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Licença-maternidade de quatro meses é um insulto

O Ministério da Saúde recomenda seis meses de amamentação exclusiva

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“Que você tenha uma boa hora”, as mulheres dizem umas às outras quando estão grávidas. Conheci esse desejo bonito há nove meses, e toda vez me dá vontade de responder: “que nos permitam que façamos boas todas as nossas horas”. Porque viver uma boa maternidade no Brasil é um desafio que não depende só de nós. É uma corrida de obstáculos e começa cedo.

Hoje me despeço desta coluna para ir viver a minha boa hora. Não sei bem quando será porque decidi deixar meu filho, Jorge, escolher quando quer chegar ao mundo. Mas, como grande parte das brasileiras, terei de voltar a trabalhar depois de quatro meses, com a licença-maternidade mínima garantida pela lei brasileira. A ideia de deixar um bebê tão pequeno em casa pra voltar à labuta me angustia – e me parece injusta e incoerente num país cujo Ministério da Saúde recomenda seis meses de amamentação exclusiva.

Saímos de licença por quatro meses e os outros dois – nos quais cada mãe, supostamente, deveria estar amamentando seu bebê em intervalos de 2 a 6 horas – se tornam um desafio particular imposto por um Estado ausente. Ou compramos/ alugamos máquinas caríssimas – e, muitas vezes torturantes – de retirada artificial de leite, ou substituímos as mamadas ricas e cheias de anticorpos por fórmulas e leites industrializados embebidos em conservantes e outros venenos com os quais ninguém deveria ter de se habituar tão cedo na vida.

Não à toa só 39% das crianças são amamentadas exclusivamente até os seis meses no Brasil, segundo a Unicef. Perdem a maior proteção à saúde com que nós, mães, podemos lhes presentear: a amamentação pode reduzir em até 13% a mortalidade por causas evitáveis em crianças menores de 5 anos.

Isso porque ainda não estou falando da licença-paternidade, uma piada à parte. Pode chegar a apenas cinco dias para aqueles cujo empregador não aderiu ao Programa Empresa Cidadã. “E o que a licença-paternidade tem a ver com a qualidade da experiência que uma mulher terá como mãe?”, você me pergunta. E eu respondo: absolutamente tudo.

Um bom pai é o melhor ingrediente para a receita da boa mãe. Um bom pai é aquele que entende ser parte integral desse projeto de criação de um novo ser humano e divide todas as tarefas possíveis, permitindo à mãe gozar de saúde mental e física.

E como esperamos educar bons pais – homens que saibam fazer tudo, de trocar fraldas a dar beijinhos de boa noite – se não damos a eles o tempo mínimo para se apaixonar por esse projeto? Para aprender com ele? Para entender paternidade como algo pelo qual, sim, vale a pena deixar o trabalho de lado por alguns meses – ou até anos? Por isso digo: há poucas bandeiras mais feministas neste mundo do que o aumento da licença-paternidade.

Mas saio na esperança de, apesar de tudo, viver boas horas. Aqui nesta coluna ao menos, que tive a liberdade de escolher, vejo vocês em seis meses.

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