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A cada 72 horas, um profissional de saúde é vítima de violência no DF

Segundo servidores, o aumento de agressões e ameaças é resultado do desespero de pacientes e acompanhantes diante do caos na saúde pública

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1 de 1 Profissional de saúde - Metrópoles - Foto: Material cedido ao Metrópoles

A cada 72 horas, em média, um profissional de saúde da rede pública do Distrito Federal é alvo de ameaças e agressões. Segundo a Polícia Civil (PCDF), foram registradas 124 ocorrências entre janeiro e novembro de 2023.

Do total de ocorrências registradas entre janeiro e novembro de 2023, 22 foram de agressão, enquanto 102, de ameaças.

As agressões verbais e físicas contra os profissionais responsáveis por salvar vidas dobraram nos últimos três anos. Entre janeiro e novembro de 2021, foram registradas 62 ocorrências. O número de casos teve aumento de 100%.

No total, entre janeiro de 2021 e novembro de 2023, foram computadas 46 agressões e 268 ameaças. Enfermeiros e técnicos de enfermagem são os profissionais de saúde mais agredidos com palavras e golpes.

No entanto, apesar do crescimento de ataques, a quantidade de pessoas indiciadas após das denúncias é baixo. Entre janeiro de 2021 e novembro de 2023, somente 23 agressores foram indiciados.

Trauma

O Metrópoles conversou com uma enfermeira traumatizada após ter sido ameaçada pela acompanhante de um paciente em 2023. A identidade da profissional será mantida em sigilo.

A enfermeira fazia a classificação de risco na pediatria do Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Por superlotação, a unidade atendia apenas pacientes com classificação vermelha.

Quando informou para a família de uma criança, com classificação verde, que deveria buscar atendimento em outra unidade ou voltar em outro dia, a enfermeira começou a ser ameaçada.

Disse que abortei meus filhos

“A acompanhante falou que ia me matar. Disse que eu era filha do capeta, que abortei todos os meus filhos”, contou. A enfermeira estava protegida em uma sala. Por mais de uma hora, a acompanhante gritava e chutava a porta.

O enfermeira mudou de regional e passou a trabalhar em Taguatinga. “Fica muito ruim, para mim, voltar para o hospital. A gente fica com medo, receio, uma sensação de incapacidade, frustração”, lamentou.

Novo colapso

Segundo a deputada distrital Dayse Amarilio (PSB), a violência é reflexo do caos da saúde pública. A prestação de atendimento é fragilizada pela falta de profissionais, desabastecimento de insumos e remédios.

“Muitas vezes o paciente naquela angustia, sofrendo sem atendimento, acaba descontando no servidor. E isso vira um ciclo de violência”, explicou.

“Não temos segurança para os profissionais de saúde. A vigilância oferecida pela rede é patrimonial”, revelou. Ou seja, os vigilantes não são contratados para proteger enfermeiros, médicos e técnicos de enfermagem.

Mapeamento, prevenção e punição

A Câmara Legislativa (CLDF) aprovou projeto de lei para a criação do Relatório Anual de Vitimização dos Profissionais de Saúde do DF, proposto Dayse.

Para a deputada, caso seja sancionado pelo governo, o relatório vai mapear os casos de violência e gerar informações para subsidiar ações e políticas públicas para prevenção, punição e amparo aos servidores agredidos.

Do ponto de vista de Dayse, o baixo índice de indiciamento após as denúncias também é preocupante. “Há subnotificação das denúncias”.

Batalhão hospitalar

Para o presidente do Sindicato dos Médicos do DF (SindMédico-DF), Guttemberg Fialho, uma medida para garantir a segurança dos profissionais de saúde na rede pública seria a criação do Batalhão Hospitalar.

“Tem paciente ameaçando matar médico com faca. O Estado não dá segurança”, desabafou. Neste ano, na Unidade Básica de Saúde (UBS) 1 de São Sebastião, o carro de uma médica foi incendiado.

Segundo Fialho, o Batalhão Hospitalar seria responsável pela vigilância e rondas contínuas nas unidades de saúde, justamente, para assegurar a segurança de profissionais de saúde e também dos próprios pacientes.

O diretor do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem do DF (Sindate-DF) Newton Batista considera vital a instalação de câmeras de segurança nas unidades.

“Temos pedido câmeras nos hospitais, prontos-socorros. Quando se mostra o agressor filmado, isso inibe outros a tentar. Mas, infelizmente, não temos visto medidas para a instalação delas”, comentou.

Outro lado

O Metrópoles entrou em contato com a Secretaria de Saúde e com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF). Os gestores afirmaram que monitoram os casos e têm atuado para diminuir os índices de violência.

De acordo com os órgãos, existem equipes de segurança em 100% dos locais de atuação preparadas para triagem de casos suspeitos de pacientes com sinais clínicos de uso de drogas e ou álcool.

A gestão atualizou o protocolo de atendimento e orientando a equipe assistencial para que os atendimentos sejam feitos em dupla.

A gestão da rede pública argumentou que tem investido em melhorias tecnológicas para informar o tempo de espera dos pacientes de cada unidade.

Também, há disponibilização de uma equipe do programa Humanizar, que é direcionada para atender pacientes em espera, no sentido de que estejam informados sobre o andamento de suas consultas e dos próximos atendimentos.

A Secretaria de Saúde tem atualmente 1360 postos de vigilantes distribuídos nas unidades de saúde e administrativas.

O Iges-DF conta 402 vigilantes distribuídos em mais de 200 postos de suas unidades, além de 250 câmeras de segurança.

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