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É necessário dialogar, mesmo com os idiotas

Ao negar o debate com Kim Kataguiri, Marcia Tiburi perdeu uma excelente oportunidade de derrubar um discurso disfarçado de ódio

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Quarrel between women and men
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Eu amo a filósofa Márcia Tiburi. Não vejo outra maneira justa de começar esta coluna senão confessando isso. Ela me inspira, me ensina a ver o mundo de maneiras melhores. Mas, nesta semana, ela tomou uma decisão lamentável: saiu de um programa de rádio, ao vivo, ao saber que teria de debater com Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre). Negou-lhe a interlocução.

Em uma carta pública, na qual justificou a atitude, Márcia afirmou: “Não sou obrigada a ouvir quem acredita que justiça é o que está em cabeças vazias e interessa aos grupos econômicos que, ao longo da história do Brasil, sempre atentaram contra a democracia”. De fato, Márcia não é obrigada a debater ideias com ninguém. Ninguém é. Ficar, porém, teria sido mais sábio e eficiente.

Não por Kim Kataguiri, representante de um movimento que trava qualquer debate complexo, pintando o cenário político como se fosse uma briga de mocinhos versus bandidos – ridicularizando adversários e adotando ideias rasas e preconceituosas para defender seus pontos de vista. Kim está além do convencimento, provavelmente.

Márcia deveria ter ficado pela audiência, a quem restou apenas Kim e sua intolerância. Pela massa de indecisos escutando, num momento tão controverso e tão difícil de posicionar-se, e ficou sem referências críticas. E – pior – saiu com a impressão de que a intolerante ali era a própria Márcia.

Perdemos muito com o silêncio de Márcia. Como perdemos toda vez quando alguém legal, por preguiça ou por desrespeito completo ao argumento do intolerante, se cala diante da piada machista ou racista no bar. Ou pelas dezenas de pessoas inteligentes que se recusam a dialogar com o senso comum – por mais absurdo que ele seja – em programas populares.

Sabe por que? Porque o silêncio é a única forma certeira de perder uma batalha argumentativa. A verdadeira disputa não é pela opinião do interlocutor, mas pela dos ouvintes silenciosos. E o que está em jogo são as mentes e os corações de milhares de brasileiros cujos votos serão precioso nas urnas em nove meses.

É preciso tratar com cuidado essas discussões não por que necessariamente respeitamos o ponto de vista oposto, mas porque reconhecemos a importância (e nos sabemos capazes) de derrubar o discurso disfarçado do ódio. Para nós, crentes numa sociedade baseada na justiça e no amor às diferenças, a arma mais poderosa disponível são as palavras.

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