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“Bloquinho de Carnaval não é lugar de grávida”. Será?

O médico obstetra Bruno Ramalho afirma que gestantes podem sim curtir a folia. É só cuidar do preparo físico e primar pelo bem-estar

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Estou grávida do meu primeiro filho. E, com ele na barriga, decidi, como de costume, pular o Carnaval nos meus bloquinhos favoritos de São Paulo. Certo dia, porém, quando eu e meu marido andávamos até o metrô, começou a chover e fomos engolfados por uma multidão de uma outra festa – devia ser o Bloco de Belzebu, tamanha a confusão e o mau cheiro.

No meio do empurra-empurra irracional, alguém deu um tapa na minha barriga. Em pânico, pedimos ajuda para a pessoa que, na nossa visão, estava ali para ajudar: um policial. O homem – que deve ter nascido mesmo de uma cegonha, e não de uma mulher – disse:

— Não devia ajudar, não, porque isso aqui não é lugar de grávida.

Não foi sábio, mas foi o que o sangue quente da leoa-em-proteção-da-cria mandou fazer: me empoleirei na grade e retruquei:

— Então, cara, você agora é o reizinho do mundo para decidir onde é que grávida pode ir ou não? Lugar de grávida é onde ela quiser!

Por algum milagre, porém, o homem me deixou entrar na área protegida mesmo assim – deve ter batido na consciência que, ele também, um dia saiu da barriga de uma mulher, livre para ir onde quisesse e, por isso, estava sujeita a imprevistos e apuros como aquele.

Desde então, me botei a pensar sobre a necessidade das pessoas em cercear o direito de ir e vir das gestantes. Parece-me que, para alguns indivíduos, a gravidez se torna a desculpa perfeita para controlar ainda mais as mulheres.

Para alguns, grávida não pode ir à academia, não pode “fazer esforço”, não pode subir escada, não pode ir a shows, não pode, não pode. Tudo uma série de bobagens. Para começo de conversa, a decisão sobre o que uma grávida deve ou não fazer cabe, exclusivamente, a ela e a seu médico – e se ela não pedir opinião, a mais ninguém.

Em segundo lugar, a ciência tem, cada vez mais, comprovado que esses mitos estão longe da realidade e impedem mãe e bebê de usufruírem de mais saúde. Estudos, como este, mostram: o exercício regular durante a gravidez traz benefícios para a gestante e para o filho(a), os quais podem durar para muito além da gestação.

E uma série de outras pesquisas demonstram que mães felizes e plenas geram bebês mais saudáveis.

Mas, afinal, grávida pode pular Carnaval, ir a shows, curtir piquenique, dançar e puxar ferro? “Seria terrorismo dizer ‘não'”, explica o ginecologista Bruno Ramalho. Nessa fase, explica ele, cada gestante precisa ouvir seu corpo com muita atenção e respeitar seus limites – diferentes para cada mulher. “Ela deve curtir a folia dosando-a de acordo com seu preparo físico, seus limites e primando pelo seu bem-estar. É mais ou menos como se deve proceder na gravidez com relação à prática de exercícios físicos.”

O doutor recomenda ainda hidratar-se com frequência e buscar bloquinhos menores, ficando ao fundo, fugindo de aglomerados como aquele que me pegou desprevenida. Mas deixar de viver a vida porque “lugar de gestante é dentro de casa”? Jamais!

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