À PCDF, motorista de app diz que não chegou a agredir passageira por balões
Ele alega ter agido apenas em legítima defesa. Todas as testemunhas, contudo, disseram que homem partiu para cima da mulher
atualizado
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O motorista de aplicativo acusado de agredir uma mulher após uma discussão por balões negou ter batido na passageira. Em depoimento na 21ª Delegacia de Polícia, ao qual o Metrópoles teve acesso, ele alegou ter somente se defendido.
A bancária Geraldina Lúcia de Oliveira Araújo, 29 anos, registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) relatando ter apanhado do motorista de aplicativo, no final da tarde desse sábado (5/12), em Águas Claras. Segundo a passageira, a violência ocorreu após o condutor reclamar que ela levava balões dentro do carro, o que atrapalharia a visão dele durante o trajeto.
O homem sustenta ter pedido a ela e a amiga que a acompanhava para colocarem os balões no porta-malas do veículo, mas não foi atendido. As passageiras, então, teriam dito que cancelariam a viagem. Geraldina afirma que foi insultada ao sair do veículo e bater a porta.
Nesta noite, o motorista repetiu a versão dada aos investigadores em conversa com o Metrópoles, sob a condição de não ter a identidade revelada. Ele conta a história de outra forma:
“Quando ela desceu, eu não tinha nem iniciado a viagem ainda, mas quem cancelou fui eu. Eu desci do carro, olhei pra ela e falei ‘eu não te maltratei, eu não fui ignorante com você, eu não te ofendi e nem te xinguei, só te pedi pra abaixar os balões”, alegou. “Então não bata a porta do carro porque eu não fiz nada com você’. Ela disse então ‘se eu quiser, bato a porta de novo’. E aí foi quando ela abriu a porta e bateu de novo”, afirmou o motorista.
Ainda segundo o homem, a confusão teve início devido à atitude da mulher de bater a porta com força duas vezes, como provocação. Foi quando ele se aproximou para estourar o balão, mas ele acredita que não conseguiu: “Acho que a unha delas acabou pegando e estourou antes”.
Veja esse momento:
Uma mulher acusou motorista de app de agressão após discussão por balões. Passageira saía de casa, no DF, para celebrar aniversário, mas condutor reclamou dos balões no carro. Após briga, ele teria a agredido. Em vídeo, é possível ver a cena. PCDF apura #Metrópoles pic.twitter.com/WXyIUo1V21
— Metrópoles (de 🏠) (@Metropoles) December 6, 2020
Ainda segundo o motorista, quando o balão estourou, a passageira largou tudo e avançou nele. “Eu fui dizendo pra ela me soltar, e ela foi me empurrando para o outro lado da rua, segurando minha camisa. Rasgou minha camisa toda, estou cheio de marcas de unha no corpo”, disse.
“Numa das vezes que eu tentei puxar o celular acabou vindo na minha mão, e eu joguei no chão. Em momento algum eu fui contido por populares na rua, em momento algum eu dei socos e chutes nela. Falaram que eu me unhei pra deixar marca e rasguei minha blusa, mas em momento algum isso aconteceu”, ressalta.
Por fim, o homem garantiu ter sido Geraldina quem precisou ser contida por populares. “Se eu tivesse agredindo era eu quem deveria ter sido segurado, e não ela”, concluiu.
O momento da suposta agressão foi gravado e o vídeo circula nas redes sociais.
Assista:
Vizinhos presenciaram
Durante a discussão, vizinhos tentaram parar as agressões e impedir que o motorista deixasse o local. O técnico de manutenção Lair Lima de Brito, 59 anos, testemunhou o momento e acompanhou Geraldina até a delegacia em seguida.
“Eu estava recebendo uma encomenda lá do lado e vi a moça saindo do prédio, com os balões. Pouco tempo depois, vi que ela saiu de um carro, fechou a porta, e o motorista desceu ao encontro dela. Aí eu ouvi a palavra ‘rapariga’”, conta o vizinho.
Lair relata que outros moradores também presenciaram quando o motorista estourou o balão e a violência começou. “Logo começaram as agressões, tapas e chutes, e eu já me envolvi. Retirei a moça de lá e fiquei na frente do carro para ele não sair”, diz. De acordo com o vizinho, o condutor teria ainda rasgado a própria camisa, para alegar que fora agredido por Geraldina.
“Ele deu dois tapas no rosto dela e chutou. Pegou o celular dela, talvez para ela não fazer nenhum contato, mas já estava todo mundo ligando para a polícia”, afirma. “Ela estava se defendendo, isso todo mundo viu, é fato […] Era o dia do aniversário da moça e ela foi humilhada”, completa.
Conforme o Boletim de Ocorrência registrado na 21ª Delegacia de Polícia, “todas as testemunhas apresentadas na delegacia disseram que apenas ele agrediu a vítima e teria rasgado as próprias vestes”.
Procurada para comentar o caso, a PMDF disse que “atendeu a ocorrência, prestou apoio à vítima e conduziu o motorista à delegacia, onde ficou detido e foi autuado por lesão corporal e injúria”.
Ao Metrópoles, a Uber explicou que, quando a plataforma recebe denúncia de caso envolvendo violência, tanto o perfil do passageiro como o do motorista ficam suspensos temporariamente até que a empresa possa apurar o fato. No entanto, a plataforma informou que, em breve, a conta de Geraldina será reativada. Já o perfil do motorista, está definitivamente fora do ar.
“Este tipo de comportamento configura violação aos termos de uso da plataforma e a conta do motorista parceiro já foi desativada”, disse, em nota. A Uber ainda ressaltou que “considera inaceitável e repudia qualquer ato de violência contra mulheres”. “A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos dessa natureza às autoridades competentes e se coloca à disposição para colaborar com as investigações, na forma da lei”, destacou.