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Saúde mental das crianças pode ser afetada pela pandemia

Psicóloga explica como identificar os sinais de ansiedade e depressão na infância.

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Mais de um ano depois do início da pandemia do novo coronavírus, e com o Brasil vivendo hoje o pior momento da crise sanitária, é difícil encontrar alguém que não esteja sentindo mais ansiedade ou estresse que o normal. O medo e as incertezas diante do futuro podem afetar muito as pessoas. Por que seria diferente com as crianças?

Embora sejam menos vulneráveis ao novo coronavírus, tendo menos risco de adoecer gravemente caso sejam infectadas, as crianças podem ser muito afetadas pela pandemia.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), um ano após a declaração de pandemia, todos os indicadores de infância regrediram. No mundo todo, há mais crianças vivendo em situação de pobreza extrema, sem acesso ao ensino à distância e sem serviços de apoio à saúde mental, por exemplo. O isolamento social também aumentou o número de crianças ansiosas.

Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) com cerca de 7 mil pais de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos apontou, com base nas respostas dos pais, que 27% têm apresentado, durante a pandemia, sintomas de ansiedade e depressão em nível clínico, que precisam de avaliação profissional.

Como identificar sinais de ansiedade e depressão

A psicóloga infantil Brenda Magalhães explica que a ansiedade é uma resposta natural do organismo, mas ela pode se tornar patológica mesmo durante a infância. Portanto, se os sintomas são frequentes e a criança paralisa diante de situações que geram medo, é preciso atenção.

“Crianças que apresentam comportamentos ansiosos podem demonstrar alguns sinais, tais como preocupar-se exageradamente com o desempenho escolar, ficar apreensivas com situações que sequer aconteceram na vida delas, apresentar um padrão de comportamento perfeccionista e sentir medo do distanciamento/afastamento dos pais”, detalha.

Os sintomas de depressão são um pouco diferentes. Segundo a psicóloga, os pais ou cuidadores precisam ficar atentos ao comportamento dos pequenos para identificar possíveis mudanças repentinas. Normalmente, as pessoas associam depressão à tristeza, mas sentir-se triste é algo comum na vida de todos, incluindo as crianças. Nesses casos, é importante observar se a tristeza é algo passageiro ou duradouro.

“Os comportamentos mais comuns em crianças que apresentam quadros de depressão são os que envolvem a perda do interesse dessa criança nas atividades que antes eram interessantes e proveitosas. A insônia ou o sono excessivo, o isolamento, o pessimismo, além de falas que expressam sentimentos de inferioridade são algumas características que podem significar a presença de uma patologia”, explica Brenda.

Fale sobre emoções com as crianças

Alguns adultos evitam conversar abertamente sobre emoções com as crianças, pois acreditam que elas não vão entender. No entanto, esse deve ser um assunto entre pais e filhos, principalmente quando o filho experimenta sensações desagradáveis. “Para isso, os cuidadores precisam ajudar os pequenos a nomear os sentimentos, a saber reconhecê-los e identificar em que situações eles podem surgir, além de explicar que às vezes eles serão desagradáveis, mas sempre passageiros.”

Além disso, é fundamental que os sentimentos da criança sejam validados pelos pais. Brenda afirma que o assunto deve ser conversado de maneira didática e acessível, conforme a idade da criança. Uma dica é usar recursos como livros, vídeos ou filmes para falar sobre as emoções.
Um sentimento que, infelizmente, tem sido frequente no último ano é o luto. Com mais de 450 mil mortes por covid-19 registradas no Brasil desde o início da pandemia, é inegável que muitas famílias estão enlutadas. E esse sentimento também atinge as crianças que perderam avós, tios, parentes próximos ou até mesmo ficaram órfãs. Assim como acontece com os adultos, o luto de cada criança é diferente e isso deve ser respeitado.

“Esse sentimento não tem um prazo ou fórmula única, mas a família não pode deixar que a criança passe por esse processo sem apoio. É importante que a morte não seja um tabu entre a família, e que a criança possa aos poucos entender que a vida tem fases e que a morte é uma delas”, diz Brenda. “A família precisa acolher os sentimentos que vêm a partir do luto da criança, deixar que ela fale ou faça homenagens à pessoa que se foi, além dos parentes estarem emocional e fisicamente disponíveis para ela. “No caso de crianças menores, que podem ter dificuldade de entender algumas expressões, é válido falar sobre o luto de forma lúdica.

Rotina e saúde emocional

A rotina pode ser uma grande aliada da saúde mental, pois a previsibilidade ajuda a reduzir a ansiedade. Com as crianças, a lógica é a mesma. Manter uma rotina faz com que elas se sintam mais seguras. “Uma vez que elas sabem o que vão fazer durante o dia, dificilmente vão se sentir ansiosas e isso também vai ajudá-las a lidar com as regras do ambiente. Essa prática da rotina também influencia o desenvolvimento da autonomia, o que pode refletir em outras fases da vida, com esse comportamento formando adolescentes e adultos com uma facilidade para organização”, afirma a psicóloga.

Durante a pandemia, é interessante criar uma rotina com horários pré-definidos para refeições, estudo, brincadeiras, atividades e sono de qualidade, sempre respeitando a faixa etária de cada criança. Contudo, Brenda destaca a importância de que a rotina seja algo flexível, pois a criança pode ter dificuldades de se adaptar a alguma tarefa, dependendo da sua idade. “De fato, é importante que a criança cresça com a percepção de que regras são necessárias, mas ter flexibilidade e saber se adaptar a novas situações também faz-se importante”, explica.

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