Por que tem tanta gente com medo do feminismo?
Feminismo nada mais é do que um dos muitos braços dentro do guarda-chuva dos direitos humanos
atualizado
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Não precisa ter medo desta coluna: sou feminista, mas até que sou legal. Já resgatei cachorrinho abandonado, cedo meu lugar para os velhinhos no ônibus, nunca soneguei impostos e já fiz voluntariado com crianças carentes. Fico vendo por aí o povo querendo exorcizar feminista com água benta e isso parte meu coração! Poxa, gente, isso é não entender absolutamente nada do que significa ser feminista.
Toda vez que alguém diz “Não sou feminista, sou humanista”, uma fada morre e uma bruxa se remexe no túmulo. Não tem frase mais sem sentido do que essa. Feminismo nada mais é do que um dos muitos braços dentro do guarda-chuva dos direitos humanos.
É a luta para que mulheres e homens tenham oportunidades iguais para se desenvolver enquanto seres humanos. Como esse objetivo será alcançado? Isso aí já dá umas três Bíblias e as feministas vão discordar da resposta.
E tudo bem, porque feminista também vem em vários tamanhos e formas e eu aqui, que começo hoje esta coluna, sou uma feminista deboísta. Pra mim, feminismo não é sobre o que as mulheres não devem fazer, mas sobre as liberdades e direitos que têm – ou deveriam ter. É um reconhecimento de que as nossas diferenças são lindas, adoráveis e desejáveis.
Eu não acredito em perguntas proibidas, não acho que ninguém tem obrigação de ter lido “O Segundo Sexo” antes de vir opinar sobre direitos da mulher e acredito que ninguém possa ser excluído dessa conversa. Feminismo, para mim, é um abraço bem grande de amor. Nas mulheres, claro, mas também nos homens.
Nos homens mesmo e sabe por quê? Porque esse padrão de masculinidade defendido pelo machismo é um negócio pra lá de sufocante e frágil. Homem não pode broxar, não pode chorar, não pode fazer exame de próstata porque é machão, não pode falar que tem depressão.
E, do lado de cá, a gente não pode gostar de sexo, não pode mandar, não pode detestar criança, não pode usar roupa curta, não pode andar sozinha à noite. Um monte de cagação de regra que não permite que as pessoas sejam, simplesmente, quem são.
Tudo que as feministas querem é o fim dos privilégios. E vejam bem que não estou falando de benefício, mas de privilégio, o que é muito diferente. Lugar pro velhinho sentar no metrô, por exemplo, é benefício, assim como licença maternidade. Isso vem do reconhecimento do Estado de que essas pessoas têm necessidades particulares. Agora, homens serem mais bem remunerados que mulheres é privilégio porque ocorre em detrimento de outra pessoa. A ideia de privilégio inclui a ideia de alguém que se sai mal na jogada.
Mulher pagar menos na balada do que homem? Abro mão (ainda mais porque, se ganharmos o mesmo que os homens, vamos poder decidir por conta própria como gastar nosso dinheiro e muitas nem vão querer ir para o fervo).
Mas não venha mexer na minha aposentadoria mais cedo porque somos nós, mulheres, que trabalhamos 7,5 horas a mais por semana que os homens, com nossa dupla jornada — tudo que a aposentadoria faz é reconhecer essa diferença e amenizar o quanto saímos prejudicadas nessa conta na hora de descansar.
Nossa, Nana, mas tudo isso parece muito razoável. Por que, então, tem gente que tem medo de feminismo? Bom, tirando a turma mal informada (e espero poder te ajudar a não fazer parte dela com esta coluna aqui), as pessoas têm um medo enorme de mudança.É muito fácil operar num mundo em que a gente sabe o que esperar, mesmo que seja coisa ruim. Admito que é mais fácil jogar fora aquela minissaia que você adora do que ir em manifestação exigir que os homens controlem seus instintos sexuais, correndo o risco de apanhar da polícia (ou ficar sem namorado).
Parar tudo e pensar é mesmo um lance desgastante. Mas não priemoscânico! O feminismo tá aí pra te fazer bem, mais feliz e completa. E se você segurar a onda comigo nesta coluna toda semana, eu espero ser sua companheira enquanto trilha esse caminho de tijolinhos coloridos.