Telemedicina: filas de espera duram 24h em planos de saúde
Brasil aparece em terceiro lugar no percentual de adesão à nova modalidade, mas traz para esta novidade os vícios e problemas da velha prática; especialista fala sobre o fenômeno e destaca as possíveis saídas para as filas de consultas digitais
atualizado
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A telemedicina foi a alternativa escolhida por muitas pessoas para dar continuidade aos cuidados com a saúde sem abrir mão do confinamento. De acordo um balanço da Sinch, empresa de computação em nuvem, 38% dos indivíduos utilizaram as consultas on-line ao longo da crise sanitária. Conforme a sondagem, que foi realizada em mais de 40 países, com 2.800 entrevistados, o Brasil aparece em terceiro lugar no percentual de adesão à modalidade, com 43%, atrás dos Estados Unidos (48%) e da Índia (65%).
Diante da ampla adesão à telemedicina, o governo federal, que havia sancionado a Lei 13.989 em abril de 2020 autorizando a prática no decorrer da crise sanitária, aprovou em novembro de 2021 uma complementação que permite que, passado o período pandêmico, a modalidade seja regulamentada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
“A prática tanto ganhou a aderência dos brasileiros que trouxe à tona um novo problema: as filas digitais”, afirma Caio Abi-Haila, ex-professor da UFRJ e fundador da SOS Saúde em Casa, empresa que atua com soluções ágeis em telemedicina. De fato, conforme apurado pelo jornal O Globo, a demanda por telemedicina experimentou uma disparada e as filas de espera para usuários de planos de saúde já chegam a 24 horas.
Em um país onde, de acordo com o estudo “Demografia Médica no Brasil 2020” – realizado pela USP (Universidade de São Paulo) em parceria com o CFM (Conselho Federal de Medicina) -, a proporção de médicos por mil habitantes é de 2,4, superior à relação do Japão e se aproximando dos índices de potências como Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido (2,8), fica claro que a fila não ocorre pela falta de médicos, sendo os ruídos na conexão entre oferta e demanda a causa mais provável para este problema.
“Temos médicos em número suficiente para atender a população brasileira, o problema está na distribuição”, diz Mauro Ribeiro, presidente do CFM, pontuando que existem pessoas necessitando de atendimento médico, sem sucesso, ao passo que, do outro lado, há médicos com disponibilidade e interesse de prestar seus serviços a mais gente.
Para Abi-Haila os custos reduzidos do atendimento digital e a flexibilização das formas de pagamento tornaram a telemedicina privada competitiva inclusive em relação ao SUS. “São incalculáveis os custos de toda a operação de esperar por dias a semanas por uma consulta de psiquiatria, por exemplo”, frisa o médico.
Inovação é a saída
Na visão de Abi-Haila, a fila de espera em serviços de telemedicina no Brasil pode ser explicada: “Os processos foram feitos copiando os serviços presenciais e seus vícios e problemas – entre eles, sistematizações que levam a enormes filas”. E complementa: “O acesso à saúde digital é uma atividade inteiramente nova, não merece padecer de uma visão antiga e muito menos ser contaminada por velhos problemas.”
O especialista acredita que o investimento em inovação é a saída para a atual fila de espera por atendimentos médicos remotos. “A solução de boa parte dos problemas do século 21 passa por tecnologia, e com a telemedicina isso não se daria de outra forma. Diferentemente do que se faz agora, que é copiar o atendimento presencial e transpô-lo para o digital, a saída está em inovar para encontrar novas soluções”.
Para o médico, é possível reduzir o tempo de espera para o atendimento de pacientes com a adoção de plataformas que façam dentre outras coisas, de forma automática, o repasse de atendimento para comunidades virtuais de médicos certificados.
O fundador da SOS Saúde em Casa ressalta que “é praticamente zero a probabilidade de que não haja um médico qualificado, e com acesso virtual, disponível para um atendimento virtual de quem precisa neste momento”.
“E quando passamos para especialidades, como a demanda é mais específica, e portanto mais nichada, a chance é menor ainda”, diz ele. “E é através das conexões digitais e da automação desses processos que podemos continuar tornando o casamento mais eficiente entre oferta e procura. Ainda que um paciente nesse modelo tenha que esperar alguns poucos minutos, todos do sistema sabem que este opera em seu máximo de otimização. E que nenhuma espera foi por ineficiência”.
O especialista reforça que “Nenhuma dor, aflição, ou temor, merece esperar. A dor que mais dói no ser humano é a que sentimos no momento. Não faz sentido em termos de prioridade, na era em que vivemos, de conexão digital, demorar mais para conseguir um médico do que uma pizza ou um carro de transporte. As tecnologias do século XXI devem trabalhar pra isso”.
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