribeiro Gomes e Cosme Lompa Tavares estão nos bancos dos réus por suposto envolvimento nas execuções.
Segundo as investigações, Nei Castelli teria ordenado o assassinato depois de perder uma ação envolvendo terras na divisa de Goiás e Bahia, avaliadas em R$ 46 milhões, o que o obrigava a pagar às vítimas, a título de honorários sucumbenciais, o valor de R$ 4,6 milhões.
Inconformado, de acordo com o Ministério Público, Castelli entrou em contato com Cosme Lompa na tentativa de encontrar alguém para executar o homicídio. Lompa, então, teria escolhido Pedro Henrique, conhecido pela prática de diversos crimes em Tocantins, e teria combinado com ele a execução.
Pedro Henrique, responsável por efetuar os disparos contra os advogados, foi preso em 30 de outubro de 2020. Dois anos depois, foi condenado a 45 anos, 6 meses e 10 dias de prisão. Pedro atuou ao lado de outro assassino, identificado como Jaberson Gomes – que não chegou a ser julgado, pois foi morto, também em 30 de outubro, durante uma perseguição policial.
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Quebra de silêncio
Desde que foi preso, dias após o crime, Catelli optou por permanecer em silêncio. Hoje, porém, ao ser indagado sobre o envolvimento nos homicídios, o fazendeiro disse não saber o motivo das acusações.
“Eu sou inocente neste crime, doutor. Não são verdadeiras as acusações. Também gostaria saber de onde tiraram esse indício de que fui eu”, declarou o réu.
No momento do crime, Nei contou que estava em casa trabalhando com lavoura. Ele também informou não conhecer o atirador Pedro Henrique, e acrescentou não ter sido determinado a ele o pagamento dos honorários de sucumbência no valor de R$ 4,6 milhões a Marcos e Frank – que teria motivado o crime, segundo a Polícia Civil de Goiás (PCGO).
Os advogados do réu afirmaram que Castelli não chegou a ser executado quanto aos honorários, pois o processo que determinou o pagamento ainda tramita na Justiça, estando sob análise no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
As acusações
Durante a fase de inquérito, a PCGO descobriu que o telefone de Castelli estaria na mesma área do celular do atirador Pedro Henrique, em Natividade (TO). Essa informação, para a polícia, colocou o suposto mandante e o executor na mesma região antes de o crime acontecer. Segundo as autoridades, esse teria sido o momento em que o fazendeiro encomendou o crime.
Em sua defesa, Castelli explicou que esteve, sim, na cidade de Natividade, mas negou conhecer o atirador. “Estive na cidade, mas foi para negociar calcário. Se ele [Pedro Henrique] também esteve no local, eu não saberia, pois não o conhecia”, declarou o réu.
Ainda segundo Castelli, ele apenas viu Pedro Henrique “algumas vezes” na prisão, onde ambos estão desde que foram detidos por suposto envolvimento nos homicídios.
Após sair de Natividade, de acordo com o depoimento do idoso, ele e o filho encaminharam-se à cidade de Porto Nacional, também em Tocantins, para a compra de um caminhão. Na ocasião, ele que ligou para Cosme Lompa para combinar de encontrá-lo em um balneário pertencente a ele. Porém, Lompa não atendeu as ligações.
Renda milionária
Um outro ponto de interesse no caso é a renda da família de Castelli, uma vez que o crime teria sido motivado pelo pagamento de honorários milionários às vítimas. Ao ser indagado sobre a questão, o fazendeiro informou que, à época, tinha lucro de cerca de milhões por mês.
Porém, segundo o Ministério Público, durante o júri que condenou Pedro Henrique, o fazendeiro disse que sua arrecadação mensal era de R$ 250 mil, e não de “milhões”.
Conforme informado pelo promotor Geibson Cândido, o objetivo do réu seria “levar o júri a acreditar que tinha renda alta e que não teria motivos para mandar matar por dinheiro”.
Relembre o caso
Pedro e Jaberson Gomes, usando o nome de Fernando Morais, ligaram para o escritório de advocacia perguntando por Marcus Aprígio e chegaram a deixar um número de telefone para retorno, que, mais tarde, foi usado pela secretária das vítimas para agendar a reunião para o dia 28 de outubro de 2020.
Conforme mencionado no processo, a dupla criminosa teria se passado por cliente e marcado uma reunião para cometer os assassinatos. Eles teriam exigido dinheiro dos advogados e atirado contra os dois logo após roubarem R$ 2 mil.
Pedro Henrique, então, foi detido dois dias após o crime. Jaberson morreu na mesma data durante uma perseguição policial. O primeiro confessou o assassinato, mas informou que o caso foi “apenas de um latrocínio”.
Durante as investigações, a polícia desconfiou que o crime teria sido encomendado e passou a ouvir pessoas envolvidas nas vidas dos advogados.
Após uma denúncia anônima, agentes chegaram até Hélica e teria levado a Polícia até Cosme Lompa Tavares. A mulher foi acusada de ajudar na fuga de Pedro.
Detido, Cosme Lompa teria confessado que Catelli o procurou na tentativa de encontrar alguém para executar Marcos e Frank.