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É correto censurar uma música machista? E a liberdade de expressão?

“Só uma surubinha de leve”, de MC Diguinho, cruza a linha da livre manifestação de ideias ao incitar o crime de estupro

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Nesta semana, o debate das redes sociais se deu em torno de “Só uma surubinnha de leve”, do MC Diguinho. Entre outras coisas, a música dava aos homens as seguintes orientações: “Taca bebida, depois taca pica/ E abandona na rua”. É fácil concordamos que a letra é de um tremendo mau gosto. Mas não foi tão simples atingir um consenso sobre o Spotify, a pedido das usuárias, ter resolvido tirar a canção de circulação na plataforma.

Afinal, e a liberdade de expressão? As pessoas não querem o direito de viver, pensar e cantar seus próprios valores? Ao censurarmos “Só uma surubinha de leve” não estaríamos dando espaço para conservadores censurarem, por exemplo, músicas sobre a homossexualidade que, do ponto de vista deles, seria algum jeito desrespeitoso de amar?

A decisão a ser tomada em casos como esse depende do tipo de sociedade que queremos ser. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde morei por três anos, a liberdade de expressão é um valor tão supremo que os americanos permitem até mesmo declarações racistas sem enfrentar consequências – inclusive o presidente do país diz absurdos, vale lembrar.

No Brasil, temos, historicamente, tomado uma decisão diferente, a qual eu, particularmente, acho mais justa e digna. Aqui, o racismo é crime. Nós consideramos, enquanto sociedade, que o direito à liberdade de expressão acaba justamente quando começa o do outro, assim como os demais. E “Só uma surubinha de leve” cruza essa linha ao incitar o crime de estupro.

Acredite, há quem não saiba que embebedar uma mulher para tirar vantagem sexual dela é crime e configura estupro, tamanha a desinformação (ou má educação) do homem brasileiro. O próprio MC mostrou desconhecer a legislação ao declarar no Twitter: “Se a minha música faz apologia ao estupro, prazer, sou o mais novo estuprador”.

Obviamente, Diguinho não pretendia confessar o crime em rede nacional, mas defender que o comportamento de embebedar mulheres e transar com elas enquanto não estão no pleno uso de sua consciência é algo normal.

O recado ao MC Diguinho e aos milhares de fãs que colocaram essa música desprezível no topo das paradas é: sim, isso é crime. Em geral, é fácil perceber quando uma mulher está desacordada, trançando as pernas ou não dizendo coisa com coisa. Mas a linha, de fato, é tênue porque muitas pessoas gostam de transar depois de beber e não há problema nenhum nisso.

A dica é ficar atento para saber se as duas pessoas em questão não estão com sua capacidade de discernimento prejudicada. Na dúvida, pergunte a ela se não bebeu demais. Fale do seu receio em desrespeitá-la — acredite, vai pegar super bem. E, se permanecer sem uma certeza de que ela está consciente o suficiente, deixe para a próxima. Mais vale perder a oportunidade de transar a perder a liberdade ou a dignidade, não é mesmo? Porque estupro, queridos, nem “de leve”.

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