A cronologia do homem-bomba que deixou SC para se explodir em Brasília
Francisco Wanderley Luiz morreu após se explodir na Praça dos Três Poderes, na noite de quarta-feira (13/11). Veja a cronologia do criminoso
atualizado
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Os passos de Francisco Wanderley Luiz, 59 anos, que antecederam as explosões na Praça dos Três Poderes, na noite dessa quarta-feira (13/11), estão sendo investigados pela Polícia Federal.
Até o momento, sabe-se que o catarinense mudou-se para o Distrito Federal há aproximadamente três meses. Nessa quarta, momentos antes do ataque terrorista que acabou na própria morte, Francisco publicou uma série de ameaças e alertas nas redes sociais.
A reportagem cruzou relatos de testemunhas, da polícia, bem como horários registrados em câmeras de segurança, para explicar a cronologia dos fatos. Confira:
No último contato com um dos filhos, Francisco contou que estava saindo de Santa Catarina para viajar. O rapaz disse que o pai “estava abalado devido a problemas pessoais com a mãe” dele.
A desculpa da viagem também foi apresentada pelo criminoso ao caseiro que cuida da casa dele, em Rio do Sul (SC). Em entrevista ao Metrópoles, o trabalhador contou que o patrão informou, há um mês, que “iria passar um tempo na praia” para “dar uma descansada”.
Francisco chegou ao Distrito Federal em meados de junho. Na ocasião, fixou residência em um imóvel alugado na QNN 7, em Ceilândia. O local, contudo, já estava sendo pago mensalmente por Francisco, no valor de R$ 400, desde 2023. O homem, porém, só teria se mudado há pouco mais de três meses.
Em agosto, Francisco esteve na Câmara dos Deputados e visitou o parlamentar Jorge Goetten (Republicanos-SC). Na ocasião, o homem-bomba avisou a membros do gabinete do deputado que tinha alugado uma casa em Ceilândia, por ser um lugar mais em conta.
Depois de meses instalado na unidade da Federação, e uma hora antes de cometer os atentados, Francisco antecipou, nas redes sociais, em uma série de mensagens, o ataque a bombas em frente à sede do STF. “Cuidado ao abrir gavetas, armário, estantes, depósito de matérias etc. Início 17h48 horas do dia 13/11/2024… O jogo acaba dia 16/11/2024. Boa sorte!!!”, escreveu.
Cerca de uma hora após a divulgação das mensagens, Francisco foi visto circulando pela Câmara dos Deputados. Segundo testemunhas, ele entrou nas dependências da Casa Legislativa para usar o banheiro e saiu logo em seguida.
Momentos depois, a primeira explosão foi ouvida, pouco depois das 19h. Conforme informado pela governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), durante coletiva de imprensa, o homem teria explodido o próprio carro no estacionamento do Anexo IV da Câmara dos Deputados, antes de seguir para o STF.
Testemunhas que presenciaram o momento em que o carro de Francisco explodiu registraram o veículo em chamas. Veja:
Francisco, então, chega à Praça dos Três Poderes com um guarda-chuva em mãos. Segundo informou Celina Leão, ele tentou invadir o STF com um artefato explosivo, mas não obteve sucesso.
Por volta das 19h28, ele larga o guarda-chuva, abre o que aparenta ser uma mochila, tira alguns itens de dentro e atira um objeto luminoso em direção à Estátua da Justiça.
Seguranças do próprio STF se aproximam de Francisco. Um deles chega a parar em frente à Estátua da Justiça. Em seguida, um objeto em chamas aparece nas mãos do homem, que atira o item em direção ao prédio do STF.
Pouco depois, os seguranças se afastam, uma fumaça aparece próximo a Francisco e, em segundos, ele se deita no chão. Fogos de artifício surgem perto da cabeça dele, e o terrorista não se levanta mais.
O corpo de Francisco ficou caído ao chão, amarrado a outros artefatos, completamente desfigurado. O lado direito da cabeça e a mão direita do homem parecem ter sido atingidos pela explosão. Restos mortais dele foram arremessados a metros do local.
Após uma avaliação com auxílio de um robô e de equipamentos para detecção de potenciais objetos de risco, a corporação encontrou quatro artefatos suspeitos, que poderiam ser explosivos, junto ao corpo de Francisco.
Três desses itens estavam no cinto dele, e o quarto seria um extintor – a alguns metros de distância do ponto da explosão e supostamente adaptado para estourar –, cujo pino detonador estava na mochila do homem-bomba.
Bombas
Após as explosões, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) deu início a uma varredura no local, por “risco de novas explosões”. Para isso, a corporação isolou as vias N2 e S2 da Esplanada, bem como a Praça dos Três Poderes e a própria Suprema Corte.
Durante as buscas, a PMDF encontrou outros quatro artefatos vinculados a Francisco. Dois, que foram detonados, estavam no carro do suspeito, próximo ao prédio do Anexo 4 da Câmara dos Deputados; outros dois estavam em um minitrailer, alugado pelo terrorista, estacionado ao lado do veículo.
No endereço onde Francisco vivia em Ceilândia, a corporação também encontrou armadilhas com outras três bombas. No total, 11 explosivos foram ligados ao criminoso.
De acordo com o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, os “explosivos eram artesanais, mas com grau grande de danos, parecido com granada,” e os atos teriam sido planejados com antecedência. “Há indícios de planejamento em longo prazo. Esteve em Brasília no início de 2023. Uma investigação apura se ele estava no 8/1.”
Nesta quinta-feira (14/11), agentes da PF cumpriram um mandado de busca e apreensão no endereço do autor em Rio do Sul, no Alto Vale do Itajaí (SC). Foram apreendidos um telefone celular e pen-drives, mas não foram localizados materiais com relação direta às explosões dessa quarta.
“Estátua de merda”
Na casa que alugou em Ceilândia, no Distrito Federal, Francisco deixou um recado para uma bolsonarista presa pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. No espelho do imóvel, o homem-bomba escreveu: “Débora Rodrigues. Por favor, não desperdice batom!! Isso é para deixar as mulheres bonitas!!! Estátua de merda se usa TNT [dinamite]”.
Débora Rodrigues dos Santos é a mulher presa por escrever “Perdeu, mané” na Estátua da Justiça – escultura instalada na frente da sede da Suprema Corte –, na data da tentativa de golpe, em janeiro de 2023.
Ministros como alvos
Andrei Rodrigues afirmou que Francisco tinha intenção de “matar ministros da Suprema Corte”, e que seu alvo principal era Alexandre de Moraes. “Parece que essa pessoa queria entrar no prédio do Supremo, não conseguiu e, por isso, resolveu fazer o que fez”, afirmou.
Segundo o diretor-geral da corporação, esse não foi um fato isolado e se conecta com outras investigações da PF, como o inquérito sobre os atos do 8 de Janeiro.
O diretor-geral citou um áudio, atribuído à ex-esposa de Francisco Wanderley, que corroboraria a hipótese de Moraes ser, de fato, o alvo do homem-bomba. “O próprio áudio [da esposa] e outras mensagens enviadas nas redes sociais ameaçando a Corte, especificamente nesse caso da senhora, diziam que o alvo dessa pessoa era, sim, o ministro Alexandre de Moraes”, destacou o chefe da Polícia Federal.
Candidato a vereador
Francisco Wanderley Luiz usava o codinome Tiü França nas redes sociais. Ele morava em Rio do Sul (SC) e foi candidato a vereador no município catarinense pelo Partido Liberal (PL) em 2020. Com 98 votos, não conseguiu se eleger.
Nas redes sociais, Francisco escreveu mensagens sugerindo um ataque com bombas contra alvos políticos que ele chama de “comunistas de merda”.
Ele chegou a divulgar prints que mandava a si próprio com várias ameaças. “Vocês poderão comemorar a verdadeira proclamação da República”, diz uma das mensagens. No post, ele alegou que o “jogo só acaba em 16/11/2024”. Em uma outra publicação, Francisco Wanderley está dentro do plenário do STF e diz “deixaram a raposa entrar no galinheiro”, contou.