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“Acorda, por favor!”, diz filha em enterro de mulher assassinada no DF

Morta pelo cunhado ao tentar defender a irmã, Eliane Maria Sousa de Lima, 49 anos, foi enterrada nesta terça (23/04/2019)

atualizado

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acqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles
Enterro feminicidio
1 de 1 Enterro feminicidio - Foto: acqueline Lisboa/Especial para o Metrópoles

“Eu quero a minha mãe,” disse, aos prantos, a filha de Eliane Maria Sousa de Lima, 49, morta a facadas no Gama. O desabafo de Vitória (foto em destaque), 21, foi feito enquanto ela se despedia da mulher no cemitério da região administrativa nesta terça-feira (23/04/2019). “Minha companheira, minha mãezinha foi embora. Acorda, acorda, por favor! Por que, por quê?”, questionou, debruçada sobre o caixão.

Eliane foi esfaqueada pelo cunhado na noite de domingo (21/04/2019). Acusado pelo crime, o açougueiro Josué Pereira Silva, 47, está preso. Ele foi descrito pelos amigos da vítima como um homem “perigoso”, de temperamento agressivo e explosivo.

No dia do crime, Pereira brigou com a esposa, Paula Otacílio de Lima, 43, com quem estava casado havia oito anos. Segundo familiares, o homem chegou a agredir a filha da mulher, de 12 anos. A menina teria conseguido se livrar dele e ligado para a tia, Eliane, pedindo socorro.

Vitória, filha da vítima, foi junto e acabou sendo ferida pelo açougueiro. Ele atingiu Eliane no peito quando ela tentava separar a briga do casal. A mulher não resistiu. Conforme contaram os amigos da vítima, ela era uma mulher calma, tranquila. Deixou de trabalhar para cuidar do pai, que é idoso.

No mesmo terreno, moravam Eliane, os pais, a filha Vitória e o neto de 8 meses. “Ele está só procurando a minha mãe”, contou Vitória, sobre o filho, que estava em seu colo durante o sepultamento. “Eram muito apegados. Ontem [segunda], ele ficou a casa toda atrás dela, chamando”. O bebê de 8 meses acordou passando mal na manhã do velório.

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Vitória durante enterro da mãe
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Eliane morreu ao tentar defender a irmã, Paula (na foto, de blusa cinza)

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Vitória durante enterro da mãe

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Josué tem duas ocorrências registradas na Polícia Civil do Distrito Federal por violência doméstica e Lei Maria da Penha, em 2014 e 2018. Segundo o delegado da 20ª DP (Gama), Vander Braga, ele estava ingerindo bebida alcoólica com a mulher momentos antes de matar a cunhada. “Todos relataram que ele ficava agressivo quando bebia. Era um costume da própria família esconder as facas dele durante as brigas”, afirmou o policial.

O suspeito trabalhava como açougueiro no Gama e usou uma faca de 32 cm para golpear a irmã da esposa. Hiago Otacílio de Lima, sobrinho do casal, mora em cima do apartamento dos dois e desceu para socorrê-la.

“Ele impediu que a tragédia fosse maior. Certamente, se esse sobrinho não contivesse o suspeito, teríamos cinco ou seis pessoas mortas, todas as mulheres que foram apartar a briga. Ele ia matar o pessoal todo lá. Era forte, mas o sobrinho era mais”, destacou o delegado.

Na manhã dessa segunda-feira (22/04/2019), o juiz substituto do Tribunal do Júri e Vara dos Delitos de Trânsito do Gama, Gustavo Fernandes Sales, fez a audiência de custódia e converteu em preventiva a prisão em flagrante de Josué. “O autor teria feito uso de uma faca, em frente a testemunhas, o que demonstra a ousadia e o destemor do autuado, o desrespeito flagrante pelas leis e pela vida alheia, bem como a sensação aparente de impunidade”, disse, na decisão.

O juiz destacou o histórico de violência doméstica e familiar. Por isso, também aplicou outras sanções, caso alguma decisão judicial futura solte o acusado. Entre elas, está o imediato afastamento da casa e a proibição de aproximação ou contato com a esposa, a filha, familiares e testemunhas, por qualquer meio de comunicação.

 

Reprodução/Arquivo pessoal

Feminicídios
Com a morte de Eliane, o DF registrou, somente neste ano, nove feminicídios. Na madrugada do dia 5 de janeiro, Vanilma Martins dos Santos, 30, foi morta com uma facada pelo homem que era seu marido há anos. Os dois viviam juntos no Gama e tinham um filho pequeno.

No dia 28 de janeiro, Diva Maria Maia da Silva, 69, recebeu cinco tiros no apartamento da família, na Asa Norte. O assassino era Ranulfo do Carmo, 74, também companheiro da vítima.

Apenas dois dias depois, foi a vez de Veiguima Martins, 56, morrer. Ela já havia registrado ocorrência por ameaça e lesão corporal contra o marido. Após matá-la a facadas no quarto do casal, o assassino ateou fogo no apartamento para tentar encobrir o crime e acabou morto também.

Ainda em janeiro, Patrícia Alice de Souza, 23, foi atingida por um tiro nas costas. As investigações concluíram que foi feminicídio.

Cevilha Moreira dos Santos, 45, foi encontrada morta no dia 11 de março, em Sobradinho. A vítima tinha marcas de facada no peito. O namorado dela é o principal suspeito. A polícia ainda não o localizou.

No dia 19 de março, o corpo de Maria dos Santos Gaudêncio, 52, foi encontrado em estado de putrefação e com cinco facadas na Quadra 2 da Fazendinha, no Itapoã. Policiais da 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá) prenderam Antônio Pereira Alves, 40, acusado de matar a namorada. O casal estava junto há cerca de dois anos.

O sétimo caso noticiado na capital da República, no dia 31 de março foi o de Isabella Borges de Oliveira, 25. O ex-companheiro dela, Matheus Cardoso Galheno, 22, a matou com um tiro no olho dentro de casa, no Paranoá. Em seguida, ele tirou a própria vida.

No dia 14/04/19, Luana Bezerra da Silva, 28 anos, foi esfaqueada pelo marido e morreu. Ela estava grávida de três meses.

Neste 2019, o Metrópoles iniciou um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal estão sendo contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.

O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país. Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF.

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