A cada três horas, uma residência é atingida por incêndio no DF
Em 2020, bombeiros do DF registraram 2.498 ocorrências do tipo. Corporação alerta para aumento de casos nesta época quente e seca
atualizado
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Após perder a casa e o neto Leonardo Henrique Pereira da Costa em um grande incêndio, a pastora Maria das Graças, 70, ainda não sabe como irá se reerguer. Além do luto após o falecimento do menino de 10 anos, a idosa lida com a angústia de precisar arrecadar R$ 70 mil para recuperar os bens destruídos pelas chamas. Ela, porém, é apenas uma entre milhares de moradores do Distrito Federal que sofreram neste ano com danos irreparáveis causados por incêndios domésticos.
Segundo o Corpo de Bombeiros (CBMDF), de janeiro a setembro de 2020, foram atendidos 2.498 chamados para os militares combaterem incêndios em residências da capital.
Isso significa que a corporação registrou a média de nove casos dessa natureza por dia: ou cerca de uma ocorrência a cada três horas.
Na comparação com o mesmo período de 2019, os números não mudam muito. De janeiro a setembro do ano passado, o CBMDF atendeu a 2.534 ocorrências de incêndio em residências, 36 a mais do em 2020.
Veja os dados:
Ao Metrópoles, a pastora da Igreja Pentecostal Rio de Água Viva, Maria das Graças, conta que agora vive uma batalha diária para conseguir um novo lar. “Eu perdi tudo que tinha. Só Jesus para me ajudar agora”, lamenta.
O neto dela, Leonardo Henrique, morreu asfixiado em decorrência da inalação da fumaça no incêndio ocorrido na residência da idosa, em Planaltina, no último dia 5. O menino foi sepultado nessa terça-feira (7/10). Enquanto a mãe do garoto, Luzinete Barbosa, recupera-se no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), amigos da avó organizam vaquinha on-line para ajudá-la.
“Já estou recebendo doações de móveis, mas agora a luta é para comprar uma casa. Disseram que vão me mandar geladeira, cama, fogão, sofá. Então, Deus já está agindo, mas sigo hospedada na casa de irmãos da igreja e preciso de uma nova casa para recomeçar”, afirma Maria das Graças. “O que a gente arrecadar além disso vou doar para quem precisa”, garante.
Além do caso de Leonardo, outras histórias com finais trágicos envolvendo crianças vítimas de incêndio em residência chocaram a população da capital em 2020. No dia 10 de janeiro, um menino de apenas 4 anos veio a óbito após ter 99% do corpo queimado em um incêndio na Cidade Estrutural. Alex Sandro Pereira estava em coma induzido no Hospital da Criança de Brasília (HCB) quando sofreu uma parada cardíaca e não resistiu.
Em 23 de fevereiro, outro incêndio deixou uma casa devastada na QR 425 de Samambaia. Na ocasião, duas crianças e um adulto faleceram. Daniel Pereira Lopes, 35 anos, padrasto dos pequenos, teve 95% do corpo queimado e morreu no hospital. Kyara Pereira, 2, faleceu ainda no imóvel e Adryan Pereira, 4, veio a óbito três dias depois.
Principais causas
Segundo explica o capitão Baigorri, perito de incêndio do CBMDF, a causa mais frequente de fogo em edificação é o fenômeno elétrico. “Geralmente, os incêndios generalizados ocorrem quando não há ninguém na residência ou a pessoa está dormindo e não consegue combater”, pontua.
“O chamado curto-circuito principalmente. Mas pode ser também alguma sobrecarga. Depois, vêm os casos com velas, que é a ‘chama aberta’, ou casos de pessoas cozinhando, a ‘chama direta'”, cita.
Conforme analisa o perito, os registros de ocorrências do tipo aumentam nesta época do ano, devido ao intenso calor e à baixa umidade na capital. “Em setembro, os casos já sobem, porque você tem altas temperaturas, que podem levar a uma sobrecarga do sistema elétrico e, consequentemente, ao aumento de problemas elétricos nas residências, já que as pessoas usam mais aparelhos como ar-condicionado, por exemplo”, explica.
“Esse tempo também facilita os princípios de incêndio em veículos, que sobreaquecem com o calor. Também há os casos em que um incêndio florestal, provocado pela seca, atinge edificação, causando incêndio em residência…”, completa o expert.
Nas ocorrências que envolvem crianças, Baigorri comenta que, na maioria das situações, elas estão brincando com fósforo, isqueiro ou fogos de artifício. “Casos com crianças normalmente estão relacionados com a chama aberta. E é muito comum que elas, em vez que fugir, escondam-se na residência, o que é um problema”, diz.
“Por isso, é importante orientar crianças, pessoas com deficiência e idosos que não combatam o fogo que não se escondam, mas saiam da residência e chamem o 193”, alerta o capitão.