A incoerência de Rollemberg, segundo Ricardo Noblat
Declaração do colunista da Veja tem valor especial por ele já ter vivido a censura na pele, quando se opôs ao governo Joaquim Roriz em 2002
atualizado
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Símbolo da profissão no Distrito Federal, o jornalista Ricardo Noblat engrossou o coro de formadores de opinião que repudiaram a censura do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) ao Metrópoles.
“Quando deputado distrital, Rodrigo Rollemberg me procurou para prestar solidariedade ao jornal”, disse Noblat na rede social. “Como governador, desativa o painel de notícias do mais completo site de informações de Brasília. Vergonha!!!”, assinalou o conceituado jornalista.
A declaração de Noblat tem valor especial justamente porque ele sentiu na pele o que é comandar uma redação sob o manto da censura ao se contrapor ao governo de Joaquim Roriz. Diretor de Redação do jornal Correio Braziliense à época, o periódico comandado por ele se viu perto de encerrar as operações devido ao boicote sofrido nas campanhas publicitárias em função de reportagens que contrariavam os interesses do então governador.
Em 2002, o desembargador Jirair Meguerian acatou pedido de Roriz, candidato à reeleição, para barrar a divulgação de uma conversa por telefone do político com o empresário e futuro distrital Pedro Passos, acusado de grilagem de terras. A fita havia sido gravada pela Polícia Federal com autorização judicial.
Em sua conta no Twitter, com mais de 1 milhão de seguidores, Noblat, que também já foi colunista de O Globo e hoje escreve para a revista Veja, deu um depoimento objetivo, mas contundente.
O tuíte foi acompanhado de outras postagens em repúdio à atitude do chefe do Executivo local. Veja na galeria abaixo.
Repórter da Veja e autor de um perfil que desagradou a família Rollemberg, Ulisses Campbell também criticou a atitude do governador contra o Metrópoles. “Não é de se espantar que ele hoje use de expedientes rasteiros para calar jornalistas”, disparou, no Facebook.
“Me veio à cabeça o que ele [Rollemberg] fez quando saiu o perfil dele na Veja”, recordou o experiente jornalista. O texto, que pode ser conferido aqui, foi publicado em dezembro de 2014, pouco depois de o político vencer as eleições e dias antes da posse.
O apoio de Noblat e de Campbell ocorre dois dias após o governador usar a Agência de Fiscalização do DF (Agefis) para censurar o Metrópoles. Ainda na segunda-feira (4), cresceu a solidariedade de veículos de imprensa ao portal. O renomado colunista Matheus Leitão, do Globo.com, foi um dos profissionais a manifestar indignação com a atitude arbitrária do titular do Palácio do Buriti.
Para o jornalista, Brasília foi “surpreendida com a censura em pleno 2018”. Conforme citou, o Governo do Distrito Federal (GDF) retirou o painel digital instalado em um edifício no Setor Bancário Sul (SBS) após o equipamento veicular conteúdo “que continha críticas à gestão” Rollemberg. Matheus passou por redações da Época, iG, Folha de S.Paulo e Correio Braziliense.
A diretora de Redação da Agência Lupa, Cristina Tardáguila, também manifestou indignação. Pelo Twitter, Cristina disse que “ninguém vai conseguir calar os jornalistas” e se solidarizou com o Metrópoles. A Lupa é a primeira agência especializada em fact-checking no Brasil e, devido à seriedade e rigor na apuração, rapidamente angariou respeito de toda a imprensa, do meio político e do público no país.
No domingo (3), a colunista Andreza Matais, do Estadão, incluiu em sua conta no Twitter a reportagem publicada pelo Metrópoles na qual a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional DF (OAB-DF) condenam a ação do governo.
“Enquanto isso, em Brasília, o governador manda retirar painel com notícias. Defende a liberdade de imprensa? Compartilhe!”, pediu Andreza Matais aos seguidores.
Nesta segunda (4), ela abordou o tema na coluna impressa do tradicional periódico paulista.
Confira:
A colunista também comentou o assunto em sua conta pessoal no Twitter e ironizou Rollemberg. Conforme pontuou, se o governador do DF fosse prefeito de Nova York, uma importante atração turística da metrópole norte-americana estaria ameaçada.
Quem também se manifestou nas redes contra o autoritarismo de Rollemberg foi o jornalista do Estadão e escritor Leonencio Nossa: “A censura costuma revelar não apenas autoritarismo, mas a fraqueza encoberta pelo poder”.
Em plena democracia, O Estado de S.Paulo também já foi alvo de censura. O periódico tem, em seu site, uma página dedicada ao tema.
Principal veículo do Paraná, a Gazeta do Povo igualmente repudiou os ataques de Rollemberg à liberdade de imprensa. Reportagem publicada no domingo (3/6) destaca que o “GDF censura painel de jornal que criticava o governador“.Em 2016, a própria Gazeta do Povo sentiu o peso da máquina estatal, quando foi alvo de diversas ações judiciais coordenadas por magistrados do Paraná contra o jornal. A investida ocorreu após uma série de reportagens publicadas sobre a remuneração dos membros do Poder Judiciário e do Ministério Público do estado.
Ao comentar a censura no Twitter, o jornalista Claudio Dantas retuitou post da diretora de Redação do Metrópoles, Lilian Tahan, e foi enfático. “Por que não estou surpreso, Rollemberg?”, indagou Dantas, um dos fundadores do site O Antagonista e ex-editor da IstoÉ, com passagem pela Folha de S.Paulo.
O diretor de Redação da revista Crusoé, Rodrigo Rangel, também usou o Twitter para lamentar a atitude de Rollemberg.
“O governador do Distrito Federal vai à Justiça para retirar um painel de notícias – notícias que o incomodavam, inclusive – no centro de Brasília. Como se não existissem problemas de verdade para ele resolver na capital do país”, frisou o jornalista.
Fundador do site Congresso em Foco, referência da cobertura política em Brasília e no país, Sylvio Costa lembrou que a democracia “é uma planta frágil, que requer cuidados diários e permanentes esforços para aprofundá-la e aprimorá-la”.
No momento em que uma parcela crescente da população passa a defender a volta da ditadura, que é o mais odioso dos regimes políticos, os governantes devem dar bons exemplos, reafirmando os princípios democráticos e demonstrando tolerância com as críticas. Agir de modo diferente é dificultar o livre exercício do jornalismo
Sylvio Costa, fundador do site Congresso em Foco
Comandado pelos jornalistas Fernando Rodrigues e Tales Faria, o site Poder 360 deu destaque para a notícia. Mostrou que a motivação da retirada foi a veiculação de uma campanha publicitária do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do Distrito Federal (SindSaúde), no dia 16 de maio. “O sindicato criticava a gestão de Rollemberg e falava em incompetência e omissão”, destacou o Poder 360.
Imprensa calada
O site O Livre, de Mato Grosso, também prestou solidariedade ao Metrópoles. Texto assinado pelo jornalista Guilherme Waltenberg, diretor de Jornalismo da plataforma, pontuou o ataque sofrido pelo grupo.
É inadmissível que o poder público se escore em legislações obscuras para disfarçar a censura. A inovação, aquilo que o Metrópoles tem como marca desde que foi lançado, não pode ser calada para atender aos caprichos de qualquer que seja o grupo no poder – sobretudo em ano eleitoral
Guilherme Waltenberg, diretor de Jornalismo de O Livre
Especializado em notícias jurídicas, o site Jota também repercutiu o episódio. “O caso Metrópoles: cumprindo a lei ou impondo a censura?”, questionou.
Outro tradicional site voltado para a cobertura jurídica, o Migalhas abordou o tema nesta segunda (4/6): “Remoção de painel digital de site de Brasília gera discussão sobre eventual censura”.
O Portal Comunique-se comentou o assunto em reportagem publicada nesta segunda-feira (4), sob o título Censura: site denuncia governador do DF.
Para o site Justiça em Foco, a ofensiva do governador foi uma “atitude traiçoeira”, segundo texto divulgado nesta segunda (4). Na matéria General Rodrigo Rollemberg tenta censurar o Portal Metrópoles, a publicação diz que o político “usou de todas as maneiras seu poder de chefe do Executivo local” para coibir a imprensa livre.
O Jornal Alô Brasília dedicou a coluna política desta segunda à arbitrária decisão de Rollemberg e frisou que entidades defensoras da liberdade de imprensa se manifestaram em solidariedade ao grupo Metrópoles.
Em reportagem publicada nesta segunda-feira, o site Teleguiado foi outro veículo a destacar a censura do GDF. A matéria diz que “a ação [da Agefis], realizada a toque de caixa, é tratada como uma represália às reportagens que denunciaram a omissão da Secretaria de Saúde do Distrito Federal em relação ao gravíssimo caso clínico do bebê Matheus, morto na última sexta-feira (1°)”.
A jornalista e ativista Leiliane Rebouças também se manifestou nas redes sociais. “Por que somente agora o governo de Brasília resolveu se preocupar com uma suposta ‘poluição visual’? O que é um painel eletrônico diante de um Teatro Nacional fechado? Diante de um Museu da República necessitando de reformas?”, indagou.
Até ex-número um de Rollemberg critica o governador
Hélio Doyle, jornalista e ex-chefe da Casa Civil de Rollemberg, foi incisivo ao classificar a atitude do governador de retaliação ao Metrópoles.
Doyle, que há anos convive com o governador e conhece a personalidade de Rollemberg como poucos, cravou, em seu blog, o motivo do ataque ao painel eletrônico: “O governo só os retirou para impedir críticas do Metrópoles“.
Para o ex-braço direito do governador, “é óbvio que a retirada apenas agora, às vésperas da eleição, é uma ação política do governo, incomodado pelo painel do portal Metrópoles“. Hélio Doyle ressalta que a medida foi uma punição, pois Rollemberg “não tem como enquadrar o Metrópoles como faz com outros veículos de imprensa”.
O painel, em local de grande movimento, vinha expondo críticas ao governador Rodrigo Rollemberg e a sua gestão – o que, além de ser um direito do portal, é o que fazem nove entre 10 brasilienses
Hélio Doyle, jornalista e ex-chefe da Casa Civil de Rollemberg
Jornais regionais e blogs
Além de jornais de repercussão nacional, veículos com inserção local também repercutiram a truculenta ação do Governo do Distrito Federal. O Diário de Ceilândia, por exemplo, ressaltou que “o governador Rodrigo Rollemberg demonstra claramente todo o conservadorismo que, em pleno século 21, permanece impregnado nos mais diversos setores da política brasiliense e brasileira”.
O episódio foi registrado no site Brasiliários, do jornalista Romário Schettino, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal. A matéria Censura em pauta: Rollemberg x Metrópoles apresenta um resumo do caso e registra manifestações de entidades e defensores da liberdade de opinião e de imprensa em repúdio à censura.
O site Política Distrital, do jornalista Kleber Karpov, traz um compilado de matérias sobre o tema e classifica a atitude de Rollemberg como “Lei da Mordaça”. Odir Ribeiro, do Blog Rádio Corredor, também se solidarizou e disse que a censura se trata de ação “abjeta”. O blogueiro Rodrigo Pilha, da página Botando Pilha, subiu o tom: “Estão esperando o que para depor esse tirano?”
Também repercutiram a censura imposta por Rollemberg o Brasília in Foco News, a Tribuna Brasiliense e o Contexto Exato.
No Facebook, o Jornal Notícias de Brazlândia provocou: “Estamos em um país democrático ou não?”. Em um post no Facebook, o site Cidades e Condomínios também usou as redes sociais para se solidarizar e classificou a atitude do governador como característica de “regimes ditatoriais”.