Nunca torça o nariz para dar prioridade a uma grávida sem barriga
As gestantes de começo de gravidez têm todo o direito de avisar sua condição e pedir o lugar, a passagem ou a vez
atualizado
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Ontem, alcancei o que deve ser a metade da minha gravidez, 20 semanas. A barriga começou a saltar e, há sete dias, as pessoas passaram a me oferecer lugar para sentar no metrô de forma espontânea e sorrindo. Foi uma delícia esse gesto de gentileza – é também uma obrigação por lei, naturalmente, mas não deixa de ser uma cortesia social.
Não foi a primeira vez, no entanto, que utilizei ou precisei fazer uso do direito ao atendimento prioritário. Mas as experiências anteriores, dos quatro primeiros meses, quando a barriga ainda estava discretinha sob minhas roupas, não foram nada agradáveis. Lembro-me principalmente da atendente dos Correios torcendo o nariz ao dizer: “Você não tem nem barriga, não tem vergonha de pegar a fila prioritária?”
Minha má-criação piorou a careta dela, mas as reclamações acabaram.
Conto essa história com duas intenções. A primeira, é convencer as gestantes de começo de gravidez quanto ao direito de avisar a todos acerca de sua condição e pedir o lugar, a passagem ou a vez na fila. A segunda, é sensibilizar as pessoas sobre o quão difícil pode ser esse trimestre inicial para muitas mulheres – talvez elas precisem do espaço prioritário muito mais urgentemente do que a gravidinha de cinco meses com o peso da barriga.
No livro O que esperar quando você está esperando, as médicas Heidi Murkoff, Arlene Eisenberg e Sandee Hathaway alertam: o corpo de uma mulher grávida em repouso está fazendo um trabalho semelhante ao corpo de uma pessoa não gestante subindo uma pequena montanha.
No primeiro trimestre, quando todos os órgãos básicos do neném são formados, esse esforço é ainda maior. Pois bem, não à toa que grávidas estão sempre exaustas e com sono.
Além disso, para cerca de 50% delas, o primeiro trimestre é cheio de sintomas desagradáveis – como foi pra mim: vômito, prisão de ventre, nojo da comida, cansaço crônico, dores de cabeça e abdominais, refluxo, azia, entre outros. Isso sem contar as mulheres que têm gravidez de risco e são ordenadas a fazer o mínimo de esforço físico humanamente possível para não perder o bebê.
A gente está acostumado a repetir: gravidez não é doença. De fato, não é. Mas ela pode ter sintomas tão desagradáveis quanto uma enfermidade – a diferença é que esses sinais não indicam nada errado com seu corpo e, sim, que tudo anda conforme o planejado. Quando você tem sensações horríveis assim, ganha uma licença para descansar. Já a gestante é cobrada a trabalhar, cuidar da casa e da família e ainda fazer alguma atividade física, isso para não correr o risco de ser chamada pelos vizinhos de desleixada.
Ela não merece ao menos o seu sorriso quando goza do direito ao lugar prioritário para aliviar todo esse peso? Sejamos cidadãos, sim, mas também gentis.