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Mulheres motoristas do Uber pedem medidas de segurança mais eficientes

Segundo a empresa, profissionais parceiros podem rejeitar corridas se sentirem que sua integridade está em risco, e sem medo de punição

atualizado

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Madrugada escura, eu aguardo a chegada do Uber para me levar à segurança da minha casa. Penso em estupro, assalto, assédio e sequestro. Então, o meu alívio: é uma motorista. E quando o carro para, percebo a leveza do outro lado — ela também se sente mais segura ao me ver. Pela primeira vez, me ocorre perguntar se esses medos cruzam a porta do carro. Tonta, eu. Ela ri e diz: “Claro que sim! Principalmente, porque tenho medo de ser punida pelo Uber”. Fico encucada, como assim?

A linda moça negra, de 26 anos — cujo nome não vou dizer para evitar retaliações do aplicativo — trabalhava no Uber há seis meses. “Um dia, fui levar um cliente para o Valparaíso à noite, e meu celular começou a bipar com novas chamadas. Tinham me aconselhado a não aceitar corridas por ali, pois há muitos relatos de mulheres assaltadas em carros. Escrevi, então, à empresa, perguntando qual a política nesses casos. Insisti umas quatro vezes até obter resposta. Orientaram-me a ficar atentar à minha taxa de cancelamento, pois havia punição em caso de excesso.”

Alguns dias depois, entrevistei mais uma motorista. Também jovem e atraente. Relatou já ter sofrido assédio diversas vezes, principalmente de passageiros alcoolizados. “Certa vez, um deles ficou me perguntando coisas desconfortáveis e, quando chegou no destino, se recusou a descer do carro. Um outro, pediu para encerrar a corrida e tomar uma cerveja com ele, pois ‘pagaria minha noite’, como se aquilo fosse um programa”.

Desde então, fiquei refletindo profundamente sobre como o fenômeno Uber, que tem deixado muitos profissionais sem nenhum tipo de proteção de leis trabalhistas, é cruel com as mulheres. Não há licença-maternidade nem indenização em caso de acidente (ou estupro) no trabalho. É preciso pensar nisso, é preciso discutir as especificidades de gênero nessas relações criadas pelas novas tecnologias.

O Uber diz estar atento, mas as motoristas ainda acham os esforços insuficientes. As duas moças entrevistadas, por exemplo, fizeram reclamações, mas ambas não ficaram satisfeitas com a resposta do aplicativo. Uma delas, disse sentir falta, especialmente, de um “botão do pânico”, que mande ajuda caso se sinta ameaçada, e não depois do dano consumado.

Curiosamente, há dois anos, o Uber se comprometeu a criar um milhão de vagas para mulheres. O programa, no entanto, não parece ter sido aliado a medidas satisfatórias de segurança para elas.

Entrei em contato com o aplicativo, que, por meio de sua assessoria de imprensa, disse garantir às motoristas autonomia para de se negarem a pegar passageiros sempre que se sentirem inseguras. E não serão punidas. “Somente a média de avaliações feita pelos usuários é levada em consideração na hora de decidir pela desativação ou não de um condutor parceiro. Os demais dados servem para ajudar o profissional a avaliar a sua própria postura, ponderar os comentários de seus clientes e, assim, melhorar o atendimento e a média de avaliações”, afirmou a nota.

Segundo o serviço, desde 2014, milhares de usuários foram banidos da plataforma por assédio. As denúncias continuarão a ser apuradas, acrescentaram. “Em janeiro, o Uber investiu R$ 200 milhões em uma central de atendimento. O serviço conta com mais de 5.000 pessoas. As reações são instantâneas, 24 horas por dia”, disseram.

Mas uma série de perguntas seguem sem resposta para as mulheres. E não consigo deixar de pensar que a solução é as motoristas se organizarem em um sindicato ou órgão de classe. E me solidarizo com essa batalha que terá de ser travada do zero.

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