Insistir é assédio sexual? Nem sempre…
Na conquista, persistir pode ser saudável e, às vezes, necessário. Porém, também é possível ser inapropriado já na primeira abordagem
atualizado
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Quando chega o Carnaval, é comum debatermos profundamente quais os limites da paquera. Essa discussão é muito saudável, mas vi algumas pessoas por aí dizendo bobagem em entrevistas e programas de TV. Esses indivíduos, geralmente muito bem-intencionados, parecem definir assédio como insistência.
Isso é uma ideia falsa e perigosa. Pra começar, no jogo da conquista, insistir pode ser saudável e, às vezes, necessário (desde que seja respeitoso e com limites, naturalmente, mas entro em detalhes mais tarde). Por outro lado, é possível cometer assédio já na primeira abordagem, sem absolutamente nenhuma persistência.
Segurar uma mulher pelo braço num bloco de Carnaval para que ela te dê atenção também é abusivo, assim como “roubar um beijo”. Qualquer toque sem permissão, aliás, é assédio sexual por definição – insistente ou não. Simplesmente não faça.
Agora, é preciso admitir que nem todo mundo sofre de amor à primeira vista – e tudo bem! Muitos relacionamentos bonitos se constroem com o tempo. Em alguns casos, pode acontecer de um rapaz chamar uma moça para jantar e receber um “não”, mas ela continuar próxima, dando sinais de abertura para conhecê-lo melhor. É assédio se, algumas semanas depois, ele tentar convidá-la novamente? Provavelmente, não!
A questão chave aqui é que o consentimento, num processo longo de paquera, se dá em camadas. Ou seja: enquanto uma mulher permite uma conversa, que pode levá-la a uma próxima e, assim por diante, até um encontro e o sexo, ela poderia não estar preparada para um contato físico de cara, “sem aquecimento”. Por isso, a insistência tende a resultar mais frequentemente em assédio em contextos de primeiro contato – como blocos de Carnaval.
Quais são os limites? Aí entra a complexidade, pois o assunto apresenta nuances. Se fingirmos que regras de paquera existem em preto no branco, estaremos menosprezando a capacidade de homens e mulheres desenvolverem sua capacidade de análise ética e moral – e eu, definitivamente, não acredito nisso.
Os limites serão, às vezes, muito claros: um “não” incisivo, um pedido para que você se afaste, uma recusa a atender seus telefonemas ou responder suas mensagens de WhatsApp. Em outros casos, é preciso ser mais sensível para ler uma linguagem corporal de constrangimento ou pouca simpatia.
O meu conselho é: na dúvida, pergunte. Abertamente: “Eu estou incomodando?”, “Você se importa que eu continue te escrevendo?”, “Tudo bem sermos amigos?”. Não custa nada e poupa ela de constrangimento e você de ser um babaca.