Acidentes alertam para falta de informação sobre regras de uso do Lago
Entidades afirmam que muitos banhistas desconhecem as delimitações dos espaços do Lago Paranoá, o que contribui para tragédias
atualizado
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No último fim de semana, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) atendeu duas ocorrências com mortes no Lago Paranoá. As vítimas são uma mulher de 36 anos e um adolescente de 17 anos que se afogou na tarde de domingo (30/1) e não resistiu.
De acordo com o CBMDF, 22 pessoas perderam a vida em acidentes no espelho d’água em 2021. Outras 73 foram socorridas e resgatadas com vida. Em 2020, a corporação registrou 19 vítimas fatais e 96 pessoas resgatadas pelos bombeiros com vida.
Do total de acidentes no Lago Paranoá em 2021, 13 foram afogamentos, com quatro óbitos. Em 2020, foram 21 afogamentos no lago, com seis mortes.
Segundo o CBMDF, as três principais ocorrências atendidas nos últimos dois anos no Lago Paranoá foram:
- Afogamentos (34)
- Incêndio em embarcação (8)
- Colisão entre embarcações (5)
Falta de informações
A quantidade de tragédias no Lago Paranoá chama a atenção para o uso do espaço do cartão postal brasiliense. Um decreto assinado em dezembro de 2018 pelo então governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), estabeleceu o zoneamento de usos do espelho d’água. O documento delimita áreas de banho e de práticas de esportes náuticos não motorizados, que ficaram separados dos setores destinados a embarcações motorizadas.
Clubes e entidades formadas por frequentadores do Lago afirmam, no entanto, que muitos brasilienses — e especialmente turistas — desconhecem as delimitações dos espaços, principalmente por falta de sinalizações e informações acessíveis aos cidadãos na orla.
“Banhistas e, principalmente, proprietários de embarcação devem estar bem informados sobre essas regras. Deveria haver placas informativas nos locais de banho, para quem vai usar o lago. A quantidade de acidentes está grande e não é só de agora, não”, considera José Nogueira Neto, vice-presidente de Náutica da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB).
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Marconi de Souza, presidente da Associação do Amigos do Lago Paranoá, composta por moradores da orla, também diz faltar organização nas áreas que cercam o cartão postal.
“A orla deveria ter condições básicas para as pessoas frequentarem. Faltam áreas com um mínimo de infraestrutura, com estacionamento, banheiro, lixeira, mais postos de bombeiros para salvamento. Esses pontos dão segurança, conforto ao usuário”, assinala.
Jorge Daniel, presidente do clube Cota Mil, reforça o perigo com a ausência de conhecimento das delimitações. “O movimento das embarcações cresceu muito nos últimos anos. Às vezes, a pessoa vai com uma lancha e não está numa prática frequente de condução, ou deixa o filho pilotar um pouco. Tudo isso pode ser muito perigoso quando você está manobrando perto de outras embarcações ou perto de quem está nadando”, salienta.
De acordo com a Associação Náutica, Esportiva e do Turismo de Brasília (ASBRANAUT), “para a navegação e as práticas de atividades náuticas no Lago Paranoá se tornarem mais seguras, é necessário que o Governo do Distrito Federal regulamente a Lei 6.868 que foi sancionada no mês de julho de 2021 e até o presente momento ainda não foi regulamentada”.
“Através da regulamentação, o GDF vai definir regras mais claras para as atividades de locação de pranchas de Stand Up Paddle, caiaque, pedalinho, e principalmente para a navegação dos barcos de turismo náutico que atuam no Pontão do Lago Sul”, diz a nota da Associação.
O outro lado
O Metrópoles pediu esclarecimentos ao GDF sobre as regras de uso do espelho d’água, bem como informações a respeito da falta de sinalização sobre a delimitação das áreas. O governo, porém, disse que o órgão responsável pelo uso do Lago Paranoá é a Marinha do Brasil.
Procurada, a Marinha não deu retorno até a publicação deste texto. O espaço permanece aberto para eventual manifestação posterior.