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Por que os homens não dançam? (como o machismo machuca o outro lado)

As regras da macheza privam os rapazes de experiências incríveis. Isso precisa acabar

atualizado

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Homem dançando frevo
1 de 1 Homem dançando frevo - Foto: iStock

Neste sábado (21/10), a minha academia fez um aulão de danças latinas que entrou para a lista de coisas mais divertidas da minha experiência fitness. A professora era uma força da natureza: animada, engraçada, contagiante. De repente, me peguei rindo sozinha da minha própria falta de habilidade de fazer o rebolado Shakira. A sala estava lotada. Porém, entre as 30 pessoas presentes, não havia nenhum homem.

E eu fiquei chateada.

Dançar é um tipo de mágica que conecta a gente com os ancestrais. Seres humanos dançam desde tempos imemoriais. A atividade confirma: nosso corpo é uma máquina de produção de maravilhas. Serve de alerta da vida: pernas funcionam, ouvidos percebem a música, braços obedecem aos comandos.

Nossa sociedade vetou a dança aos homens. Aqueles que bailam são menos másculos, eles dizem. É coisa de mulherzinha. Sorrir à toa porque o corpo está em movimento é “coisa de menina”. Uma pena! Os rapazes se prendem a esses estereótipos bobos de gênero e não usufruem dessa felicidade fácil.

Aliás, quando começo a listar na minha cabeça todas as regras impostas à macheza, acho que são todas risíveis. “Homens não devem chorar”, decretam, quando a ciência já comprovou os benefícios de estar em contato com os sentimentos. Desenvolver inteligência emocional melhora até mesmo o desempenho das pessoas no trabalho.

 

Cuidar do filho –  trocar fraldas e acordar de madrugada para acalentar um bebê choroso – também diminui, supostamente, qualidades masculinas. Crianças crescem com pais quase estranhos e mães sobrecarregadas. Mas as “regras da macheza” permanecem inalteradas.

Explorar o próprio corpo também é coisa que não deve se considerar no mundo dos varões. Nem mesmo por razões de saúde. Vale até a pena morrer de câncer de próstata (que mata um machão a cada 40 minutos no país) a correr o risco de macular essa coisa tão frágil que é a masculinidade. Mas as “regras da macheza” permanecem inalteradas.

E homem também não leva desaforo para casa, naturalmente. Tem que retrucar – de preferência com violência – quando é contrariado. E as estatísticas gritam que isso está errado no mundo todo: o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostrou, no mais recente levantamento sobre o assunto, que 95% dos assassinos no mundo são do sexo masculino. E eles também são 80% das vítimas de mortes violentas.

Não seria hora de a gente reavaliar o que significa ser homem? Não seria hora de eles se convencerem de que a luta pelo fim do machismo não é um problema das mulheres, mas uma questão de todos?

Que dancemos mais sobre os escombros das malditas “regras de macheza”!

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