Acervo do Arquivo Público vira referência na produção de documentários nacionais e estrangeiros
Neste ano, o local já foi fonte de pesquisa para mais de 450 profissionais
atualizado
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Bastou uma visita para o francês Nicolas Ranson, na época com 23 anos, se apaixonar por Brasília. A capital do país foi cenário do documentário que o repórter, hoje com 36 anos, fez em 2003 na posse do ex-presidente Lula. Desde então, sempre dá um jeito de voltar ao Distrito Federal, seja a trabalho, passeio ou estudo. Já perdeu as contas de quantas viagens fez para cá. Na última, visitou o Arquivo Público do DF para escolher as imagens do novo trabalho que mostrará a capital federal nos dias atuais: um programa que será veiculado em um canal de TV da França — com audiência de 26 milhões de pessoas por semana — no início do ano que vem.
Ranson é sócio-fundador de uma agência independente francesa, com escritório no Rio de Janeiro. Brasileiro de coração, como faz questão de se definir, vive na cidade maravilhosa há 4 anos, mas sua paixão mesmo, garante, é o Planalto Central. “Nunca tinha visto uma cidade igual, tão organizada e planejada”, conta.
Depoimentos de pioneiros
As ruas largas, as famosas tesourinhas e a peculiar organização dos endereços não são assuntos exclusivos à pauta do documentarista. Neste ano, o já foi fonte de pesquisa para mais de 450 pessoas, número maior que o do ano passado: 366. Entre os que o procuram há gente de importantes canais nacionais e internacionais para programas de TV e séries especiais.
Para uma sequência de quatro capítulos, com duração de 45 minutos cada, o arquivo cedeu depoimentos gravados de pioneiros que trabalharam na construção de Brasília. O material faz parte do programa “História Oral do Arquivo Público do Distrito Federal”, exibido por um renomado canal por assinatura americano. Fora isso, o órgão atendeu neste ano grupos da Bélgica, da Universidade do Texas e da República Tcheca.
As grandes pesquisas estrangeiras se somam a consultas acadêmicas habituais, feitas geralmente por estudantes de cursos de arquitetura, história e urbanismo. Segundo a superintendente, Marta Célia Bezerra Vale, o histórico mostra que o arquivo está fazendo seu papel como fonte primária da história da região e de seus personagens. “Muito mais que um órgão de memória, somos uma instituição arquivista pública, preservamos a documentação referente ao Estado.”
Acervo digitalizado
Para facilitar o acesso dos interessados aos mais de 4 milhões de imagens, textos, plantas e mapas arquivados, a gestão tem investido em melhorias no espaço que ganhou sede nova há um ano. O acervo está sendo digitalizado e cerca de 80% foram concluídos. A medida diminui o tempo das pesquisas, que agora ocorrem em tempo real para a parte do material já disponível em computador. “No passado, teríamos de procurar em centenas de caixas divididas em assuntos”, explica a superintendente.
No início do ano, foram estruturadas uma sala de consulta e uma biblioteca com material sobre arquivologia e a história de Brasília. O acervo já existia, mas estava desmontado por falta de espaço na sede anterior. O lugar recebeu o nome do pioneiro Ernesto Silva, que teve documentos pessoais doados ao Arquivo Público pela viúva. Considerado uma das figuras mais importantes na construção da capital do Brasil, o médico e militar morreu em 2010, aos 95 anos.