Tragédia no DF não é única: país teve 655 acidentes em linhas de trem
Cerca de 75% dos acidentes em linhas ferroviárias ocorrem por problemas externos ao trem, como casos de atropelamento e vandalismo
atualizado
Compartilhar notícia
O trágico acidente envolvendo um trem de carga e um ônibus no Distrito Federal deixou os brasilienses chocados na última semana. A passageira Júlia de Albuquerque Violato, 37 anos, foi arremessada com a colisão e teve seu corpo partido ao meio. Outras cinco pessoas ficaram feridas com a batida.
No entanto, a tragédia ocorrida em 17 de novembro não foi a única do ano. O Distrito Federal havia registrado outras duas antes da data da catástrofe. O Brasil teve, só este ano, 655 acidentes até 22 de novembro de 2023, de acordo com os dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Em Goiás, o número foi o dobro do registrado no DF, com nove colisões em linhas de trem.
Os números do DF e em Goiás são muito menores que em outras regiões tradicionalmente ferroviárias, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná, com 145, 129 e 125 casos, respectivamente.
Veja os números por unidade federativa:
De acordo com Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), todos os acidentes ferroviários ocorridos nas malhas sob concessão pública federal de serviço e infraestrutura ferroviária são acompanhados e analisados pela agência.
A Resolução nº 5902/2020 prevê que as concessionárias ferroviárias devem comunicar à ANTT todos os acidentes ocorridos nas ferrovias.
“As informações são tratadas visando orientar as ações de fiscalização e de mitigação de ocorrências de acidentes nos locais de maior incidência”, destacou a ANTT em nota. Nos últimos 19 anos, de 2004 a 2023, o Brasil registrou 13.066 acidentes, segundo a ANTT. Veja o gráfico:
Maioria dos acidentes é causado por terceiros
Cerca de 75% dos acidentes em linhas ferroviárias foram causados pela interferência de terceiros, como em casos de vandalismo e atropelamento. Em acidentes graves, 78% dos casos aconteceram também por interferência externa ao funcionamento regular do trem, quando ocorre, por exemplo, a colisão de veículo ferroviário com outro, não ferroviário.
As informações são da Associação Nacional dos Transportes Ferroviárias (ANTF). A entidade analisou os 525 acidentes de janeiro a setembro deste ano. Desses, 221 foram graves, resultando em morte, pessoa hospitalizada e prejuízos superiores a R$ 2 milhões.
De acordo com a associação, o Brasil conta com mais de 5 mil cruzamentos construídos ao longo dos trilhos em todo o país. “O que aumenta o risco de acidentes – principalmente em função da imprudência de pedestres e motoristas”, acrescentou a associação em nota.
A ANTF defende iniciativas do Poder Público como construção de viadutos, de forma a viabilizar a melhoria na qualidade de vida das cidades, além das condições de segurança nas áreas limítrofes das ferrovias.
A associação ressaltou que um trem pode levar até 1,5 quilômetro para parar a partir do momento em que o maquinista puxa freio. Apesar dos números, a ANTF ainda indicou que o Brasil tem modernizado as linhas para evitar cada vez mais acidentes.
“Em 1997, quando havia menos trens circulando, eram 75,5 acidentes por milhão de trens.km. Em 2022, foram 11,07 acidentes por milhão de trens.km, o que significa uma redução de mais de 85,34%”. O índice representa a quantidade de acidentes em relação à distância percorrida pelo trem para cada 1 milhão de km. O índice representa a relação da quantidade de acidentes ocorridos em relação à distância percorrida pelo trem para cada 1 milhão de km.
A associação também informou que o Brasil tem o número de segurança dos trens no Brasil acima da média mundial. Há pelo menos seis anos seguidos, que o país tem números menores a 12 acidentes por milhão de trens.km.
Acidente no DF
Apesar do índice, acidentes continuam acontecendo. Em 17 de novembro, a colisão entre o ônibus e o trem de carga provocou a morte de Julia de Albuquerque Violato, 37 anos. Além do óbito, cinco pessoas foram transportadas a hospitais do DF devido à tragédia. As câmeras de segurança do coletivo mostram o exato momento do acidente, de dentro do veículo.
Veja:
O acidente foi próximo ao balão do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), que faz ligação com a Cidade do Automóvel. Testemunhas afirmam que o trem bateu na traseira do ônibus, e Julia de Albuquerque foi jogada para fora e atingida pelo trem.
Imagens gravadas por testemunhas mostram o exato momento do acidente.
Veja vídeo:
O que diz a empresa
A empresa responsável pelo ônibus envolvido no acidente, a Viação Marechal, lamentou o ocorrido. “Lamentamos profundamente o acidente ocorrido nesta sexta-feira (17) envolvendo um ônibus da nossa empresa e um trem. Nossos assistentes sociais e psicólogos estão comprometidos em acompanhar de perto o caso, assegurando toda a assistência necessária às vítimas e seus familiares.”
“Informamos que colaboraremos integralmente com as investigações em andamento e aguardaremos o resultado da perícia para esclarecer os detalhes desse trágico incidente. Estamos dedicados a prestar total transparência e apoio neste momento difícil”, completa a nota da empresa.
Já a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) informou, por meio de nota, que já acionou a concessionária para que sejam apuradas as responsabilidades do acidente, que terá até 30 dias para apresentar o laudo à Agência, apontando as causas do ocorrido.
Código de Trânsito
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro é proibido não parar o veículo antes da linha férrea. De acordo com o artigo 212, desobedecer essa regra é infração gravíssima.