O home office já é uma realidade com a pandemia. O que esperar deste modelo de trabalho no futuro?
Vagner Cavalcanti Ribeiro, Mestre em Administração, Diretor Operacional da Unidade Piracicaba e Coordenador de Pós-graduação em Gestão do UNISAL, fala sobre a mudança que a pandemia trouxe e o que pode se esperar disso no futuro.
atualizado
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O home office é um modelo que enfrentou resistência e até certo preconceito no ambiente corporativo, mas foi a única alternativa para manter a produtividade da maioria das empresas durante a pandemia de covid-19. O trabalho remoto, também conhecido como home office, ganhou espaço no Brasil devido às recomendações de quarentena e isolamento social. Sem poder reunir todos os colaboradores no mesmo escritório, o jeito foi deixá-los trabalhando de casa para evitar um cenário ainda pior diante das incertezas econômicas também provocadas por esse cenário. Apesar do receio, o que se viu foi uma completa adaptação dos brasileiros a essa rotina de trabalho em casa – a ponto de ser uma tendência esperada para o futuro próximo.
A maioria das mudanças é esperada no setor de serviços e em áreas de gestão. Outros setores, como indústria, agricultura, supermercados e comércio de rua ainda manterão os padrões atuais de trabalho. As empresas que conseguem adotar o home office, contudo, aproveitam uma série de vantagens, como a maior flexibilização, redução de custos, otimização de atividades, diminuição do uso de recursos, retenção de talentos e maior produtividade, sem renunciar à qualidade dos produtos ou serviços. Paralelo a isso, os funcionários diminuem o estresse e o tempo perdido nos deslocamentos diários, ficam mais próximos da família, melhoram os hábitos de saúde e ganham qualidade de vida.
É um modelo em que todos saem ganhando. Várias empresas perceberam isso e confirmaram que continuarão com atividades remotas até o fim do ano, independentemente do fim da pandemia e do setor de atuação. Contudo, ainda é cedo para afirmar que as empresas e os colaboradores estão prontos para adotar definitivamente esse modelo. A maioria das organizações não adotava essa rotina de trabalho e precisaram não só se adaptar, mas investir em equipamentos e tecnologias. Ainda há um longo caminho para que o home office se torne efetivo, mas esta mudança brusca e repentina certamente foi o primeiro passo.
Para dar certo, as empresas precisam orientar os colaboradores para o cumprimento de horários previamente estabelecidos. Além disso, é preciso conscientizar o profissional, alertando para a importância da organização, do foco, do bom ambiente em casa (sem barulho ou distrações) e do respeito aos cronogramas, além de manter os gestores informados e continuar com networking para reforçar o engajamento entre as equipes.
Sem dúvida, já é uma realidade bem diferente da enfrentada pelas empresas brasileiras antes da pandemia de covid-19. No país, houve uma demora na adoção do trabalho remoto por fatores culturais arraigados (e antiquados), baixa qualidade de acesso à internet e uma legislação trabalhista engessada. Neste último item, pode-se acrescentar a demora do Poder Legislativo em identificar as tendências de mercado e adaptar as leis para atender às relações de trabalho. Assim, muitas organizações esperam uma atualização das leis trabalhistas para prosseguir com esse modelo. É necessário abordar temas como horas extras, horário diferenciado, adicional noturno, ajuda de custo, registro de ponto, manutenção de equipamentos, despesas adicionais, benefícios, entre outros ajustes. São mudanças que evitarão um possível aumento no número de demandas trabalhistas no Poder Judiciário e que garantem segurança para todas as partes.
Por mais que várias empresas já praticassem o home office em todo o mundo, a verdade é que nunca houve um movimento tão intenso, com tantas organizações e colaboradores aderindo a ele ao mesmo tempo. Nesse processo, a principal recomendação é aprender a adotar regras de trabalho, identificar as melhores ferramentas de produtividade, estabelecer controles e metas e manter a transparência em todas as medidas. Além da adequação da cultura organização, é preciso se adaptar ao “novo normal” nas relações de trabalho – o que só será alcançado com bom senso e participação de todos os envolvidos.