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A cada dia, DF tem 12 servidores afastados por transtornos mentais

Em menos dois meses de 2022, a Subsaúde homologou 266 atestados por quadros de ansiedade e 103 por episódios depressivos

atualizado

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Agência Brasília
Prédio público
1 de 1 Prédio público - Foto: Agência Brasília

Em menos de dois meses de 2022, o Governo do Distrito Federal (GDF) teve, em média, 12 servidores afastados por dia devido a transtornos mentais e comportamentais. São 569 trabalhadores ausentes. A Subsaúde homologou 266 atestados por quadros de ansiedade e 103 por episódios depressivos. Desse total, 17 licenças médicas foram protocoladas por esgotamento profissional. Os dados são da Secretaria de Economia do DF e foram computados até 15 de fevereiro.

Na Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), dos 6.603 servidores ausentes, a ansiedade é a principal causa de afastamento e chega a 19,61%. Os dados mostram que as mulheres são as que mais pediram licença médica, nos dois últimos anos, para tratar transtornos mentais e comportamentais: 20,62%. Os homens chegaram a 15,74% dos afastados.

Os profissionais de saúde relatam cansaço extremo. É o caso de uma servidora do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que preferiu ter a identidade resguardada. A mulher teve crise de transtorno ansioso depressivo em 2020 e precisou ficar afastada do trabalho por dois meses. Ela já havia parado de trabalhar outras três vezes por esgotamento profissional.

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“Estava sozinha no meu setor. Tiraram uma servidora que trabalhava comigo e nunca a substituíram. E é claro que eu não dava conta de tudo. Eu acabava ficando além do horário, e comecei a ter um cansaço muito grande físico e mental. Então, comecei a ter crises de choro e pânico. Quando pensava no trabalho já me dava tremedeira e desespero. Isso começou em 2015 e tive várias outras crises depois, sendo a pior em 2020”, lembra.

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Lapsos de memória: se a pessoa começa a perceber que a memória está falhando no dia a dia com coisas muito simples é provável que esteja passando por um episódio de esgotamento mental

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Alteração no apetite: na alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve usa a comida como válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras, perdem completamente o apetite

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Autoestima baixa: outro sinal de alerta é a sensação de incapacidade, impotência e fragilidade. Nesse caso, é comum a pessoa se sentir menos importante e achar que ninguém se importa com ela

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Desleixo com a higiene: uma das características da depressão é a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida e perde a vaidade

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Sentimento contínuo de tristeza: ao contrário da tristeza, a depressão é um fenômeno interno, que não precisa de um acontecimento. A pessoa fica apática e não sente vontade de fazer nada

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Para receber diagnóstico e iniciar o tratamento adequado, é muito importante consultar um psiquiatra ou psicólogo. Assim que você perceber que não se sente tão bem como antes, procure um profissional para ajudá-lo a encontrar as causas para o seu desconforto

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A servidora conta que, todas as vezes em que ficou afastada, nunca foi substituída. Em tratamento psicológico, ela recebeu o diagnóstico de Síndrome de Burnout e transtorno ansioso depressivo.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, resulta do estresse crônico no local de trabalho, que não foi administrado com sucesso. A medicina explica que é resultado de uma exposição contínua a condições de trabalho desgastantes e degradantes.

O quadro foi incluído na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde em 2019 e, a partir de janeiro de 2022, passou a integrar, também, o rol de enfermidades ocupacionais, ou seja, ligadas ao trabalho.

Problema institucional

A mulher conta que ficou frustrada com a gestão dos atendimentos da Saúde do DF. Ela revelou ao Metrópoles que, muitas vezes, para evitar que o paciente morresse, os próprios servidores compravam pilhas para colocar nos aparelhos da ambulância que não funcionavam.

“Percebi uma saúde muito sucateada. Nós mesmos comprávamos pilhas para colocar no aparelho de verificar a saturação do paciente. Ou a gente comprava, ou não iria funcionar, então, eu decidia não me eximir. Não queria ver o paciente morrer na minha frente. Ficava sobrecarregada, e virou uma bola de neve”, lamentou.

Em nota ao Metrópoles, a Saúde informou que enfrenta o aumento de afastamentos, principalmente de profissionais da linha de frente, que, ou “foram contaminados, ou estavam abalados pelas perdas pessoais que vivenciaram naquele ano por conta da Covid-19”.

Para o professor do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da UnB, Emilio Peres Facas, a pandemia pode servir como agravador da situação, mas não explica o número alto de servidores afastados por esgotamento profissional. De acordo com ele, o estresse é resultado do estilo de gestão das instituições públicas.

“Nossa pesquisa mostra que o aumento do esgotamento mental dentro das intuições públicas está em curso desde antes antes da pandemia. Agora, só estamos dando mais visibilidade ao problema”, comenta.

O profissional explica que a síndrome pode atingir todos os ofícios, e o tratamento depende do quadro de cada trabalhador, mas, geralmente, os afastamentos se alongam e antecedem uma aposentadoria por invalidez. “Não adianta afastar o servidor e, depois, tentar readaptar o sujeito, se, do ponto de vista institucional, ele volta para o ambiente que o adoeceu. Temos de tratar como em problema institucional”, finaliza.

Longe da sala de aula

Na Secretaria de Educação, a realidade não é diferente. De acordo com o Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF,) as doenças mentais e emocionais são as que mais afetam o magistério. Em 2020, a categoria registrou recorde de readaptações na profissão com professores e orientadores educacionais.

Uma professora de alfabetização que preferiu não se identificar iniciou um quadro depressivo em 2002. Em 2010, precisou deixar a sala de aula antes de o ano acabar. “Peguei a minha pior turma e não consegui ir até o fim do ano letivo. Senti-me impotente e incapaz. Não de alfabetizar, mas de dar conta da turma em termos comportamentais. Nela, havia crianças bem difíceis, com contexto familiar problemático. E eu não tinha suporte e apoio necessário da unidade escolar”, lamenta.

Após cumprir licença e passar por perícia médica, a funcionária voltou para a escola com restrição de função. Mesmo longe da sala de aula, no apoio pedagógico, a mulher conta que adoeceu ao voltar para o ambiente escolar.

“A princípio, voltei ao Subsaúde e pedi a revisão do meu processo de readaptação. A junta médica decidiu que não poderia manter a restrição do meu contato com alunos, já que eu atuava em ambiente escolar. Assim, ao menos limitaram o meu atendimento diário a alunos, em no máximo três ao dia”, explica.

A servidora voltou a fazer atendimentos individuais a alunos no Projeto Interventivo da Escola, uma espécie de resgate para crianças e jovens com dificuldades de aprendizado. Mas a funcionária relata que tinha recaídas para o processo de depressão. Atualmente, ela está na biblioteca da escola da rede pública e se considera jovem para desligar-se do trabalho e ficar em casa.

Ajuda

O projeto Clínica do Trabalho com Trabalhadores em Sofrimento e Adoecimento, da Universidade de Brasília (UnB), oferece atendimento gratuito para trabalhadores que estejam esgotados profissionalmente.

Basta entrar em contato pelo e-mail psicanaliseetrabalho@gmail.com e manifestar o interesse em ser atendido.

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