Invasão com direito a área de lazer. Grupo que ocupa hotel no centro de Brasília faz festa com brinquedos infláveis
Enquanto negociam com o GDF saída do Torre Palace, integrantes do MRP se divertem com energia emprestada. Diversão foi bancada com dinheiro de apoiadores e autorização do governo
atualizado
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Enquanto o governo do Distrito Federal busca alternativas para desocupar o hotel Torre Palace, invadido pelo Movimento Resistência Popular (MRP) em 23 de outubro do ano passado, crianças e adultos do grupo aproveitaram o sábado (13/2) de calor com muitas brincadeiras e diversão. Uma estrutura com brinquedos infláveis e barraquinhas de algodão doce foi montada no estaciomento do local, que teve parte da estrutura condenada após uma visita de inspeção da Defesa Civil.
Uma das porta-vozes do MRP, Solange Oliveira, ressaltou que o “evento” é realizado de forma periódica, quando entidades, sindicatos e “apoiadores” do movimento pagam pela estrutura da festa. “Não temos um centavo para levar um pouco de alegria e diversão para nossas crianças. Nós também precisamos descansar a cabeça. Quando nossos apoiadores resolvem financiar esse tipo de comemoração, nós aceitamos. Inclusive, falamos com o governo sobre esse evento e eles autorizaram”, contou a integrante do MRP.A área de estacionamento, localizada no Setor Hoteleiro Norte (SHN), foi isolada com cordas e pneus para que pula-pula, escorrega e um brinquedo do tipo “futebol de sabão” fossem instalados. Com muita água e espuma à vontade, dezenas de ocupantes do hotel se refrescaram durante toda a manhã deste sábado.
Energia emprestada
Conseguir energia para manter os motores que inflam os brinquedos também não foi problema para a liderança do MRP. Uma longa fiação chegava até uma obra, também no setor hoteleiro. Lá, um gerador foi plugado aos fios. “Algumas pessoas vieram aqui pedindo para usar a energia e encher os brinquedos. Não vi problema”, disse o encarregado pela obra privada de um prédio comercial que ainda está em período inicial.
Funcionária de um hotel próximo ao local contou que integrantes do movimento estiveram no hotel para pedir ajuda e manter os brinquedos funcionando. “Eles disseram que estavam comemorando porque o governo havia disponibilizado alguns lotes para assentá-los. De qualquer forma, o hotel não liberou o uso da energia”, contou a mulher, que preferiu não se identificar.
Entre os integrantes do MRP mais animados com a festa estava o casal Edson Francisco da Silva, líder do movimento, e sua mulher Ylka Carvalho. Ambos foram alvo de uma operação da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) deflagrada em 1º de dezembro de 2015.
A ação tinha como alvo desarticular uma organização criminosa que usava movimentos sociais para para adquirir dinheiro por meio de extorsão. Ao todo, foram cumpridos 12 mandados de prisão por organização criminosa, extorsão e homicídio. Edson não chegou a completar um mês na cadeia.
Procurado pela reportagem do Metrópoles, o governador em exercício Renato Santana desmentiu a informação sobre a destinação de lotes para o MRP. “Marcamos uma reunião às 16h da próxima segunda-feira (15) com a liderança do movimento e vamos tentar buscar uma alternativa para a desocupação do hotel”, explicou.
Reintegração de posse
Em 17 de novembro de 2015, a Justiça determinou a imediata reintegração de posse do Torre Palace. Com a liminar, a multa estabelecida era de R$ 10 mil por dia de descumprimento. No mesmo dia, o juiz determinou o cumprimento da decisão, autorizando a atuação da polícia, caso houvesse resistência. Mesmo com a ação policial, os invasores continuaram no local.
No dia 28 de outubro, representantes do hotel entraram com ação de reintegração e manutenção de posse, argumentando que o estabelecimento “havia sido invadido clandestinamente” pelos integrantes do MRP. Atualmente, a decisão em desocupar o hotel está nas mãos do GDF.
Histórico de invasões
As invasões ao antigo Torre Palace Hotel começaram em agosto de 2014, quando o espaço foi alvo de disputa judicial entre herdeiros do imóvel. Até então, apenas moradores de rua dividiam espaço com usuários de droga.
Em 23 de outubro, cerca de 120 integrantes do MRP invadiram o prédio. O grupo é o mesmo que ocupou o St. Peter Hotel e também se instalou no Clube Primavera, em Taguatinga. Todos os 13 andares do hotel foram ocupados. Além dos integrantes do grupo, cerca de 30 pessoas habitavam o local antes.
No prédio não há água, energia elétrica ou mobiliário. Parte da estrutura, como as janelas e elevadores, foram retiradas pelos proprietários do imóvel.