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A pandemia do Coronavírus surgiu de repente, sem aviso e sem orientações, de acordo com a médica Aline da Fonseca Maia da Silva, que junto com os colegas anestesiologistas foi lançada, segundo o que presenciou, ao que mais parecia uma guerra. “Fomos colocados na linha de frente para cuidar, intubar e tratar de pacientes contaminados, sendo muitas vezes tirados do centro cirúrgico e realocados para UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) e hospitais de campanha”.
Por ser uma doença nova, sem nenhum conhecimento, e uma ameaça real para todos, a doutora conta que os profissionais de saúde foram buscando equipar-se com EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e aprendendo a se proteger como podiam. “No centro cirúrgico, anestesiamos pacientes positivos confirmados ou não com um protocolo de intubação para evitar a contaminação de todos na sala cirúrgica. Com o tempo foram diminuindo os casos, mas continuamos sempre alertas, pois a doença ainda está sem cura ou vacinas, então seguimos cautelosos e ainda muitas vezes assustados”.
Em balanço feito pelo Ministério da Saúde no final do mês de agosto de 2020, a pandemia já havia vitimado, desde o início, 257 mil profissionais de saúde com a contaminação da Covid-19 e já tinha levado a óbito 226 profissionais da área. “No dia a dia da linha de frente os médicos lutam contra vários riscos que podem custar vidas, a do próprio profissional e de quem ele ama. O medo de levar a doença para casa ou de ser infectado é grande e ver colegas de profissão falecerem só aumenta o sentimento de temor”. Aline reforça que no caso dos anestesiologistas, que têm o manejo direto das vias aéreas do paciente, os riscos são altíssimos, especialmente nos processos de intubação e extubação dos pacientes contaminados.
Para a médica, talvez não ocorreriam tantas perdas de colegas de trabalho caso os hospitais tivessem fornecido os EPIs necessários, em quantidades adequadas, desde o início da pandemia. “Outro fator determinante poderia ter sido a disponibilidade de aulas sobre os protocolos para a Covid-19. Enfim, tivemos um grande desafio que foi lidar com uma nova doença sem informações e sem equipamentos repassados com velocidade”.
Mas por qual motivo essa especialidade médica ficou tão em evidência e foi tão requisitada nesta pandemia? A doutora explica primeiramente que o anestesista é o responsável pela aplicação de medicamentos anestésicos durante um procedimento cirúrgico, evitando ou diminuindo a dor do paciente e monitorando todo este processo até o final da cirurgia. “Com a Covid-19, o médico anestesiologista tem sido muito necessário justamente por ser dele a habilidade maior de intubação e manejo das vias aéreas, tão prejudicadas em pacientes com Coronavírus, que em inúmeros casos evoluem para situações graves que precisam destes procedimentos para continuar respirando e ter a chance de recuperação”.
Ver os pacientes curados, retornando às famílias em condições saudáveis e com uma nova chance de vida, porém, é o que motiva Aline a seguir os dias sabendo que tem feito a diferença na história de muitas pessoas. “Com o estímulo de pacientes recuperados, sigo forte com a esperança de que, em breve, teremos uma cura definitiva ou vacinas que possibilitarão que as coisas voltem ao normal”.
Para uma futura pandemia, a médica afirma ser imprescindível não cometer os mesmos erros de demora nos protocolos e equipamentos, sendo recomendável a disponibilização de kits de EPIs e instruções de proteção já preparados para a rápida distribuição para todos os profissionais que atuam nas linhas de frente. “Se em um futuro evento usarmos esses novos protocolos, certamente as infecções serão drasticamente menores comparadas com a da pandemia atual”, finaliza.