O marido que “ajuda em casa” não basta
Segundo pesquisa, 65% das mulheres com filhos não desejam ser promovidas por acharem que não saberiam balancear vida profissional e familiar
atualizado
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Nas últimas semanas, talvez você tenha visto mulheres em suas redes sociais discutindo a participação dos pais e maridos nas tarefas domésticas, com a hashtag #porramarido. Muitas das histórias compartilhadas eram bem-humoradas daquele jeito trágico no qual a gente ri para não chorar. Aquele parceiro falando “amor, vai descansar, que eu cuido do Pedrinho”, mas te acordando justo quando você pega no sono para perguntar onde estão as meias do menino. Ou aquele outro, que mora contigo há 10 anos e ainda não sabe onde fica a tábua de carne.
É importante falarmos disso, mas essa é uma conversa difícil. Primeiro, porque inclui criticar os homens que amamos. Depois, porque envolve apontar o dedo para aqueles que, apesar de errar, estão se esforçando e querem mesmo ser companheiros mais legais, participativos e justos.
Não estamos falando de caras machistas, os quais acham que “lugar de mulher é na pia”, e nem sobre aqueles com nojinho de trocar a fralda dos próprios filhos (esses, aliás, surpreendentemente ainda encontrarem mulheres dispostas a aturá-los). De fato, eles “ajudam em casa”. Mas ajudar não basta, é preciso assumir junto, é preciso “dividir as tarefas da casa” – e toda a carga mental que vem junto com elas.
“Ué,” – você, um desses caras bem-intencionados me pergunta – “mas que mal faz perguntar ou só fazer quando nos pedem?” E eu te respondo: a carga mental excessiva – “tem de ser boa mãe, esposa, profissional, gostosa e fitness, não pode esquecer a comida, o lixo, a louça, a escola, as roupas, os aniversários…” – pode “desbaratinar” a psique de uma mulher e levá-la ao estresse e até a transtornos de ansiedade e depressão.
Precisamos, realmente, que vocês percebam as coisas sozinhos. Tirem o lixo sem a gente pedir ou ele começar a transbordar. Reparem que o tênis do moleque está prestes a fazer um furo, antes que ele vá descalço à escola. Saibam onde se guardam todos os utensílios do lar. Pensem no cardápio da casa e em comer as verduras na ordem certa para elas não estragarem e serem desperdiçadas.
Porque, senão, vocês só tiram uma parte do peso de nossas costas: o resto continua como uma carga mental que pode se tornar pesada demais.
É fácil entender isso quando transportamos essa relação para uma empresa. Suponhamos que você tenha um assistente e peça a ele para imprimir um documento, o qual tem de chegar nas mãos do cliente com urgência naquele dia. E ele te entrega uma pilha desalinhada de páginas e pergunta: “E agora?”.
Não te sobrecarregaria ter de ficar explicando cada passo? A gente não prefere sempre o assistente que já imprime, organiza na ordem, grampeia e bota no correio sem precisar pegar em sua mão e fazer junto? Assim, nosso espaço mental fica livre para pensar em saídas criativas para os outros problemas nos negócios, e o assistente de fato nos ajuda a ir mais longe.
Um bom marido ou companheiro é assim: ele ajuda sua esposa a ir mais longe porque ela se preocupa menos com as coisas da casa e mais com sua carreira, vida pessoal, saúde e exercícios físicos.
Para quem acha isso pouco, eu gosto sempre de citar o estudo Women in the Workplace (Mulheres no Local de Trabalho, em tradução livre), da McKinsey. Essa pesquisa descobriu que 65% das mulheres com filhos nem sequer desejam ser promovidas a cargos de liderança porque não acham que dariam conta de balancear vida profissional e responsabilidades domésticas. Outros 58% achavam que isso traria estresse demais para suas vidas.
Olha só: talvez o fato de você não dividir a carga mental esteja impedindo que sua companheira se sinta mais livre para aceitar uma promoção no trabalho!
Dividir carga mental não é um detalhe, é um passo de extrema importância e o próximo para você, cara legal, tomar para ser um homem que, de fato, muda o mundo para as mulheres – principalmente aquelas que mais ama.
E, para finalizar esta coluna, eu recomendo a paródia hilária feita na semana passada pela youtuber Hell Mother. Que os homens saibam assistir a ela, rir de si mesmos e começar a mudar – em vez de entrar numa carcaça de justificativas insuficientes.