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A cada hora, Educação recebe dois atestados médicos de professores

Carga exaustiva, más condições de trabalho, superlotação das salas de aula estão entre as causas de adoecimento de docentes

atualizado

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1 de 1 prof destaque - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

Um dos episódios mais marcantes da última semana foi o de uma professora da rede particular de ensino que sumiu da 913 Sul deixando colegas, amigos e familiares preocupados. Diagnosticada com depressão há dois anos, Patrícia Coelho Barreto, 29 anos, foi achada um dia depois do desaparecimento, em Luziânia (GO). Ela vai ficar longe do trabalho por tempo indeterminado para tratar da doença, que atinge outros docentes do DF. A cada hora, a Secretaria de Educação registra uma média de duas licenças ou atestados médicos e odontológicos desses profissionais.

Segundo a pasta, foram 21,8 mil em 2016. Este ano, a média é parecida. Até a última quinta-feira (22), o número era de 9,7 mil, o que dá 53 por dia, ou dois por hora. A rede pública tem quase 29 mil docentes na ativa.

A secretaria não aponta as causas dos afastamentos médicos. Mas, de acordo com o diretor do Sindicato dos Professores (Sinpro) Samuel Fernandes, pelo menos 70% dos casos envolvem depressão e outros problemas psicológicos.

 Cobramos do governo uma política de prevenção que leve em conta as pressões sofridas no dia a dia das escolas. Salas superlotadas, estruturas precárias, indisciplina, ameaças e violência são fatores que provocam uma série de doenças ocupacionais e levam centenas de professores à depressão

Samuel Fernandes

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Post feito pela Escola Maria Montessori, onde a professora Patrícia Coelho trabalha há sete anos
A escola afastou Patrícia para que ela cuide da saúde
Genival Tavares da Cruz morreu no mesmo local da irmã, Jéssica
Jéssica tinha trancado o curso de música na UnB
Caso de Jéssica é investigado pela Polícia Civil
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A professora Patrícia Coelho desapareceu na última terça (20/6) e foi encontrada no dia seguinte em uma igreja em Luziânia (GO)

Reprodução
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Post feito pela Escola Maria Montessori, onde a professora Patrícia Coelho trabalha há sete anos

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A escola afastou Patrícia para que ela cuide da saúde

Arquivo pessoal
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Genival Tavares da Cruz morreu no mesmo local da irmã, Jéssica

Divulgação/Arquivo pessoal
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Jéssica tinha trancado o curso de música na UnB

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Caso de Jéssica é investigado pela Polícia Civil

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Jéssica era musicista

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Em setembro do ano passado, professores reivindicaram melhores condições de atendimento clínico em ato na Subsecretaria de Segurança e Saúde no Trabalho (Subsaúde)

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Em junho deste ano, a classe reclamou que aposentados estavam desde 2016 sem receber benefícios do GDF

Arquivo pessoal
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Em abril deste ano, professores da rede pública fizeram greve para reivindicar reajustes salariais e melhores condições de trabalho

Metrópoles/Arquivo

Muitos profissionais precisam se desdobrar em mais de um turno de trabalho. É o caso de uma professora que conversou com o Metrópoles sob a condição de ficar no anonimato. Ela disse que cumpre maratona de 80 horas semanais dentro das salas de aula, em escolas das redes pública e privada.

“Nesta profissão, precisamos ultrapassar nossos limites de trabalho para termos um salário digno”, disse a professora, que tem 13 anos de experiência em sala de aula. Ela enfrenta problemas nas cordas vocais. “Na rede privada, somos mais pressionados. Precisamos entregar resultados por mais impossíveis que sejam, sem contar que não há estabilidade. Somos desvalorizados e descartáveis”, disse.

A professora compara os dois empregos e diz que, apesar da estabilidade oferecida pelo ensino público, não existem condições físicas e estruturais adequadas para exercer a profissão com qualidade. “Não temos plano de saúde, faltam recursos em sala de aula e isso reflete no objetivo final, que é a educação do aluno”, afirmou.

O Métropoles ouviu outra professora que também não quis ser identificada e trabalha em escolas particulares do Distrito Federal há cinco anos. Atualmente, ela leciona 50 horas semanais e diz nunca ter recebido um salário maior do que R$ 2,5 mil por mês.

“Desde que trabalho em escola, desenvolvi problemas nas cordas vocais, sofro de ansiedade, enxaqueca e gastrite nervosa”, elenca a profissional. A professora relaciona essas doenças unicamente ao trabalho.

Casos recentes
Patrícia Coelho Barreto também trabalha em uma escola particular, a Maria Montessori, na 913 Sul. Leciona para o maternal e está na instituição há sete anos. De acordo com colegas, Patrícia recebia atendimento psicológico oferecido pelo colégio e tomava remédios controlados, mas decidiu suspender o uso por conta própria. “Não imaginávamos que ela estava passando por esse tipo de problema”, contou uma das colegas.

O caso fez com que a professora Wanessa Rodrigues publicasse uma carta aberta em forma de desabafo:

Quantas Patrícias serão necessárias para que a sociedade veja que nós, professores, estamos pedindo socorro? Que estamos cheias de atribuições que não são nossas? Estamos adoecendo. Teremos que desistir? Jogar a toalha e acusar nossa derrota? NÃO! Eu me recuso!
Conta comigo, Patrícia. Sua luta é a minha!, diz trecho da carta de Wanessa.

Ainda na última semana, outra história envolvendo professor terminou de forma trágica. Genival Tavares da Cruz, 25, dava aula de idiomas (inglês, francês e espanhol) em uma escola particular de Taguatinga. Fazia faculdade de direito e letras. Só parou a rotina agitada depois que a irmã, a musicista Jéssica Tavares, de 22, morreu. O corpo dela foi encontrado no Lago Paranoá no sábado (17).

Três dias depois, Genival mandou uma mensagem para os familiares dizendo que não podia viver sem Jéssica. O rapaz também foi encontrado no Lago pelos bombeiros e, apesar das tentativas de reanimação, não resistiu. Genival, segundo a mãe, a costureira Marlene dos Santos, 46, mal saía da cama após a morte da musicista. Antes, porém, não dava sinais de que estava deprimido, ainda de acordo com os familiares.

Reprodução de conflitos
Para o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe) e do Conselho de Educação do Distrito Federal (CEDF), Álvaro Domingues, enquanto o Estado não encarar a educação do país como prioridade, as condições de trabalho não serão adequadas nem na rede pública, nem na particular. 

“A escola é um pequeno universo que reproduz todos os conflitos que existem na sociedade. O ambiente de trabalho deve ser digno para que o educador exerça sua atividade com qualidade, sem que prejudique a própria saúde”, pontuou. Atualmente, existem 513 colégios particulares credenciados pelo Sinepe-DF.

Na rede pública, a Secretaria de Educação garante que está tentando reverter o quadro. A pasta criou a Diretoria de Acompanhamento ao Servidor, que, entre outras atribuições, tem o objetivo de prevenir e acompanhar os casos de adoecimento dos funcionários ligados à pasta. 

“Cada vez mais a sociedade apresenta desafios para o exercício da profissão e a secretaria está buscando se aprimorar na abordagem dessa complexidade”, disse a diretora de Acompanhamento ao Servidor, Rosana Carneiro. Segundo ela, o órgão atua para melhorar as condições de trabalho dos professores no DF.

A diretora diz que os males que afetam os professores são um fenômeno mundial, especialmente as doenças psíquicas. “A profissão docente é de natureza relacional e complexa”, ressalta. Segundo ela, alguns projetos de cursos da recém-criada diretoria que ela comanda estão sendo discutidos, como o de técnicas de qualidade da voz voltadas para os professores. 

 

 

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