Acampamentos no QG eram “situação incômoda” para governo e Exército, diz G. Dias
Segundo ex-ministro de Lula, acampamento “não deveria ter sido permitido” e criava situação incômoda para governo e Exército
atualizado
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O general Gonçalves Dias, ouvido, nesta quinta-feira (22/6), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, em andamento na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), criticou a manifestação golpista de bolsonaristas em frente ao Quartel-General do Exército. Ao avaliar o movimento como uma “situação incômoda”, ele disse considerar que o ato “não deveria ter sido permitido”.
Acompanhe ao vivo:
Marco Edson Gonçalves Dias era o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República em 8 de janeiro. Pressionado após a divulgação de imagens que o mostram circulando pelo Palácio do Planalto em meio às invasões bolsonaristas, ele acabou pedindo exoneração.
Logo no início da oitiva, o militar leu uma nota de defesa destacando alguns pontos que poderiam ser questionados. Segundo Dias, a permanência do acampamento em frente ao QG após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) era algo incômodo para todos.
“Permanecia, contudo, a situação embaraçosa dos acampamentos de partidários do ex-presidente diante do Quartel-General do Exército, algo que não deveria ter sido permitido e o foi. O governo que assumiu herdou a situação. Ela era incômoda, seja no governo, seja no Comando das Forças Armadas e das Forças de Segurança. Estávamos decididos a pôr fim àqueles acampamentos.”
O ex-ministro do GSI ainda criticou a Secretaria de Segurança Pública do DF por não incluir o GSI na reunião de preparação contra os atos golpistas marcados.
“A Secretaria de Segurança Pública do DF fez uma reunião no dia 6 de janeiro com diversos órgãos e setores encarregados da segurança e prevenção de distúrbios na Esplanada, e não convidou o GSI para se integrar, isso é público.”
Sobre seu antecessor no GSI, o também general Augusto Heleno, G. Dias disse: “Não tive, especificamente, contato com o general Heleno. Não houve transição nenhuma. Também não houve transição nenhuma sobre o que estava acontecendo em frente ao QG”.
CPI do DF
Em andamento desde fevereiro deste ano, a CPI na Câmara Legislativa do DF já ouviu representantes do Exército, do governo Bolsonaro (PL), da Polícia Militar do DF e da Secretaria de Segurança Pública da capital. Entre os destaques, houve oitivas do ex-ministro Augusto Heleno e do general Gustavo Henrique Dutra, que chefiava o Comando Militar do Planalto (CMP).
Heleno deu um depoimento que, segundo deputados da esquerda, teve tom de deboche com a comissão. Ele chegou a defender o golpe militar de 1964, disse que não estava se referindo a Lula quando afirmou, antes da posse, que o “bandido” não subiria a rampa e negou qualquer ação contra o resultado das urnas, mesmo se negando também a falar que confia totalmente no sistema eleitoral brasileiro.
O general Dutra detalhou a versão do Exército sobre o momento seguinte às ordens de prisão de golpistas no acampamento em frente ao Quartel-General, na noite do dia 8/1. Segundo ele, os bolsonaristas só não foram detidos imediatamente porque havia risco de morte com essa operação, que seria complexa, e o próprio presidente Lula concordou com a realização das prisões apenas no dia seguinte.
Veja alguns trechos de outros depoimentos:
Primeiros depoimentos
O primeiro ouvido nas investigações da CPI foi Fernando de Sousa, que era secretário em exercício da Secretaria de Segurança Pública do DF no dia da tentativa de golpe, já que o então titular da pasta, Anderson Torres, estava em viagem aos Estados Unidos. Sousa afirmou que Torres saiu de férias sem deixar “nenhuma orientação específica” sobre os atos de 8 de janeiro.
A segunda pessoa ouvida pela CPI foi Marília Ferreira Alencar, ex-subsecretária de Inteligência da SSP-DF. Ressaltando que alertou aos integrantes da pasta, incluindo superiores, sobre os “ânimos exaltados” dos bolsonaristas antes da tentativa de golpe, ela defendeu que não houve falha do setor de monitoramento.
Um dos depoimentos mais longos foi o do ex-comandante de Operações da Polícia Militar do DF Jorge Eduardo Naime, preso em fevereiro devido à atuação no dia dos atentados terroristas contra as sedes dos Três Poderes. Naime é investigado por denúncias de que teria retardado a tropa intencionalmente para permitir a fuga de manifestantes e que ainda havia tentado fugir de Brasília por medo de ser preso.
Coronel da PMDF diz que acampamento golpista no QG do Exército “parecia uma seita” com denúncias de tráfico, prostituição e estupro.
Em depoimento à CPI da Câmara Distrital, Jorge Naime afirmou que levou denúncias ao Exército e ofereceu 500 homens para desmobilizar os golpistas. pic.twitter.com/OkjwyEy8R7
— Metrópoles (@Metropoles) March 16, 2023
Em depoimento, ele detalhou a existência de diversos crimes no acampamento do QG, como a “máfia do Pix”, tráfico de drogas e roubos, disse que o Exército cancelou por duas vezes ações da PMDF de desmobilização daquele ato bolsonarista e relatou “estranheza” com a informação do número do efetivo da Polícia Militar no 8 de Janeiro.